Mas as consequências dos desvios do homem não só subdividiram as virtudes temporais dos seres da criação, como também levaram a Divindade a mostrar apenas sucessivamente as virtudes da sua própria essência a este Ser culpado, e isso é uma nova prova do amor que tem por ele, já que o homem, não tendo mais a força necessária para contemplar a unidade divina sem perigo, ela se divide, por assim dizer, em seu favor, para que ele tenha sempre alguns meios de reconhecê-la e para que ela não o deslumbre, como aconteceria se se apresentasse a ele em todo o seu esplendor. Quadro natural…: IX
A lei que rege este tipo de eleições é semelhante à lei que constitui a própria Divindade: tem por base a propriedade sagrada das faculdades do primeiro princípio e a ordem numérica que atua sobre todos os Seres que devem representá-las. Propriedade coeterna com a essência suprema, e da qual não pode haver outra razão senão a sua existência, uma vez que essa razão e a sua existência são uma e a mesma coisa. E é somente por meio desse conhecimento que poderíamos compreender o que chamamos de liberdade nesse grande Ser. Quadro natural…: IX
Embora a ajuda que a Sabedoria suprema concede ao homem seja uma consequência necessária do amor que a constitui, ele ainda deve pedir-lhe a força mesma para fazer uso dela, deve empregar todos os Poderes do seu Ser, para que a sua ajuda não lhe seja dada em vão. Pois essa Sabedoria, exigindo sempre do homem um trabalho, impõe assim uma condição às suas graças, cabe então à vontade do homem determinar a sua eficácia; finalmente, semelhantes a esses traços de luz colorida, que se prolongam quando encontram meios demasiado divididos e fracos para poderem apoiar-se e refletir-se, os raios supremos batem inutilmente sobre o homem e deixam-no muito atrás de si, quando ele não tem em si nenhuma base para os fixar. Quadro natural…: IX
Exponhamos uma terceira lei igualmente indispensável: se, pela sublime destinação em que se funda a origem do homem, era necessário que, mesmo após o seu crime, as virtudes da Sabedoria chegassem visivelmente até ele e se encarregassem de lhe traçar o seu modelo, era ainda necessário que os depositários desses dons o instruíssem sobre os caminhos pelos quais ele poderia regenerar-se em seu estado original. Era necessário que esses Agentes cumprissem sua destinação por meio de atos sensíveis, uma vez que habitavam junto a um Ser sensível e obscurecido por sua matéria; era necessário, finalmente, que colocassem esse homem em condições de exercer e transmitir aos seus semelhantes os dons e conhecimentos que receberam deles, tanto para a instrução e benefício dos outros homens quanto para o seu próprio; o que nos leva a reconhecer a necessidade de um culto sensível e físico na Terra e nos revela, ao mesmo tempo, o objetivo pelo qual existem os Eleitos que foram privilegiados. Quadro natural…: IX
Na sua verdadeira definição, um culto não é mais do que a lei pela qual um Ser, procurando apropriar-se das coisas de que necessita, aproxima-se dos seres para os quais a sua analogia o chama a cada instante, e foge daqueles que lhe são contrários. Assim, a lei de um culto é baseada em uma verdade primeira e evidente, ou seja, na lei que resulta essencialmente do Ser dos Seres e de suas respectivas relações. Quadro natural…: IX
Ora, sendo reconhecida a analogia entre o nosso Ser intelectual e as outras Virtudes da Divindade, e provando-se, além disso, que existe fora de nós uma fonte de pensamentos falsos e desordenados que nos obcecam e fazem com que o espírito do homem esteja, por assim dizer, exposto a tantas doenças quanto o seu próprio corpo, segue-se que as nossas relações naturais com as Virtudes divinas nos colocam em relação a elas na mesma dependência e necessidade em que se encontram nossos corpos em relação às substâncias alimentares; segue-se que, para essas Virtudes divinas, estamos igualmente sujeitos a um culto ou a uma lei, que nos proporciona, por parte delas, o socorro que esperamos; segue-se, finalmente, que, tendo que curar ou preservar nosso Ser das influências intelectuais que nos são prejudiciais, assim como nossos corpos das influências corporais malignas, devemos, por uma necessidade evidente, buscar a ajuda análoga a essa necessidade intelectual e empregá-la ativamente quando a encontrarmos. Quadro natural…: IX
Só pode ser a falta dessas reflexões que levou, em todos os tempos, os homens de diversas religiões à indiferença em relação a esses objetos; e os levou não só a negligenciar as substâncias, os tempos e as formas que devem entrar no seu culto, mas também a própria oração, sob o pretexto de que o Ser supremo não precisa dela e que basta aos homens não fazer o que chamam de mal, enquanto que a oração é para o seu Ser intelectual o que a respiração é para o seu corpo. Quadro natural…: IX
Ele só poderá alcançá-la quando seu ardor pela verdade fizer surgir nele desejos violentos; quando votos e movimentos, por assim dizer criadores, se elevarem de todas as faculdades de seu Ser, subirem até a fonte da luz e, depois de receberem a unção salutar e sagrada, lhe trouxerem essas influências vivificantes, que devem germinar nele os tesouros da Sabedoria e da Verdade. Quadro natural…: IX
Mas, ao derivar o culto do homem, de suas necessidades e da necessidade de combater o obstáculo que lhe serve de barreira, eu pareceria admitir uma multiplicidade incontável de cultos diferentes: já que, em geral, o homem, estando exposto a necessidades tão diferentes e variadas em seu Ser intelectual quanto em seu Ser corporal, querer prescrever uma lei uniforme para esses diferentes tipos de necessidades seria ir contra a ordem e contra a razão. Algumas palavras bastam para eliminar essa dificuldade. Quadro natural…: IX
Se a unidade de um culto é uma verdade incontestável e fundamentada na própria unidade daquele que deve ser seu objeto, essa unidade não exclui a multiplicidade dos meios aos quais a infinita variedade de nossas necessidades nos obriga a recorrer; então, esse culto poderia receber inúmeras extensões nos detalhes e não deixar de ser perfeitamente simples e sempre uno em seu objeto, que é aproximar de nós o que falta ao nosso Ser e o que é necessário à sua existência. Quadro natural…: IX
Na idade madura, o homem sábio, tendo ideias mais justas sobre a Divindade, não tarda em reconhecer que aqueles que foram seus deuses na juventude são, assim como ele, enfermos e impuros, que também estão na dependência de um Ser inteligente e invisível, que se revela a ele pelo pensamento e que lhe faz compreender que ele recebeu a vida e a inteligência apenas para manifestar, por sua vez, os títulos do seu verdadeiro Autor. Quadro natural…: IX
Ele compreende então que, sendo ele mesmo responsável por sua obra, cabe a seus próprios esforços produzi-la e a sua própria inteligência dirigi-la; que o Ser supremo, sendo puro e sem mancha, deve ter ministros puros e incorruptíveis, nos quais a confiança do homem possa repousar sem risco e sem inquietação. Quadro natural…: IX
Apesar da superioridade de um culto sobre os outros cultos, talvez toda a Terra participe dos direitos que distinguem o culto perfeito; talvez, em todos os povos e em todas as instituições religiosas, haja homens que encontram acesso à Sabedoria e, longe de querer diminuir o número dos verdadeiros Templos do Eterno, devemos acreditar que, após os dons universais que Ele espalhou sobre a nossa morada, não há nenhum homem na Terra que, se quisesse, não pudesse servir de Templo a este grande Ser. Pois, onde quer que o homem vá, por mais isolado que esteja, há sempre três juntos; e este número é suficiente para constituir um Templo. Quadro natural…: IX
Ela é viva por si mesma e tende apenas a multiplicar infinitamente a ordem e a vida que existem nela. É a única pela qual o homem pode adquirir uma ideia verdadeira e íntima do seu Ser, tanto no seu estado atual como no seu estado futuro. É a única que expande ao mesmo tempo todas as faculdades do homem. Quadro natural…: IX
Do ponto em que chegamos, o leitor pode ver se estender o quadro das relações que existem entre Deus, o homem e o universo; uma vez que o culto verdadeiro e os agentes encarregados de difundi-lo não tiveram outro objetivo senão restabelecer a harmonia entre esses três seres, mostrar ao homem o uso de todas as substâncias da Natureza e suas propriedades; pintar-lhe visivelmente aquelas que estão nele mesmo e que, combinadas com todas as outras virtudes naturais, devem ser a imagem e a expressão completa do grande Ser de quem tudo descende. Quadro natural…: IX
Mas quando o homem recebe a impressão intelectual correta, ele não pode cair nos mesmos erros, porque a ação do Ser intelectual puro, sendo sensível, traz consigo a prova de sua simplicidade, de sua unidade e, consequentemente, de sua realidade. Veríamos, portanto, que essa realidade, encontrando-se apenas no Ser puro e verdadeiro que dela é depositário, é somente nele e somente por ele que podemos aprender a conhecê-la. Quadro natural…: IX
Esses Agentes tiveram que iniciá-lo nos atos que eles mesmos exerciam, uma vez que esses atos foram instituídos apenas para ele; para ajudá-lo a separar de si mesmo o que contraria sua verdadeira natureza e a aproximar-se do que falta à perfeição e à vida de seu Ser; que para finalmente devolver-lhe a visão das suas Virtudes, que ele deveria contemplar na sua unidade durante o seu estado glorioso, e colocá-lo em condições de as expressar em seguida na sua pureza, e de cumprir assim, ao mesmo tempo, o seu destino e o Decreto que o primeiro dos Princípios pronunciou sobre ele, quando lhe deu a existência. Quadro natural…: IX