Kolakowski (LKCE) – Daniel Czepko von Reigersfeld
LKCE
Daniel Czepko von Reigersfeld — cujos Monodisticha Silesius teria lido em manuscrito, ou assim geralmente se supõe, em 1651, por intermédio de Franckenberg — expressou em seus poemas a mesma ideia diretriz que organizava o pensamento do Mestre Eckhart e à qual o Peregrino Querubínico daria uma forma perfeita: a alma humana pode conhecer e realizar sua identidade primordial com a substância divina se despojar-se de sua vontade própria e se afogar no “nada” divino. A vontade individual, particular, o desejo de conservar sua própria existência individual, é pecado no sentido próprio do termo. Deus, que não é “algo”, não possui de fato nada que o defina e que o diferencie negativamente das coisas; Deus, vivendo fora do tempo em uma “eternidade parada”, abarca com seu ser cada coisa; ele não se revela em seu ser finito, mas apenas como negação de sua finitude. O homem pode alcançá-lo se atingir o fundo imóvel de sua própria alma, se, superando a atração que o empurra para as coisas e o impulso particularizante de sua vontade, ele repetir em si mesmo a obra da Redenção de Cristo. É impossível conhecer Cristo de forma mediada, ele só se revela à alma como seu próprio conteúdo, mas também, ele mesmo só se realiza como divindade nesse movimento original da alma em direção à theosis unificadora. Assim, da mesma forma, parece, que em Erígena e Eckhart, Deus é a negação da negação, não apenas na ordem do conhecimento, mas também na ordem da existência; não apenas no sentido de que as coisas que são a negação do infinito nos permitem conhecer Deus como sua própria negação, mas também no sentido de que é somente graças à alma humana, que aniquila sua própria singularidade, que Deus estabelece sua existência positiva, da qual o infinito se realiza por meio, de certa forma, da alienação dos indivíduos espirituais e, em seguida, da supressão dessa alienação.
