Callisto Inacio Gouillard
::-=Callisto e Inácio Xanthopoulos — Seleção de Jean Gouillard=-:: Método e regra pormenorizada, inspirada nos santos, para uso dos que escolheram a vida hesicasta… 8. O princípio de toda atividade agradável a Deus é a invocação, cheia de fé, do Nome salvador de Nosso Senhor 1). É ele quem nos diz: “Sem mim, nada podeis fazer” ( Jo 15,5 ). Depois, a paz, pois se deve “orar, diz ele, sem ira e sem animosidade” ( lTm 2,8 ); e a caridade 2)), porque “Deus é amor” e aquele “que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” ( 1Jo 4,16 ). A paz e a caridade 3)) não somente tornam a oração 4)) agradável a Deus, mas, por sua vez, nascem da oração 5)), come raios divinos iguais e, através dela, crescem e se consomem…
13. Nossos gloriosos mestres e doutores, com muita sabedoria, movidos pelo 6) que habita neles, ensinam a todos nós — principalmente aos que querem aceitar o desafio da deificante hesíquia — que tenhamos por ocupação e exercício contínuos o santíssimo e dulcíssimo Nome; que o levemos, sem cessar, em nosso espírito 7)), em nosso coração 8)) e em nossos lábios…
18. Parece-nos bom e particularmente útil expor primeiro um método natural do bem-aventurado Nicéforo; esse método é relativo à entrada no coração 9)) por meio da inspiração, contribuindo, de certo modo, para o recolhimento do espírito 10)). Esse santo homem diz, entre outras afirmações apoiadas no testemunho escrito dos Padres, o seguinte: … ( segue-se o texto citado em outro lugar ).
19. A intenção primeira do bem-aventurado pai é esta: graças a esse método natural, trazer o espírito 11)) de volta de sua distração costumeira, de seu cativeiro, de sua dissipação, à atenção 12)). E, por meio da atenção 13)), uni-lo a si mesmo; uni-lo, assim, à oração 14)), para fazê-lo descer ao coração 15)) junto com ela e fazer com que ali fixe a sua morada definitiva. Outro sábio, comentando, por assim dizer, essas palavras, explica as coisas do mesmo modo, baseado na própria experiência.
20. É importante acrescentar isto para o espírito 16)) que gosta de se instruir. Se treinarmos nosso espírito 17)) a descer em nós, ao mesmo tempo que a respiração, saberemos então, claramente, que o espírito 18)) que desceu desse modo, não sai antes de renunciar a todo pensamento 19)); antes de se tornar uno e nu, e de ter uma lembrança única: a invocação de 20). Retirando-se para sair, fraciona-se, contra a vontade, na memória múltipla.
23. Fundados na própria experiência desse bem-aventurado exercício, os santos Padres e os doutores recomendam e ensinam àquele que se aplica na sobriedade 21)) espiritual do coração 22)), o principiante, o seguinte: sobretudo que permaneça o tempo todo, e particularmente nas horas marcadas para a oração 23)), num canto sossegado e escuro. A vista distrai e dispersa naturalmente o espírito 24)), entre os objetos vistos e olhados; atormenta-o e diversifica-o. Aprisionado numa cela tranqüila e escura, ele já não será dividido e diversificado, por assim dizer, pela vista e pelo olhar. Assim, querendo ou não, o espírito 25)) vai parcialmente acalmar-se e recolher-se em si mesmo.
24. Mas antes disso, ou mais precisamente, antes de qualquer outra coisa, é por meio do socorro da graça 26)) divina que o espírito 27)) se sai bem nesse combate. É a graça 28)) divina que coroa a invocação monológica dirigida a 29) pelo coração 30)), com fé viva, com toda a pureza, sem distração. Não é o efeito puro e simples do método natural da respiração, praticado em lugar tranqüilo e escuro. Não! Os santos Padres, ao inventarem esse método, tiveram em vista apenas um auxiliar, se posso dizer assim, para recolher o espírito 31)), para trazê-lo de volta, a si mesmo, de sua habitual distração e para que consiga a atenção 32)). Graças a essas disposições, nasce no espírito 33)) a oração 34)) constante, pura e sem distração. Como diz santo Nilo ( Evágrio ): “A atenção 35)) que procura a oração 36)) encontrará a oração 37)). Se alguma coisa vai atrás da atenção 38)), é justamente a oração 39)). Apliquemo-nos, pois, à atenção 40))”. É o bastante. Quanto a ti, meu filho, se desejas passar dias felizes e viver “incorporeamente em teu corpo 41))”, vive conforme a regra que te expus.
25. Ao pôr-do-sol, depois de chamar em teu auxílio o Senhor 42), soberanamente bom e poderoso, senta-te em teu escabelo, numa cela tranqüila e escura, congrega teu espírito 43)) de sua habitual distração e divagação; empurra-o então lentamente para o coração 44)), ao mesmo tempo que a respiração, e aplica-te à oração 45)): “Senhor 46), Filho de Deus, tende piedade de mim!” Explico-me: paralelamente à respiração, introduz, por assim dizer, as palavras da oração 47)), segundo o conselho de Hesíquio: “Une à tua respiração a sobriedade 48)) e o nome de Jesus, e também a meditação 49)) da morte. Pois ambos são preciosos: oração 50)) e pensamento 51)) do Juízo…”
Se as lágrimas não vêm, permanece sentado, atento a esses pensamentos 52)), bem como à oração 53)), durante uma hora mais ou menos. Depois, levanta-te, salmodia atentamente o pequeno apodeipnon ( completas ); senta-te mais uma vez, aplica-te à oração 54)) com todas as tuas forças, com pureza e sem distração, isto é, sem preocupação nem pensamento 55)), nem imaginação 56)), inteiramente vigilante durante meia hora. Para obedecer àquele que disse: “Durante a oração 57)), põe-te fora de todas as coisas, exceto a respiração e a alimentação, se queres ser um apenas com teu espírito 58))”. Faz então o sinal da cruz, bem como em teu leito, senta-te sobre ele, pensa nos fins últimos… pede perdão com fervor… deita-te, sem parar de orar, dócil ao conselho daquele que diz: “que a lembrança de Jesus participe do teu sono” ( Clímaco )…
26. Ao acordares, dá graças a Deus, chama-o ainda uma vez em teu auxílio e recomeça a obra essencial, a oração 59)) pura e sem distração: a oração 60)) do coração 61)). Durante uma hora. É um momento em que o espírito 62)) está, geralmente, tranqüilo 63)) e sossegado. Foi-nos prescrito que imolássemos a Deus nossas primícias, isto é, que elevássemos, por assim dizer, diretamente, o nosso primeiro pensamento 64)) para 65), por meio da oração 66)) do coração 67)). Depois, diz o niésonyktichon ( matinas ) com toda a aplicação e atenção 68)) possíveis. Em seguida, senta-te de novo e ora no coração 69)), com toda a pureza e sem distração, como te mostrei, durante uma hora. E mais, se o Dispensador de todo bem te permitir.
38. Fica sabendo, meu irmão, que todos os métodos, regras e exercícios não têm outra origem e razão, além da incapacidade de orar em nosso coração 70)), com pureza e sem distração. Quando, através da benevolência e da graça 71)) de N.S. 72), conseguimos isso, abandonamos a pluralidade, a diversidade e a divisão e nos unimos imediatamente, acima de quaisquer palavras, ao Uno, ao Simples, Àquele que unifica. É o “Deus unido aos deuses e conhecido por eles” do Teólogo, mas é um privilégio raríssimo…
45. Há cinco obras que honram a Deus, pelas quais devem passar, dia e noite, quem é noviço em 73): a oração 74)), isto é, a lembrança do Senhor 75) introduzida ininterruptamente no coração 76)), pelo nariz, lentamente; expirada em seguida, com os lábios cerrados, sem nenhum outro pensamento 77)) nem imaginação 78)). Isso se obtém por uma temperança geral na alimentação, no sono, nas sensações, exercitada na cela, com humildade 79)) muito sincera. Depois, a salmodia, a leitura do saltério, do Apóstolo, dos Evangelhos, das obras dos santos Padres, principalmente as que se referem à oração 80)) e à sobriedade 81)); a lembrança dolorosa dos pecados 82)) no coração 83)), a meditação 84)) do Juízo, da morte, do castigo e da recompensa, etc; um pequeno trabalho manual, para refrear a acedia. E depois, voltar à oração 85)), mesmo que para isso seja necessário esforço, até que o espírito 86)) esteja treinado em renunciar facilmente às suas divagações naturais, pela conversação única de 87), por sua lembrança constante, por uma inclinação contínua que o leva para o quarto interior, para a região secreta do coração 88)), por meio de um enraizamento perseverante…
48. As palavras “Senhor 89), Filho de Deus” dirigem o espírito 90)), de modo imaterial, para aquele cujo nome enunciam. Pelas palavras “tende piedade de mim”, o espírito 91)) volta-se sobre si próprio, como se não pudesse suportar a idéia de não orar para si mesmo. Quando tiver progredido no amor, através da experiência, ele se vai dirigir unicamente para o Senhor 92), pois terá a certeza evidente do que vem depois ( do perdão de seus pecados 93)) ).
49. Isso explica por que os santos Padres não dão sempre a oração 94)) inteira, mas este integralmente, aquele uma parte, um terceiro outra… conforme as forças, sem dúvida, e o estado de quem ora.
50. ( A oração 95)) do coração 96)) remonta aos apóstolos, quanto aos elementos essenciais e à sua justificação )… Depois, os Padres acrescentaram e ajustaram as palavras salutares: “tende piedade”, sobretudo por causa dos que ainda estavam na infância da virtude 97)), isto é, os principiantes e os imperfeitos… Os adiantados e os perfeitos 98)) podem contentar-se com a primeira fórmula… e às vezes até unicamente com a invocação do nome de Jesus, que constitui toda a sua oração 99))…
52. Essa oração 100)) perpétua do coração 101)) e o que a acompanha não se obtêm sem mais nem menos, com toda a facilidade, ao final de um curto e modesto esforço. Às vezes isso pode ter acontecido por disposição inefável de Deus, mas em regra geral é necessário muito tempo, sofrimento, esforço corporal e espiritual, além de violência contínua.
54. A oração 102)) do coração 103)), pura e sem distração, é a que produz calor no coração 104))…
56. Esse calor elimina os obstáculos que impedem a primeira oração 105)) pura de consumar sua perfeição…
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