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Plard (HPAS) – Scheffler, influência de Jacob Boehme

HPAS A posição histórica do pensamento de Frankenberg — um pensamento, em suma, medíocre — vem de sua posição entre duas gerações: ele não foi o criador que imprime sua marca em seus discípulos, mas o intermediário um tanto apagado que deu a conhecer a Czepko, a Scheffler, aos amigos de seu círculo, o mundo que havia sido o de Jakob Böhme. Ele havia conhecido em sua juventude (nascera em 1593) o “Philosophus Teutonicus”, sobre quem escreveu duas biografias, a última, notemos, no momento em que Scheffler pensava no Peregrino Querubínico (Exatamente em 1651; ELL., p. 65); eles devem ter conversado frequentemente sobre o mestre humilde e genial cuja imagem Frankenberg, no entardecer de sua vida, evocava pela última vez. Essas duas biografias se distinguem por sua ferveur e pela ingenuidade com que Frankenberg reproduziu piedosamente as lendas mais absurdas sobre a vida de seu amigo. Certamente, homem de um formato espiritual bastante medíocre, ele era incapaz de apreender toda a grandeza de Böhme; contudo, os problemas que atormentavam Böhme também o inquietaram. Ele também buscou compreender o mundo, penosamente, não apenas a alma humana, mas o mundo como “cosmos”, sua criação, seu fim, e o estado sob o qual ele se revela atualmente aos nossos olhos, com suas “qualidades” contraditórias, sua mistura de bem e de mal. Além disso, onde Böhme edificava um sistema, Frankenberg pouco mais fez do que compilar as ideias de seus predecessores. A especulação filosófica, para os homens de sua geração, recebia do desenvolvimento da ciência da natureza um novo estímulo, e um enigma a mais a resolver. Dificilmente se encontraria em Mestre Eckhart uma preocupação com o universo, que ele representa segundo a imagem tradicional de sua época: a terra no centro do céu, o sol nascendo no leste e se pondo no oeste, as sete esferas dos planetas, cuja última é a lua, encaixadas umas nas outras, com a esfera das estrelas fixas ao redor delas 1)). Essa cosmologia, aliás, só o interessa como símbolo do caminho da alma para o céu e dos sete graus de purificação que ela tem que atravessar. O século XVII, ao contrário, sente o mundo como vivo de uma vida própria, da qual a terra não é mais o centro, e o homem, pela primeira vez sem dúvida, é tomado de angústia diante do mistério de sua pequenez. Frankenberg havia emprestado de Giordano Bruno um pensamento que o satisfazia (ELL., p. 57) e cuja pista pode ser detectada na obra de seu amigo Johann Scheffler. Dois epigramas, isolados no resto do livro, afirmam, um que o mundo não é esférico, como se diz (I, 149), o outro que não há no firmamento um, mas sim mil e mil sóis (I, 141). Eles surpreendem tanto mais porque Scheffler, como Eckhart, geralmente só se interessa pelas coisas visíveis como símbolos das coisas invisíveis, e sem dúvida são estas imagens: a esfericidade, esse eterno desequilíbrio, é uma aparência em um mundo tão durável quanto Deus; e os “mil e mil sóis” no céu seriam as inumeráveis almas divinizadas, que podem coexistir em Deus, segundo uma doutrina que reencontraremos. Scheffler não se contenta com uma concepção, por mais vasta que seja, do cosmos:

O mundo é muito estreito, o céu é muito pequeno: Onde encontrarei ainda o lugar de minha alma? (I, 187; cf. I, 78.)

Die Welt ist mir zu an g, der Himmel ist zu klein: Wo wird doch noch ein Raum fur meine Seele sein? (I, 187.) Sem dúvida, essas duas imagens foram sugeridas a ele por uma conversa com Frankenberg sobre Giordano Bruno, das quais elas resumem o ensinamento 2). É esse lado de sua doutrina, na medida em que se pode falar de doutrina, pois trata-se mais de fragmentos de sistemas coexistindo em seu pensamento, que sobretudo agiu sobre Scheffler; ele também vê no mundo a imagem de Deus.

1)
Cf. o sermão Virtutes coelorum movebuntur (Büttner, pp. 257-263
2)
“Para Bruno, o universo é sem limites; toda tentativa de estabelecer um limite absoluto é injustificada, e o universo compreende 'uma infinidade de mundos semelhantes ao nosso, que têm cada um seu centro. Em cada ponto deste universo infinito, a divindade age como a alma interior que abraça tudo e anima tudo' (H. Höffding, História da filosofia moderna, trad. Bordier, Paris, 1926, p. 117)“), ao mesmo tempo em que lhes atribuem um sentido místico. Mas ao lado dessa visão quase científica do universo, encontra-se em Frankenberg o que se designa pelo nome de “pansofia”, e que é o conhecimento secreto, quase cabalístico dos vestígios de Deus (Signaturen) na criação ((Abraham v. Frankenberg, Raphaël oder Artzt Engel, Amsterdã, 1676, p. 20
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