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amigos_de_deus:anstett-atg-nada

Anstett (ATG) – "Nada"

O termo “Nada” na teologia apofática, seguindo Plotino e o Pseudo-Dionísio, não indica uma negação de Deus, mas sim a insuficiência radical de qualquer conceito humano para defini-lo. Como afirma o Pseudo-Dionísio em A Hierarquia Celeste (II, 3): “As negações são verdadeiras quanto aos mistérios divinos, enquanto toda afirmação permanece inadequada.” A distância entre criatura e Criador é tal que tudo o que se pode dizer sobre Ele não passa de aproximação imperfeita. Além disso, nossas tentativas de descrição partem apenas de suas manifestações na criação, enquanto o essencial permanece oculto na “treva misteriosa” do ser divino.

Deus se revelou a Moisés como “Eu Sou” (Êx 3,14), mostrando-se como o Ser de todo ser, inapreensível por definições. Nomear Deus é limitá-lo, pois ele está além de palavras e conceitos. Por isso, chamá-lo de “Nada” não é negá-lo, mas afirmar que transcende toda ontologia. Para unir-se a Deus, a alma deve aniquilar-se, reconhecendo que só no “Nada” divino encontra o verdadeiro Ser.

Eckhart afirma em seus Sermões (III, p.152): “Deus é sem nome, pois ninguém pode falar dele nem compreendê-lo… Se digo que Deus é bom, não é verdade. Eu sou bom, Deus não é bom. Diria mais: sou melhor que Deus, pois o que é bom pode tornar-se melhor, mas Deus está acima de 'bom', 'melhor' e 'o melhor'… Se digo 'Deus é um ser', não é verdade. Ele é um Nada superessencial.” Suso escreve no Livro da Verdade (p.440): “O homem pode compreender que é uno n'Aquele que é o Nada de tudo o que se pode pensar ou expressar - este Nada que chamamos Deus, e que é em Si mesmo o Ser mais essencial.” Tauler adverte em seus Sermões (II, p.81): “Cala-te, blasfemas contra Deus!”, criticando tentativas de louvor conceitual.

A verdadeira sabedoria está em reconhecer a ignorância diante de Deus. Eckhart cita Agostinho: “O mais belo que o homem pode dizer sobre Deus é calar-se, diante da sabedoria e riqueza interior divina.” Chamar Deus de “Nada” não é ateísmo, mas expressão máxima de sua transcendência. Como ensina a tradição apofática, só negando todas as limitações do pensamento humano podemos aproximar-nos d'Aquele que é “mais que ser”, o Nada que é plenitude de tudo.

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