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Adumbratio 3 – Do mediador da primeira produção, ou Adão primitivo.

AKC

I. O Cabalista. — Devemos agora investigar como, neste estado primeiro e de acordo com os nossos dogmas, aparecerá a vossa Trindade e que razão poderemos encontrar entre aquelas que, atribuídas pelos nossos a Adão primitivo, poderão igualmente aplicar-se ao vosso Messias? II. O Filósofo cristão. — Neste estado primeiro, Deus, infinita ipseidade, pode ser designado sob o nome de Pai, frequentemente empregado, aliás, nas nossas escrituras da Nova Aliança. Depois, a Luz que, do Infinito, é influenciada como por um canal no Adão primitivo ou Messias, e unida intimamente a ele, pode suportar a denominação de Filho. Finalmente, o influxo que é enviado deste para as partes inferiores pode reportar-se ao caráter do Espírito Santo. III. Esta mesma ordem de coisas será conservada após o último estado, quando todas as coisas voltarem à sua primeira origem, como diz S. Paulo: I. Cor., xv, f 28: “Quando todas as coisas estiverem sujeitas ao Filho, então o próprio Filho se sujeitará àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.” IV. Mas nos estados intermediários, os conceitos do Pai, do Filho e do Espírito Santo dirigem-se para os outros graus emanativos inferiores, o que, aliás, não é raro nos vossos escritos cabalísticos; por esta queda, eles descem a um nível extremamente inferior, embora por vezes retomem o seu nível primitivo nos tempos de maior iluminação; é assim que eles cumprem a sua ascensão nos dias de festa e do Sábado. V. Cab. — Isto significa simplesmente que as almas, embora distribuídas em diversas classes dos colégios da Divina Academia, encontram-se por vezes num estado tão distante que, embora possuindo por si mesmas um grau de manifestação muito elevado, por exemplo o primeiro, elas só mantêm, pela clareza, o décimo ou vigésimo lugar, assim como a luz do sol que, ao meio-dia, eclipsa a de todos os outros astros, é eclipsada por estes ao crepúsculo. Cada vez, dizem ainda os nossos doutores, que os mais altos descem, são então contemplados pelos objetos inferiores, com a mesma clareza com que o são pelos objetos superiores em tempo ordinário. Pois deves notar que a Divindade em si mesma, ou ipseidade divina, é imutável. VI. F. C. — Pode-se aqui referir o que diz Cristo, em S. Mateus xvi, v 21. “Um momento será quando o Filho do Homem vier na glória de seu Pai, etc.” E em S. Marcos, viii, 38. “Se alguém se envergonhar de mim, (turpitudinem agnoverit in me) e das minhas palavras entre esta geração pecadora e adúltera, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os mais santos dos seus Anjos.” Compare S. Lucas, ix, v 26, onde se pode descobrir a noção de uma ascese semelhante. VII. Pode-se ainda dar o mesmo sentido a esta passagem de S. João, i, 14, onde se diz: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, glória como a do Filho unigênito (unigenitus) recebida do Pai, etc.” É, portanto, neste estado que o Filho será realmente unigênito, enquanto nos outros estados, tudo o que é gerado do Pai é chamado por vós, descendência ou reino. Pode-se referir aqui a esta passagem de S. João, i, 18: “Ninguém jamais viu a Deus; o Unigênito de Deus que está no seio do Pai, etc.” Onde, por Unigênito que está no seio do Pai, pode-se facilmente entender Adam Kadmon, que vós colocais no seio do Infinito. É, aliás, quase comum entre vós dar indiferentemente os nomes das pessoas da Divindade a cada uma dessas pessoas, como fez S. João, iv, 23, 24, onde o mesmo Deus, isto é, o Infinito, é chamado por Cristo: Espírito, depois de ter sido chamado um pouco antes: Pai. E ainda em S. João, v, 26, onde Cristo diz: “Assim como o Pai tem a Vida em si mesmo, etc.” O que também se pode compreender por excelência do Infinito. VIII. Cab. — Concluis, portanto, que esta substância, produzida desde o princípio, não é outra senão o vosso Messias. IX. F. C. — É o que me parece ver nesta passagem de S. Paulo, Ep. aos Colossenses i, 15, onde ele fala de Cristo nestes termos: “Ele que é a imagem do Deus invisível, e o primogênito de toda a criatura.” Esta alma do Messias foi, portanto, unida, desde o instante da sua produção, com a luz da Divindade, a ela comunicada; e foi tanto uma união do intelecto, que consiste em contemplação, quanto uma união da vontade, que consiste em amor. E tudo isto, no mais alto grau de excelência, e na universalidade, tanto das partes quanto dos atos. X. Cab. — Procuremos agora mais a fundo nos vossos escritos, se não se poderia encontrar algumas das coisas atribuídas pelos nossos autores ao Adão primitivo. Diz-se dele, primeiramente, que é Uniprincipiado no Princípio, ou Causa ao mesmo tempo que Produto. (Ver Filosofia Cabalística, acima mencionada, p. 31). XI. F. C. — É o que é dito semelhantemente do Messias, no Evangelho citado há pouco: “O Filho Único que é produzido pelo Pai.” S. João, i, 14. Item, v. 18. “Unigenitus Dei”. S. João, iii, 16: “Na verdade, Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho Único.” Id. ibid. v. 18: “Porque não creu no nome do Unigênito de Deus.” S. João. Epístola i, cap. iv, 9: “Nisto, Deus mostrou a dileção que tem para conosco, pois enviou o seu Filho Único.” XII. Cab. — Em segundo lugar, os nossos filósofos dizem que Adam Kadmon é o instrumento ou Mediador entre todos os seres principiados subsequentes. (Ver Fil. Cabal., p. 32). XIII. F. C. — Falamos da mesma forma do Messias, ou Filho Evangélico. Veja S. João, i, 3: “Todas as coisas foram feitas por suas mãos, e sem ele nenhuma das coisas existentes teria sido feita.” E S. Paulo na sua Epístola aos Efésios, iii, 9, diz também que Deus criou todas as coisas por Jesus Cristo, embora esta expressão, por Jesus Cristo, não se encontre no texto siríaco. Veja ainda S. Paulo. Ep. aos Colossenses, i, 16 e 17, onde ele diz do Filho bem-amado: “E por Ele foi criado tudo o que está no Céu e na Terra, tudo o que é visível e tudo o que é invisível, sejam os Tronos (que outros chamam mercabhoth), sejam as Dominações, sejam as Principados, sejam as Potestades; todas as coisas foram criadas por Ele e Nele. E Ele é aquele que existiu antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem Nele.” E Ep. aos Hebreus, i, 2: “Por Ele, criou o mundo.” Estas quatro espécies de seres celestes são muito bem conhecidas por vós, cabalistas. E é ainda a isto que se referem as palavras do Gênesis, i. 1: Bereshit, No Princípio (isto é, no Messias), Deus criou o Céu e a Terra.“ É por isso mesmo que o definiste: o primeiro dos Doutores na Academia celeste e é o que confirma assim S. João, i, 18: “Ninguém jamais viu a Deus) o Filho Único de Deus que está no seio de seu Pai no-lo fez conhecer a si mesmo.” XIV. Cab. — Terceiro, concordamos em declarar Adam Kadmon, perfeito na Causa perfeita das causas (passagem citada, p. 32). XV. F. C. — O mesmo ainda para o Filho ou Messias. S. Paulo. Ep. aos Hebreus, vii, 28: “O Filho é perfeito na Eternidade.” XVI. Cab. — Quarto, nosso Adão primitivo é chamado o Protótipo ao qual todas as coisas possíveis devem ser assimiladas, como se fossem sua similitude ou imagem perfeita. (Fil. Cabal., p. 35). XVII. F. C. — É o que ainda é alegado do Messias, na Ep. aos Hebreus, i, 3: O Resplendor da glória de Deus e a imagem de sua essência (Vulg. de sua substância). XVIII. Cab. — Quinto, a Causa eficiente perfeitíssima de todas as coisas fez, segundo nós, Adam Kadmon semelhante a si mesma, isto é, fez dele um princípio essencial, e o primeiro em grau perfeitíssimo. (Ibid., p. 37). XIX. F. C. — Dizemos igualmente de nosso Filho gloriosíssimo, como S. João, xiv, 9: “Aquele que me vê, vê meu Pai.” E S. João, xii, 45: “Quem me vê, vê Aquele que me enviou.” XX. Cab. — Sexto, diz-se do Adam Kadmon, que ele é Rei Grande, e de uma infinita elevação, Rei acima dos Reis dos Reis, que ele reina sobre o Rei emanando de si mesmo, e que em razão de sua singular prerrogativa, ele é feito Rei sobre todos os outros Reis. (Ibid., p. 38). XXI. F. C. — Não é apenas de Deus, o Infinito, que habita em luz inacessível, que se diz: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, mas também do Messias. Apocalipse xix, 16: “E o Cordeiro os vencerá, porque ele é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis.” XXII. Cab. — Sétimo, Adam Kadmon é chamado a cogitação suprema (Ibid., p. 38) e o Verbo do Deus único (Ibid., p. 108, no livro Iezirah Mischna, vii, cap. 1). XXIII. F. C. — O que convém sempre ao Messias, o qual é chamado , ou Verbo, S. João, i, v. 1 e 14. E id., Ep.i, cap. i, 1. Verbo da Vida. Id. Apoc. xix, 13. Verbo de Deus. E na Ep. de S. Paulo aos Hebreus, i, 3: “E ele sustenta tudo pela virtude do seu Verbo.” Como se esta designação de Verbo estivesse intimamente ligada, pelo menos, a uma ou outra de suas naturezas. XXIV. Cab. — Este ser principiado é especialmente denominado Adam Kadmon ou Homem primeiro. XXV. F. C. — Pois bem, o mesmo acontece com o Messias, que é chamado Adão por S. Paulo. Ep. aos Coríntios, xv, 45: “Adão, o primeiro homem, foi criado com uma alma vivente (in psychen viventem) e o Adão novíssimo com um espírito vivificante.” E id., ibid., v. 47: “O Primeiro homem formado da terra é terrestre; o segundo homem vindo do Céu é o Senhor.” (Ou o oculto, Tetragrammaton). Embora seja antitético que o Adão Protoplastes, isto é, formado primeiro, seja também chamado de último e segundo, isto, no entanto, é de grande importância na regularidade da aparição e encontra-se plenamente esclarecido por esta passagem do Apocalipse i, 11, onde Cristo diz: “Eu sou Urim e Tumim, o princípio e o fim.” XXVI. Cab. — Nono, nas teorias dos nossos mais célebres Cabalistas, este mesmo Adam Kadmon é chamado corona summa. (Ver Fil. Cabal., citada acima, p. 59.) XXVII. — Encontramos menção deste grau, quando os Anjos, segundo S. Lucas, ii, 14, cantam: “Glória a Deus in SUMMIS, e paz na terra aos homens de boa vontade.” Isto pode ser considerado como as aclamações e as cognominações do Messias. Noutro caso, uma aclamação do Messias encontra-se ainda nestas palavras: S. Lucas, xix, 38: “Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor (e por quem se pode dizer com razão:) Paz no Céu, e glória in SUMMIS.” E é preciso notar que a Coroa suprema não caracteriza por si mesma o Altíssimo e o Infinito; mas ela é como um Diadema ou uma bandeirola envolvendo e velando o Altíssimo. Por isso o Messias é chamado: “Filho de Deus, o Altíssimo.” (S. Marcos, v, 7). e ainda “Virtude do Altíssimo.” XXVIII. Cab. — Décimo, pela palavra: Ancião santíssimo, empregada por Rabi Simeão Ben Jochaí, no livro do Zohar, o mesmo que Daniel (vii, 9) chama o Ancião de Dias, embora uma pequena modificação seja necessária, vemos que se pode entender o nosso Adão primitivo, ou pelo menos o seu produto imediato. (Ver Fil. Cabal., p. 125.) XXIX. F. C. — É o que é evidente por esta mesma visão de Daniel (vu, 13), que nos mostra o Filho do Homem vindo tomar lugar ao lado do Ancião de Dias já citado; ora, estas palavras podem significar a alma do Messias, e a maneira como ela se elevou a este altíssimo grau, e unida com o Ancião de Dias. Por isso é dito mais adiante v. 22, que o Ancião de Dias vem para o julgamento. Este mesmo julgamento é atribuído ao Messias. S. João v, 22. “Porque o Pai a ninguém julga, mas todo o julgamento confiou ao Filho.” Por causa desta mesma união, o Messias é ainda representado como um ancião. Ver Apocalipse i, 14. e o ancião de Daniel é precisamente descrito com palavras quase semelhantes. Esta é a linguagem do profeta: vii, 9. “Sua veste era branca como a neve, e os cabelos de sua cabeça como a lã (branca) mais pura.” E a de S. João (loc. cit.) “Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como lã branca e como neve, etc.” Por S. João também, o Messias, na sua natureza divina, é considerado sentado sobre um trono, e na sua natureza humana, como um cordeiro aparecendo no meio do trono. Apocalipse iv, 2. 3. 10.11. v, 1.6. 7, 13. XXX. Cab. — Décimo primeiro; nosso Adão primitivo também é chamado Macrocosmo, porque contém todas as causalidades da causa primeira (Fil. Cabal. p. 109.) XXXI. F. C. — É por isso também que dizemos de nosso Messias: S. Paulo, aos Hebreus, i, 3, “E ele contém todas as coisas.” Cf. o texto Siríaco, ne aos Coríntios, vi, 18, Apocalipse, i, 8, iv, 8, xi, 17, xv, 3, xvi, 7, 14, xix, 6,15, xxi, 22, onde o Messias é sempre nomeado que contém todas as coisas, o que equivale à palavra grega — pantokrator. Veja ainda S. João, iii, 35. “O Pai ama o Filho, e tudo entregou em suas mãos.” Compare S. João, XIII, 3, e S. Mateus, xviii, 18, onde Cristo afirma ele mesmo: “Todo poder me foi dado, no Céu e na Terra.” XXXII. Cab. — Décimo segundo, Adão primitivo é ainda nomeado o Habitáculo do Infinito, a morada da sua luz infinita, e aproxima-se muito da sua verdadeira similitude ou imagem; de tal sorte que é o tesouro de todas as perfeições que influem e são influenciadas em todas as causas segundas, em todo o tempo e em todos os lugares. (Ibid. p. 110). XXXIII. Também se diz do Messias: S. Paulo, Ep. aos Colossenses, ii, 3. É nele “que estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.” Compare, mesma Ep. ii, 9. e Ep. aos Hebreus i, 3. XXXIV. Cab. — Décimo terceiro, Adam Kadmon é chamado o nome primeiro, como é a primeira letra e por transposição cabalística dos caracteres (Ibid. p. 110). XXXV. F. C. — Como o Messias, que também é chamado Aleph. Apocalipse i, 8, xxi, 6 e xxii, 13. E por transposição , Isaías. ix, 6. XXXVI. Cab. — Décimo quarto: Eis o que ainda se diz do Adão primitivo: Tendo sido feita a contração do Infinito, o primeiro espaço, foi o resultado, e esta mesma vacuidade, lugar de todos os mundos por vir, foi como a substância do homem primitivo, porque recebeu assim uma delimitação exata de si mesma. (Ibid. p. 111). XXXVII. F. C. — É no mesmo sentido que se chama o Messias, ou ò on: Aquele que é, ou que possui uma essência determinada. Apoc. i, 4. 8 e a palavra Sim pode ainda ser tomada no mesmo sentido. Apoc. xi, 17. xvi, 5. XXXVIII. Cab. — Décimo quinto, o que entendes pelo canal sutil pelo qual Adão primeiro recebeu seu influxo do Infinito? XXXIX. F. C. — Assim como, segundo vós, este canal indica a Unidade do Adão primitivo, pois o une ao seu princípio para formar um só ser, absoluto e simples (ibid., p. 48), uma semelhante unidade é atribuída ao Messias: S. João, x, 30. Eu e meu Pai somos Um. S. João, XVII, 11. “Para que sejam Um como nós.” Id. v. 21 e 22. “Para que sejam Um, todos juntos como Tu, meu Pai, estás em mim, e eu em Ti, etc., para que sejam consumados na Unidade.” Disso pode-se convencer ainda pelas passagens seguintes: S. João, x, 38. “Para que saibais e creiais que Meu Pai está em mim, e eu em meu Pai.” Id. xiv, 10 e 11. “Não crês que eu estou no meu Pai e que meu Pai está em mim, etc., Crede que eu estou no meu Pai, e que meu Pai está em mim.” XL. Décimo sexto: A que comparas este espaço que subsiste entre o Infinito e Adão primeiro? XLI. Assim como em vossa doutrina, este espaço, por menor que seja, marca a diferença pela qual a primeira causa de tudo se distingue de suas causalidades (ibid. p. 112), da mesma forma, entre o Pai e o Filho existe uma certa distinção, em virtude da qual o Pai é declarado maior que o Filho. S. João, xiv, 28. “Porque meu Pai é maior que eu.” Pela mesma razão se diz que o Pai ama o Filho, S. João, iii, 35. “O Pai ama o Filho.” E o próprio Cristo o ensina: S. João, v. 20; e ainda se diz que o Pai mostra suas obras ao seu Filho: S. João, v. 20: “O Pai ama seu Filho e lhe mostra tudo o que faz, e ainda lhe mostrará obras maiores que estas.” (Vulg. lhe mostrará). Igualmente, “o Pai dá algo ao Filho”, diz-se pela mesma razão. S. João, v. 26. 27: “O Pai deu ao Filho ter a vida em si mesmo, e lhe deu o poder, etc.” Ou, o que é o mesmo, que o Pai é visto pelo Filho. S. João, vi, 46: “Aquele só que nasceu do Pai vê o Pai.” Semelhantemente, diz-se que o Pai ensina o Filho. S. João, viii, 28. “Assim como meu Pai me ensinou, assim eu falo,” e em muitas outras passagens semelhantes. XLII. Cab. — Décimo sétimo: o que poderás me mostrar de semelhante a estes dez círculos que atribuímos ao nosso Adão primitivo? XLIII. F. C. — Como estes dez círculos atribuídos ao vosso Homem primitivo não são outra coisa senão o símbolo de sua vida (Fil. Cab., p. 112), encontramos que em S. João, i, 4, a Vida é atribuída ao Messias de uma forma toda particular: “Nele estava a Vida, e a Vida era a luz do Filho do Homem” (Vulg., Luz dos homens). E Id.,i, 26: “Assim como o Pai, em si mesmo, é a Vida, assim também deu ao Filho ser a Vida em si mesmo.” Id., xi, 25: “Eu sou a consolação (ou ressurreição) e a Vida.” Id., xiv, 6: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” S. João, Ep. i, cap. i, 1 e 2: “Anunciamo-vos, etc., etc., a palavra da Vida. E a Vida se manifestou, etc., etc., e nós vos pregamos a Vida eterna que está no Pai.” S. João, Ep. i, cap. v. 11 e 12: “A Vida eterna está no Filho. Aquele que tem o Filho tem verdadeiramente a Vida, e aquele que não tem o Filho, não tem a Vida.” Ibid., v. 20: “Ieschua Meschicha é o Deus verdadeiro, e a Vida eterna.” XLIV. Cab. — Décimo oitavo: Adão primeiro é então dividido em dez numerações ou partes de si mesmo (Fil. Cab., página 112) que são de origem eminente, e bem proporcionadas com a causa de que emanam (ibid., p. 83), de tal forma que, estando contidas nele, são como figuras e reproduções de si mesmo (id., página 85). 1° A Coroa suprema, que é como o princípio ideal e primeiro de todas as entidades e que contém em si todos os outros seres. 2° A Sabedoria, que é o princípio de todas as Vidas; 3° A Inteligência, que é o princípio de tudo o que compreende; 4° A Benignidade, que é o modelo de todas as graças; 5° A Severidade, que é o princípio de todas as distribuições de recompensas ou de penas; 6° A Beleza ou Perfeição (pulchritudo) que é o princípio para o qual convergem todas as coisas belas e perfeitas (omnes pulchra); 7° A Permanência, à qual se conformam todas as coisas subsistentes e duradouras; 8° A Glória (Laus), que é o princípio de tudo o que se refere à glória dos seres superiores. 9° O Fundamento, que é o princípio de tudo o que influi para os seres inferiores; 10° O Reino, ou princípio de todas as coisas que recebem dos superiores, e remetem aos inferiores e que, inferiores a si mesmas, procuram assimilar-se aos superiores (Ibid., pag. 86 e 87). Como saberás aplicar isso ao Messias? XLV. F. C. — Dez graus semelhantes são atribuídos ao Messias, e em primeiro lugar os encontramos todos nomeados em geral, no Apocalipse, i, 4, onde S. João escreve: “Graça e paz vos sejam dadas da parte daquele que é, que era e que há de vir, e dos Sete Espíritos que estão diante do seu trono.” Nesta passagem, por “Aquele que é, que era e que virá, pode-se, sem nenhuma absurdez, entender o Filho de Deus, visto que ele próprio é nomeado assim mais adiante: v. 8, e cap. iv, 8, xi, 17 e xvi, 5. Desta maneira são indicadas, in specie, as suas três primeiras numerações: a Coroa, que denota uma entidade sempre presente a si mesma, mas de uma maneira muito oculta; a Sabedoria, incluída inteiramente nos tempos passados, de uma natureza não menos oculta, mas, no entanto, imperfeita, e que não deixará de existir; e a Inteligência que se costuma chamar o mundo que virá (mundus venturus) ou, antes, o mundo que vem (mundus adveniens) visto que ela compreende a conotação das coisas futuras. Notemos aqui que estes três caracteres do tempo são ordinariamente designados no Livro do Zohar e principalmente no Idra Magna, por três tetragrammatas (o que perfaz um total de doze letras, conforme o número do Messias) e é deles que se diz: Salmo x, 16, “O Senhor é Rei perpetuamente e sempiternamente” pelo que é especificado o tempo presente. Em seguida, Salmo xcvii., 1, e, xcix, 1 (Vulg., xcvi e xcviii): “O Senhor reinou” o que marca o tempo passado. E finalmente, Salmo, cxlvi, 10 (Vulg., cvlv). O Senhor reinará na Eternidade. O que marca o tempo futuro. E estes três tetragrammatas, mencionados acima no Idra Magna, são atribuídos ao Ancião santíssimo, o qual não é outro senão Adam Kadmon, como já dissemos: é, portanto, evidente, sem nenhuma inconveniência, que estes três estados superiores de Adão primeiro estão compreendidos sob as denominações propostas. Quanto aos Sete Espíritos que estão diante do seu trono, eles significam sete de suas numerações inferiores, que são aqui espíritos, isto é, conceitos sutis entre todos; e a expressão seu trono, designa comumente uma coisa colocada muito próxima de outra, e imediatamente abaixo, como por exemplo a esposa, em relação ao microprosopo, ou o mundo criado, em relação ao que dele emana; por isso entenderemos aqui o mundo criado. Pois antes que este último viesse, os sete espíritos ou numerações inferiores haviam sido estabelecidas, porque Adão primeiro é como a Alma do mundo emanado, e nela oculta. Por outro lado, atribui-se especialmente ao Messias: 1° A Coroa, no Apoc. ,xiv, 14, como segue: “E vi; e eis que apareceu uma nuvem branca, e sobre esta nuvem branca estava assentado alguém que era semelhante ao Filho do Homem.” Em outra passagem, atribuem-lhe quantidade de diademas: Apoc., xix, 12: “Seus olhos, etc., e sobre sua cabeça havia muitos diademas, e neles estava inscrito um nome que ninguém pode conhecer, exceto ele sozinho.” Conferir aqui o que se diz do Santíssimo Ancião nos livros do Idra; os diademas não significam outra coisa senão os numerosos mistérios que envolvem o Messias, assim como o Ancião de Dias. 2° A Sabedoria é atribuída ao Messias. Ver S. Mateus, xi, 19: “Mas a Sabedoria é justificada (ou collouée) pelos seus adoradores.” (Vulg. pelos seus filhos). E S. Paulo, Ep. aos Colossenses, ii, 3: “No Messias estão escondidos todos os tesouros da Sabedoria.” Apoc., v, 12: Digno é o Cordeiro que foi imolado, de receber o poder, e a divindade, e a sabedoria, e a força, e a honra, e a glória, e a ação de graças.” Embora esses sete atributos possuam outro sentido, eles podem, no entanto, convir às sete numerações inferiores do Messias. Apoc. vii, 12, ainda se diz: “Amém. Bênção, glória, sabedoria, ações de graças, honra, poder e força ao nosso Deus, etc.” Estas aclamações não são muito diferentes das primeiras e ainda convêm às sete numerações inferiores do Messias, embora a ordem seja alterada. Compare, S. Lucas, ii, 47, no texto siríaco, onde ainda se encontra a palavra Sabedoria. 3° A Inteligência ainda se aplica ao Messias na passagem citada, Ep. aos Colossenses ii, 3, onde pela combinação da Sabedoria e do conhecimento, é claramente indicado que se deve entender aqui Binah, e isto ainda emana da passagem da Ep. aos Romanos, xi, 33: “Ó profundidade das riquezas da Sabedoria e da ciência de Deus! etc.” onde, segundo a maioria das opiniões, pode-se entender o Messias. 4° A Benignidade ou Graça é reconhecida como pertencente ao Messias; S. João, i, 14, onde Cristo é dito: “cheio de graça e de verdade.” S. Paulo, aos Romanos, xvi, 20: “Que a graça do nosso Senhor Jesus esteja convosco”, e aqui e ali, em outros lugares, no início e no fim da Epístola. 5° A força da Justiça também lhe é atribuída, como o próprio Cristo diz em S. João, v. 22: “o Pai a ninguém julga, mas todo o julgamento confiou ao Filho.” E S. Paulo, falando no meio do Areópago, Atos dos Apóstolos XVII, 31: “Ele estabeleceu um dia em que há de julgar a terra inteira segundo a justiça, por aquele que para isso constituiu, etc.” Apoc., xix, 2: “porque verdadeiros e justos são os seus juízos, etc.”, onde tudo o que é dito do Messias, antes e depois, vos convencerá facilmente. O Senhor diz a este propósito, de si mesmo: S. Mateus, xvi, 27: “O tempo está próximo em que o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com seus Santos Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras.” Veja ainda, mesmo Evangelho, xxvi, 64; 6° Atribui-se sempre ao Messias a Pulchritudo ou Glória, pois o que os Hebreus chamam , Tiferet, é traduzido na versão dos Setenta por doxa, e na versão siríaca e . Em São Mateus, xxiv, 30, Cristo diz: “Verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do Céu, com grande poder e grande glória.” S. João, i, 14: “E vimos a sua glória, glória tal, etc.” S. João xvii, 5. “E agora, glorifica-me em ti mesmo, meu Pai, com esta glória que eu tinha em ti antes que o mundo existisse.” E muitas vezes em outros lugares ainda; 7° A Vitória é atribuída ao Messias. S. João, xvi, 33. “Mas sossegai a vossa alma, porque eu venci o mundo.” Apocalipse iii, 21. “Ao que vencer, eu o farei assentar comigo no meu trono, assim como eu, tendo vencido, me assentei com meu Pai no seu trono.” Apocalipse v, 5. “Eis que venceu o leão da tribo de Judá.” Apocalipse xvii, 14. “Combaterão com o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá porque ele é o Senhor.” O que deve ser entendido, não da permanência e da resistência no combate, mas na duração; por isso a Eternidade lhe é ainda atribuída: Apoc. iv, 9 e 10: “E quando os Animais davam glória, honra e ações de graças ao que está assentado sobre o trono e que vive pelos séculos dos séculos (fin æva ævorum) os vinte e quatro anciãos prostravam-se, etc., e manifestavam a maior reverência para com aquele que vive pelos séculos dos séculos.” E Apocalipse v, 14. “E os vinte e quatro anciãos caíram sobre os seus rostos, e manifestaram a maior reverência para com aquele que vive pelos séculos dos séculos.” E id. x, 6. “E jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos.” Idem. cap. xv, 7. “E um dos quatro animais dava (Vulg. tinha dado) aos sete anjos, sete trípodes (ignitabula) (Vulg. taças, cálices) cheios da cólera de Deus que vive pelos séculos dos séculos.” S. João. Ep. i, cap. v, 20: “Este é o verdadeiro Deus e a Vida eterna;” 8° Ainda lhe é atribuída a Honra ou glória (Laus). Apoc. iv, 9, onde é empregada a palavra . “E quando os animais rendiam glória, honra e ações de graças Àquele que estava assentado, etc.” Ibid. 11. “Digno é o Senhor nosso Deus, de receber glória, honra e poder.” E cap. v, 12. “Digno é o Cordeiro de receber, etc., honra, etc.” E v. 13. “Àquele que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro (isto é, o Messias segundo as duas naturezas) bênção, honra, glória e vitória (Vulg. poder) pelos séculos dos séculos.” Id. cap. vii, 12. “Bênção, etc., honra, etc., Poder, ao nosso Deus.” Id. cap. xix, 1. “Aleluia, salvação, glória, honra e poder, ao Senhor nosso Deus.” 9° Iesod, ou o Fundamento, é frequentemente chamado pelos Cabalistas, de Justo; ver Provérbios x, 25, onde se diz: “O Justo é o Fundamento do Mundo.” Ora, este nome também é aplicado ao nosso Messias Apoc. xvi, 5. onde o Anjo estabelecido sobre as Águas exclama: Tu és justo, Senhor, etc. Atos dos apóstolos iii, 14. “Vós rejeitastes o Santo e o Justo.” Id. vii, 52. “Aqueles que prediziam o advento do Justo.” Id. xxii, 14. “O Deus de nossos pais te constituiu para conhecer a sua vontade, e para que sejas o Justo.” Ep. ii, a Timóteo, iv, 8. “E depois me está reservada a Coroa da Justiça que o Senhor, ele que é um justo juiz, me dará naquele dia.” 10° Atribui-se, finalmente, o Reino ou Reino ao nosso Cristo: Veja S. Mateus, iii, 2, onde S. João Batista exclama: “Arrependei-vos, porque o Reino do Céu está próximo.” O que é repetido ainda de Cristo, iv, 17 e ibid. v. 23: “Jesus anunciava o Evangelho do Reino.” S. João, XVIII, 36: “Meu reino não é deste mundo, e se meu reino fosse deste mundo, etc.” Finalmente, vestígios das numerações divinas são encontrados em I Cor. xii, 8, 9 e 10: “A um é dada pelo Espírito Santo a faculdade de falar com sabedoria; a outro, pelo mesmo espírito, o dom de falar com ciência; outro recebe a Fé, pelo mesmo espírito (ver prefácio do Zohar, parte 1, p. 123); outro, pelo mesmo espírito, o dom de curar as enfermidades (as enfermidades são classificadas na categoria da Severidade); outro, o dom das forças (virtutes) (ou dom de produzir os sinais e milagres, sobre os quais é preciso ler o prefácio supracitado, parte 1, p. 65); outro, o dom de profecia (ver idem, parte 1, p. 560); outro, o dom de discernimento dos espíritos (dos profetas, id., p. 560); outro, o dom de falar diversas línguas (id., p. 502); outro, o dom de interpretar as línguas (id., p. 730-731).” Embora, nestas diversas passagens, alguns dos nomes citados se refiram a graus inferiores, e o último, em particular, enuncie as numerações do Espírito Santo, de que ele é, de certa forma, a coroa, podemos, no entanto, assegurar que, radicalmente, estão todos contidos em nosso Adão primitivo. XLVI. Cab. — Décimo nono; a que compararás esta linha reta que desce nos círculos de Adão primeiro? XLVII. F. C. — Como esta linha reta significa, segundo vós, o Intelecto de Adão primitivo segundo o qual, por um ato reto e perpétuo, infinitamente perfeito, ele atinge seu fim (Fil. Cab., p. 112), vou, portanto, aplicá-lo à Onisciência atribuída ao nosso Messias. S. João, ii, 25. “Não precisava que ninguém lhe desse testemunho de nenhum filho do homem, porque ele mesmo bem sabia o que há no filho do homem.” S. João, xvi, 30. “Agora sabemos que sabes todas as coisas, e que ninguém precisa te interrogar, etc.” S. João, xxi, 17. “Senhor, tu que sabes todas as coisas, não sabes que eu te amo?” E ainda é preciso acrescentar a passagem da Epístola aos Colossenses, ii, 3.

XLVIII. Cab. — Vigésimo: nossos Sábios ainda dizem que em Adão primeiro estão contidas as quatro plenitudes do Tetragrammaton, a saber: cujo número é 72; cujo número é 63; cujo número é 45; cujo número é 52, pela virtude de seu nome radical de quatro letras, que se encontra nele. (Ver Fil. Cab., p. 112, v. 113, 114, 115). Como aplicam isso ao Messias? XLIX. F. C. — Tenho, a propósito disso, na memória uma certa passagem do livro do Zohar. Parte, iii, col. 341 (que está na página 473 na edição nova, e no códice de Mântua, fólio 229, b.): “Os Doutores da Mishná repetiram muitas vezes que a casa do Santuário e o nome do Messias são chamados pelo nome de Tetragrammaton.” Isso prova, portanto, que o nome de Tetragrammaton é atribuído ao nosso Messias, o que já era evidente, pelos três modos de existência designados sob esses nomes: “Que é, que era e que há de vir”, como dissemos acima. Ora, a seguinte passagem de São João ainda o prova: S. João, xii, 41: “Isaías disse essas coisas quando viu a sua glória (isto é, a de Cristo) e dela falou.” Isaías, pretende ele mesmo ter visto o Tetragrammaton, xvi, 5. S. Paulo, I Cor., x, 4: “Nossos pais todos beberam da mesma bebida do Espírito. Bebiam da pedra do Espírito que ia com eles. Cristo era essa mesma pedra.” Já no Êxodo xvii, 5 e 6, diz-se que o Tetragrammaton se deteve na pedra e que ela foi assim mudada em uma fonte que abeberou o povo; e uma passagem do Zohar (mencionada acima), confirma esse fato: O Pastor fiel começou e disse: Ancião, ancião, uma pedra (petra) é dada e outra pedra ainda é dada. Uma pedra (lapis) é dada, e outra pedra ainda é dada. Uma pedra é dada que é do nome do Tetragrammaton, da qual se diz em Daniel, ii, 35: “E a Pedra que tinha ferido a estátua tornou-se grande como uma montanha e encheu toda a terra. Ora, tudo isso se aplica ao Messias e ao seu reino (Ver prefácio do Zohar, parte, i, p. 20).” E aos Coríntios, x, 9: “Não tentemos a Cristo, como alguns deles o tentaram e foram destruídos por serpentes.” Pois está dito no Êxodo, xvii, 7, que os israelitas tentaram o Tetragrammaton, e em Números xxi, 6, que o Tetragrammaton enviou serpentes entre o povo. Notemos de passagem, já que isso se encontra fortuitamente aqui, que Cristo diz, em S. João, xvii, 6: “Eu fiz conhecer o teu nome aos filhos do homem, tu que, do mundo, os tinhas dado a mim.” Ibid. v. 11: “Pai santíssimo, conserva-os, no teu nome, este nome que me deste.” (Vulg. contrassenso). E id., v. 12: “Eu os conservaria em teu nome.” E vers. 26: “Eu lhes fiz conhecer o teu nome e lhes farei conhecer.” O que pode ser entendido sem hesitação, do Tetragrammaton. Encontramos por acaso uma passagem do Zohar que pode nos servir para esclarecer todas essas questões: (Parte, ii, col. 396 e 361, na edição nova; Códice de Mântua, fólio 221). Diz-se: “Os israelitas nas desgraças do Egito haviam perdido a noção do mistério do nome Santo. Quando veio Moisés, que lhes rememorou novamente esse nome.” Embora aqui se trate do nome , a aplicação não é difícil. Da mesma forma, essas quatro plenitudes do nome Tetragrammaton são consideradas as raízes dos quatro mundos, que provêm de Adão primeiro; assim, a primeira denota o mundo emanativo; a segunda, o mundo criativo; a terceira, o mundo formativo; e a quarta, o mundo factivo; ou, de outra forma, toda a plenitude da Deidade, estendida em todos os sistemas. Por isso S. Paulo diz de Cristo: Colossenses, ii, 9. “Nele habita toda a plenitude da Divindade embora (considerada) corporalmente, isto é, considerada até a última plenitude que caracteriza o mundo corporal, cheio de cascas impuras; e para que isso seja cumprido por Cristo e ele exerça seu domínio sobre todos os seres corporais e sobre as cascas que são seus sinais. Vemos agora vestígios particulares dessas numerações na própria pessoa de Cristo. O primeiro nome significa nuvem. Ora, o símbolo da nuvem aparece muito frequentemente nos mistérios evangélicos; S. Mateus, XVII, 5: “E, enquanto ele ainda falava, eis que uma nuvem luminosa os cobriu.” S. Mateus, xxiv, 30: “E verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do Céu.” Cf. S. Mateus, xxvi, 64 e Atos, i, 9: “E a nuvem os recebeu, etc.” S. Paulo, 1 Cor. x, 1: “Nossos pais todos estiveram sob a nuvem”, que indicava a presença de Shechinah ou do Messias. Apoc., xiv, 14: “E vi uma nuvem branca, e sobre a nuvem, alguém sentado, semelhante ao Filho do Homem.” Nada mais comum, aliás, nos escritos evangélicos do que a intercessão da graça divina que se manifesta por Cristo, como em S. João, i, 17: “A lei foi dada pela mão de Moisés e a verdade e a graça foram trazidas por Jesus Cristo.” E em uma infinidade de outros lugares. Pois já o nome Hesed, que designa esta graça, refere-se ao número 72. O segundo nome, cujo número é 63, está compreendido na palavra ou Ancião, porque é uma das formas sob as quais apareceu o Messias, como dissemos acima. O mesmo número encontra-se também na palavra Nabí, Profeta, que é o insigne epíteto do Messias. Ver Atos iii, 22 e 23: “O Senhor vos suscitará de entre vossos irmãos um Profeta como eu (Moisés), ouvi-o em tudo o que ele vos disser. E se uma alma não ouvir o profeta, esta será exterminada do meio do povo.” S. Lucas, xxiv, 19: “Eles lhe disseram: Quanto a Jesus, este homem de Nazaré, que era Profeta, etc.” S, Mateus, xxi, 11: “A multidão dizia: 'Este é Jesus, o Profeta, etc.'” S. João, vi, 14: “Este é verdadeiramente o Profeta que vem ao mundo.” Quanto aos terceiro e quarto nomes, deve-se notar que Cristo é muito frequentemente chamado o Filho do Homem, em hebraico Ben-Adam, onde a palavra refere-se ao número 45, e a palavra 32 ao número 52. Por outro lado, o primeiro nome significa a Unidade, o segundo a Essência, o terceiro a Vida, o quarto o Intelecto (Fil., Cab., p. 113). Ora, tudo isso pode aplicar-se perfeitamente e em toda a verdade ao nosso Messias, como dissemos. Se agora nos fazem notar que pelos dois últimos números, são representadas a Lei escrita e a Lei oral (Fil. Cab., p. 114), e que, por essa razão, todas as letras estão compreendidas no Adão primitivo (id., p. 76) assim como as 231 revoluções do alfabeto (id., p. 101) que são como o revestimento do Infinito, o que quer dizer a Lei inteira (id., p. 104, v, 105), podemos igualmente mostrar que tudo isso é aplicável ao nosso Messias. S. Mateus, v, 17: “Não pensem que eu vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir.” S. Paulo aos Romanos, x, 4: “Cristo é ele mesmo o Fim da Lei para a justificação de todos os que nele creem.” S. Lucas, xxiv, 25, 27: “Ó homens de pouca inteligência, etc., que demoram a crer em tudo o que os Profetas vos disseram, etc., e começando por Moisés e depois por todos os Profetas, ele lhes explicava tudo o que, nas Escrituras, tinha sido dito sobre Ele.” Ibid., v. 44: “É necessário que se cumpra tudo o que de mim está escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” S. João, v, 39: “Examinai as Escrituras, etc., e são elas que testificam de mim.” Atos dos Ap. x, 43: “E dele testificaram todos os profetas, que todo aquele que crê, etc.” Finalmente, se pela letra ou plenitude primeira do Tetragrammaton, compreendemos em Adão primitivo, seu objeto intelectual, pelo qual subsiste sua Sabedoria; pela segunda letra seu entendimento, por meio do qual se manifesta sua Inteligência; pela terceira seu ato intelectivo (actus intelligendi) fonte de sua Cognição; pela quarta a voz de sua elocução intelectual, que nasce em seu entendimento, e pela qual se manifesta seu Reino, (Ibid., p. 119) quem não verá que tudo isso se encaixa perfeitamente com o nosso assunto? Mas eu tenderia, antes, a entender, pela letra e plenitude primeira, sua sabedoria, ou reunião dos objetos divinos expressos pelas outras plenitudes; pela segunda, superformação ou abertura de seu entendimento; pela terceira, a cognição atual das coisas performadas, de onde nasce a noção da beleza; e pela quarta, o amor dessa beleza, o que é o método ou disposição da eterna academia divina, nisso radicalmente e, consequentemente, formalmente instituída. É nessa informação e cognição que consiste a Vida eterna. Ver S. João, xvii, 3.

L. Cab. — Vigésimo primeiro; cinco graus da alma são atribuídos por nós ao nosso Adão primitivo: 1° Nephesch ou Psique, isto é, esse grau que, no homem, é chamado a vitalidade apropriada ao corpo natural e instrumental, e nomeada por isso vegetativa e sensitiva; o que é a vida do Adão primitivo e se representa por círculos. 2° Ruach, ou o Espírito; é o grau que é chamado no homem, a própria alma, estendida em todo o seu corpo, subsistindo por si e razoável, mas compreendendo as coisas apenas por meio das coisas, e não simultaneamente, mas cada uma a seu tempo; o que é representado em Adão primeiro por sua linha retilínea. 3° Neschamah, ou Entendimento (mens), isto é, o grau que, no homem, é o Intelecto especial comunicado pelo Intelecto geral e divino, que, em um momento, compreende todas as coisas simultaneamente e para sempre, o que é representado em Adão pelo canal sutil por onde se produz o Influxo divino. 4° Chajah ou a Vitalidade; é no homem a própria união desse intelecto comunicado com o intelecto geral e divino do qual é formado, e pela qual ele abraça perfeitamente a soma inteira de todas as coisas inteligíveis, e vive inteiramente da Vida divina; esse grau, em Adão primitivo, é representado pelo influxo do Infinito. 5° Jechidah ou Singularidade: é o grau chamado no homem a unidade ou relação pela qual ele é semelhante à sua causa primeira, que é uma, e da mais extrema simplicidade, com a qual a alma está unida como o ponto do raio com o centro do círculo, para que essa unidade seja como a cabeça, o coração ou o centro do qual depende, e ao qual tende tudo o que é ela mesma, tudo o que está contido nela e tudo o que é produzido por ela. Esse grau é representado em Adão primeiro por sua ambiência infinita.

LI. F. C. — Encontram-se naturalmente alguns traços desse aumento de luz na Alma humana; assim, diz-se que na criança existe Nephesch; na criança, no adolescente ou no homem, onde cresce o uso da razão: Ruach. No asceta que aspira ao grau de santidade: Neschamah; este último sendo análogo ao que se vê no melancólico, que se eleva até a vaticinação (segundo Aristóteles e outros, e segundo a experiência) e também em certas febres ardentes. Nos outros graus, a luz da alma aumenta tanto que ela sai do corpo e realiza certos efeitos extraordinários, comumente chamados hipernaturais ou sobrenaturais, e que são muito raros. Em suma, o mais excelente desses graus, assim como todos os outros, encontram-se em nosso Messias, não tanto formalmente quanto comunicativamente. Como diz S. João, vi, 53, 54, 56, onde ele mesmo fala da manducação de sua carne (o que pode se referir aqui ao primeiro grau, ou Nephesch) e da recepção de seu sangue (o que pode se referir ao segundo: Ruach). Ele fala então da Vida (o que pode se referir ao terceiro grau: Neschamah) e da Vida eterna (quarto grau: Chajah) e finalmente fala da união singular com ele (quinto grau ou Jechidah). Donde se vê que a comunicação desses cinco graus é efetuada. As palavras do versículo sexto, alegadas aqui, são as seguintes: “E Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes (1) o Corpo do Filho do Homem e não beberdes (2) o seu sangue, não tendes a Vida (3) em vós. Quem come verdadeiramente o meu Corpo e bebe o meu Sangue possui a Vida eterna (4) e eu o ressuscitarei no último dia, etc. Quem come o meu Corpo e bebe o meu Sangue permanece em mim (5) e eu nele.” Pode-se ainda atribuir-lhe o corpo, Psique e Espírito, que são os graus ordinários dos ascetas, segundo a 1ª Epístola aos Tessalonicenses v, 23, onde S. Paulo diz: “Que o Deus da paz vos santifique perfeitamente e que todo o vosso espírito e toda a vossa alma e todo o vosso corpo se conservem sem apreensão para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.” O terceiro grau acima do corpo, Mente ou Intelecto especial que em um momento compreende tudo, ainda lhe é atribuído nestas passagens: S. João, ii, 25. “Ele conhecia por si mesmo o que há no Filho do Homem.” S. Mateus, ix, 4. “Jesus, que conhecia os seus pensamentos, etc.” S. Mateus, xii, 25. S. Lucas, v, 22, ix, 47, e S. João, i, 48: “Quando estavas debaixo da figueira, eu te vi.” É esse grau que o Senhor descreve simbolicamente em S. Lucas, xi, 34, 35, 36 sob as alegorias, de olho e de luz da alma: “O teu olho é a lâmpada do teu corpo; se o teu olho for simples, todo o teu corpo será iluminado; se for mau, o teu corpo também será tenebroso. Cuida, pois, para que a luz que há em ti não se torne em trevas. Se, pois, todo o teu corpo for iluminado, sem que nenhuma parte seja tenebrosa, então tudo será luminoso, assim como uma lâmpada que queima, o ilumina.” Depois, o quarto grau encontra-se nele, por essa Vida divina, da qual fala S. João, i, 4: “Nele estava a Vida, e a Vida era a Luz dos filhos dos homens, e a luz resplandece nas trevas, etc.” O quinto, enfim, é essa união singular que descreve S. João, XVII, 21, e v 30: “Não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.” S. João, vi, 58: “Como o meu Pai, que me enviou, é vivo e eu vivo pelo meu Pai, etc.”

LII. Cab. — Vigésimo segundo. Diz-se ainda que do nosso Adão primitivo jorram cinco tipos de luz, a saber: 1° A luz da Cabeça ou do Crânio, que denota sua unidade suprema e seu intelecto imóvel; 2° A luz do Cérebro ou dos olhos, também chamada luz Neküdim, ou pontuada, que denota sua essência; 3° A luz das Orelhas, que denota sua vida; 4° A luz das Narinas, que denota seu intelecto; 5° A luz da Boca, também chamada luz Akudim, ou envolvida, que se diz estar contida como em um vaso, e que denota sua vontade. (Passagem muito citada, p. 120, 125 e seguintes). Essas luzes são como as almas das cinco pessoas emanativas, a saber: 1° o Ancião ou Macroprosopo; 2° o Pai; 3° a Mãe; 4° o Microprosopo; 5° a esposa do Microprosopo. (Passagem citada, p. 130). Que aplicação encontras para isso?

LIII. F. C. — O Filho de Deus, não só no estado de instituição primordial é produzido por essa Luz infinitamente divina que resplandece na Escola suprema (para me conformar ao método que propuseste, tocante às classes divinas, para que possam ser compreendidos a Unidade, a Essência, a Vida, o Intelecto e a Vontade dele e da causa primeira), mas ainda é iluminado no estado de restituição; nada se opõe, portanto, a explicar essa Luz pelo Espírito Santo, esse terceiro grau da Divindade exposto no Evangelho, que é o influxo diviníssimo comunicado às partes inferiores, para que sejam levadas por ele à cognição e ao amor, isto é, a união com a causa primeira. E da mesma forma que essa luz original, elas se dirigem para o Infinito por esse canal tênue e sutil. Assim fala S. João, do Espírito Santo original, xv. 26: “Esse Espírito da verdade que procede do meu Pai.” E xiv, 26: “O Paráclito (ou Advogado), o Espírito Santo que foi enviado pelo meu Pai em meu nome vos ensinará todas as coisas.” Assim como essa luz é atribuída a Adão primitivo, este Espírito Santo é chamado também o Espírito de Cristo. S. Paulo, Ep. aos Romanos, viii, 9: “Se o Espírito de Deus habita verdadeiramente em vós. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, ele não é de forma alguma dele.” É ainda chamado o Espírito do Filho, quando S. Paulo diz aos Gálatas, iv, 6: “E porque sois filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho em vosso coração, e que clama: Aba! nosso Pai.” S. João, xvi, 14, onde Cristo diz, falando desse Espírito: “Ele me glorificará porque virá de mim.” Agora, fala-se especialmente da primeira luz, que é a luz do Crânio, nesta passagem de Isaías, xi, 2, onde é chamada Espírito do Senhor: A segunda, ou luz dos Olhos, que se refere ao Pai, é chamada, na mesma passagem, Espírito de Sabedoria: A terceira, ou luz das Orelhas, que se refere à Mãe, é chamada (aqui), Espírito de inteligência: A quarta, ou luz das Narinas, que se refere ao Microprosopo, é chamada Espírito de conselho, espírito de força, espírito de cognição, e finalmente a quinta, ou luz da Boca, que se refere à Esposa, é chamada Espírito do temor do Senhor.

LIV. Cab. — Vigésimo terceiro. Diz-se ainda que cinco mundos estão contidos em nosso Adão primeiro, a saber: 1° O mundo do Infinito, que ele constitui ele mesmo; 2° O mundo da Emanação, de quem ele é ele mesmo a alma. E depois os três mundos inferiores que são o lugar de seu corpo: 3° O mundo da Criação, que é semelhante à sua cabeça; 4° O mundo da Formação, que é o seu corpo e os seus braços; 5° O mundo da Modalidade de ação (mundus factionis), que são as suas pernas e as suas partes vergonhosas. (Ver p. 130, 131, loc. cit.). Que aplicação podem fazer disso ao vosso Messias?

LV. F. C. — Não faltam passagens que se referem a isso; esta de S. Paulo, por exemplo, Ep. aos Efésios, i, 23: “A Igreja é o corpo e o complemento Daquele que cumpre tudo em todos, e ibid., iv, 10. Aquele que desceu é o mesmo que Aquele que subiu acima de todos os dois, a fim de preencher todas as coisas.”

LVI. Cab. — Vigésimo quarto: Acrescentarei aqui como corolário que não resta agora nenhuma dúvida de que, por Adam Kadmon, nossos Sábios quiseram entender o Messias. Citarei aqui um dos maiores escritores cabalistas: Rabi Jizchak Loriens, da Alemanha, que, em seu tratado manuscrito: Seder Asiluth, ou resumo da ordem do sistema emanativo, fala assim: “O nome de Jacó é formado das letras , como se dissesse, o decenário do calcanhar, isto é, os dez raios de luz inseridos no calcanhar, que é o mundo factivo; porque então no calcanhar do Messias que é Adam Kadmon, encontrar-se-á muita impudência. E depois disso, seus pés pararão no Monte das Oliveiras e sua estatura será aperfeiçoada (Conferir Atos, i, 12 e 9), pois é dele que se diz: 'E eis que meu servo será cumulado de inteligência; ele será exaltado e subirá ao mais alto da glória (Isaías, lii, 13).'”

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