Carne Sangue (Jo VI, 26-62)
LOGIA JESUS — COMER MINHA CARNE E BEBER MEU SANGUE — PÃO DA VIDA (Jo VI, 26-62)
VIDE: MANÁ
EVANGELHO DE JESUS: Jo 6:26-60 «Amèn, amèn, eu vos digo, vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes pães e fostes saciados. 27 Trabalhai, não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece para a vida em perenidade, aquele que o filho do homem vos dá. Sim, aquele, o pai, Elohîms, marcou com um selo.» 29 Iéshoua responde e lhes diz: «Eis o trabalho de Elohîms: adirai àquele que ele enviou.» 30 Eles lhe dizem então: «Que sinal fazes, para que vejamos e possamos aderir a ti? Que trabalho? 31 Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: “Ele lhes deu de comer um pão do céu.” 32 Iéshoua‘ lhes diz: «Amèn, amèn, eu vos digo, não foi Moshè quem vos deu o pão do céu; meu pai é quem vos dá pão do céu, o verdadeiro. 33 Sim, o pão de Elohîms, é aquele que desce do céu e dá vida ao universo.» 34 Eles lhe dizem então: «Adôn, dá-nos sempre desse pão.» 35 Iéshoua lhe diz: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome; quem adere a mim não ter á mais sede, jamais. 36 Mas eu vos disse isso e me vistes, mas não aderis. 37 Tudo o que o pai me dá virá a mim; não lanço fora aquele que vem a mim. 38 Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39 Esta é a vontade daquele que me enviou, que eu nada perca do que ele me deu, mas que eu o levante no último dia. 40 Sim, esta é a vontade de meu pai, que todo homem ao contemplar o filho e aderir a ele tenha a vida em perenidade. E eu o levantarei no último dia.» 41 Os Iehoudíms murmuram contra ele porque disse: «Eu sou o pão que desceu do céu.» 42 Eles dizem: «Aquele não é Iéshoua bèn losseph? Conhecemos seu pai e sua mãe! Como diz ele agora: “Desci do céu”?» 43 Iéshoua responde e lhes diz: «Não murmureis entre vós! 44 Ninguém pode vir a mim se meu pai que me enviou não o traz. E eu o levantarei no último dia. 45 Está escrito nos inspirados: “Todos serão ensinados por Elohîms”; assim, quem ouve junto ao pai e aprende vem a mim. 46 Não que alguém tenha visto o pai, senão aquele que está junto a Elohîms. Aquele viu o pai. 47 Amèn, amèn, eu vos digo: Aquele que adere tem vida em perenidade. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. 50 Eis o pão que desce do céu, o homem que o come não morre. 51 Eu sou o pão vivo vindo do céu. Se alguém come deste pão, vive em perenidade. O pão que eu dou é minha carne, para a vida do universo.» 52 Os Iehoudíms discutem entre si e dizem: «Como este pode nos dar a comer sua carne?» 53 Iéshoua lhes diz: «Amèn, amèn, eu vos digo, se não comerdes a carne do filho do homem e se não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. 54 Quem mastiga minha carne e bebe meu sangue tem a vida em perenidade; e eu o levantarei no último dia. 55 Sim, minha carne é alimento verdadeiro, meu sangue é bebida verdadeira. 56 Quem mastiga minha carne, quem bebe meu sangue, permanece em mim, e eu nele. 57 Como o pai vivo enviou-me e como eu vivo pelo pai, assim, quem me mastiga também viverá por mim. 58 Este é o pão descido do céu, não como o que comeram os pais, que morreram. Quem come este pão vive em perenidade.» 59 Ele diz estas palavras ao ensinar em uma sinagoga em Kephar-Nahoum. 60 Ao ouvi-lo, muitos de seus adeptos dizem; «Esta palavra é dura! Quem pode ouvi-la?» 61 Mas léshoua sabe em si mesmo que seus adeptos murmuram contra isto. E lhes diz: «Isto vos faz tropeçar? 62 E se visseis, então, o filho do homem subir para onde estava antes? IDENTIDADE DE JESUS
Roberto Pla: Evangelho de Tomé - Logion 60
Tudo isso vem a ser o mesmo que em outras palavras diz o evangelista João na passagem até certo ponto paralela à da Ceia do Senhor e compendiadora dela, embora sua versão não transcorra por umas vias figurativas tão próprias aos sinópticos e em especial do véu inspirado de Lucas, senão por fundamento mais puramente filosóficos ou discursivos.
Em seu discurso de magistério na sinagoga de Cafarnaum, confirma Jesus a necessidade de comer a carne do Filho do homem, do Cordeiro de Deus, e de beber seu sangue para ter vida eterna; e isto o diz porque seu pão, que é sua carne, é a Vida e quem o recebe tem vida em si mesma.
Jesus diz: “Minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida” (Jo 6,55). Como se dissesse: “Isto é meu corpo, isto é meu sangue”; e de tal carne e sangue do Cordeiro de Deus, o que advém no interior do homem é o ato sagrado de ser um, “fazer-se um” com Cristo; pois está dito: “O que come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele”.
Mas a comida e a bebida do Cordeiro de Deus, o que crê se faz um com a Vida de Cristo — interno — pois a recebe e a toma em si mesmo, e esta prodigiosa e inefável assimilação do Cordeiro “vivo” interior (não do Cordeiro morto, externo), a via por onde o que alcança a fé do Cristo, oculto, próximo, muito próximo de sua alma, de sua mente, mas ainda não descoberto, acha em si mesmo a “presença)” e cruza por ele a porta mística do Reino das ovelhas, em comunhão indissolúvel com o Pastor “vindo” até ele.
Este é o selo e o cumprimento do selo da nova Aliança, o mistério da Unidade gerada pela fecundidade da fé, e que consiste, segundo se disse: (em) “reunir em um aos filhos de Deus que estavam dispersos” (Jo 11,52).
Mas para que tudo isto seja efetivo deve ser entendido em espírito “que dá vida” e não na carne — a envoltura de psique e pó — que “não serve para nada”. A carne e o sangue verdadeiros do Cordeiro “vivo”, exercem sua ação transformadora, pois levam a um novo nascer “do alto”, se se comem em fé e conhecimento, pois elas são Vida eterna e Sabedoria de Deus. Só mediante este alimento será possível ver “ao Filho do homem (oculto) subir a onde estava antes”. O evangelista João insiste nisto quando explica: “As palavras que os disse são espírito e são vida” (Jo 10,63).
