Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, doutrina
LKCE
Reconstituir a estrutura de pensamento que organiza o aspecto doutrinário da poesia de Silesius não nos isenta, como dissemos, da reflexão hermenêutica. Essa reflexão, inelutavelmente, deve recorrer a uma redução genética, conferindo sentido aos dois esquemas conceituais discordantes e revelando em sua duplicação uma intenção primitiva carregada de uma antinomia oculta. Estamos aqui em terreno movediço, como sempre ocorre na interpretação de símbolos e mitos religiosos. E, como sempre, julgaremos o resultado não pela verificação das hipóteses, mas pelo sentido que os símbolos adquirem após essa redução e pelo grau de inteligibilidade obtido. O esforço hermenêutico cessa quando consegue descrever uma estrutura primordial que explica o conjunto dos símbolos e que, ao mesmo tempo, aspira a ser inteligível em si mesma. Em sentido estrito, nenhuma das interpretações explicativas que conferem sentido aos símbolos religiosos — as de Freud, Jung ou Eliade — é verificável. Elas são boas ou ruins, melhores ou piores; isso depende da capacidade dos esquemas-chave resultantes de interpretar tanto o conjunto dos fatos estudados quanto de se referir a categorias acessíveis por empatia. Essa possibilidade de comunicação empática é algo que a ciência, por vezes, hesita em abordar. No entanto, é impossível que toda comunicação humana não se refira, em última instância, a ela.
