SMTN
E, com efeito, se a vida ou o movimento fosse essencial à matéria, não teria sido preciso, como fizeram os mais famosos Filósofos, pedir, para formar um Mundo, matéria e movimento; pois, a partir desse princípio, ao obter uma, teriam necessariamente a outra. SMTN: II
Podemos, então, conceber algo mais disforme do que um ser cuja vida é fundada nas vicissitudes, na destruição e na morte; do que um ser que, como a matéria, como o tempo, como o Saturno da Fábula, só existe alimentando-se de seus próprios filhos; que não pode conservar uma parte sem sacrificar a outra; em uma palavra, que não pode manter sua existência senão fazendo-os devorar seus próprios irmãos? SMTN: II
É aqui o lugar de observar os resultados de todas as pesquisas que foram feitas sobre Deus e sobre a matéria. Em todos os tempos buscou-se saber o que é a matéria, e ainda não se pôde concebê-la: há mesmo línguas muito eruditas que não têm palavras para exprimi-la. Ao contrário, entre aqueles que tomaram Deus como objeto de suas reflexões, não há nenhum que tenha podido dizer o que Ele não era; pois não há denominações positivas, exprimindo um atributo real ou uma perfeição, que não convenham a esse Ser universal,1 já que Ele é a primeira base de tudo o que é. E se os homens lhe dão às vezes denominações negativas, tais como Imortal, Infinito, Independente, veremos, ao examinar seu verdadeiro sentido, que elas exprimem atributos muito positivos, pois, com efeito, essas denominações só servem para anunciar que Ele está isento das sujeições e dos limites da matéria. SMTN: II
Se essas expressões parecerem embaraçosas ao leitor, e se desejar a explicação, rogo que não a peça aos calculadores da matéria, eles não conhecem as relações positivas das coisas. SMTN: II
Indicamos suficientemente como o homem poderia ter se convencido da existência imaterial de seu Ser; e da do Princípio supremo; e o que devia observar para não confundir esse Princípio com a matéria e a corrupção, nem atribuir às coisas visíveis essa Vida imperecível, que é o mais belo privilégio do Ser que não teve começo, e do qual suas produções imediatas apenas participam pelo direito de sua origem. SMTN: II