De fato, o homem escolhido pela Sabedoria suprema para ser o sinal de sua justiça e de seu poder, devia conter o mal em seus limites e trabalhar sem descanso para devolver a paz ao Universo. E sua sublime destinação anuncia suficientemente quais devem ser suas virtudes, pois ele só devia possuir todas as forças repartidas entre todos os Seres rebeldes. Quadro Natural…: VII
De fato, a Sabedoria suprema sendo a única fonte de tudo o que existe de verdadeiro, se nada pode ser que não venha dela e que não esteja ligado a ela, desde que um Ser verdadeiro existe ele é necessariamente sua imagem: ora, essa fonte universal nunca suspendendo a ação pela qual se reproduz a si mesma, nunca cessa consequentemente de reproduzir universalmente suas próprias imagens. Para onde poderia então o homem ir que não as encontrasse e que não fosse por elas cercado? Em que exílio poderia ser banido, que não trouxesse alguma marca delas? Quadro Natural…: VIII
Uns, encarregados apenas de sua própria regeneração, não têm, por assim dizer, senão que contemplar o quadro dos socorros que a Sabedoria suprema lhes apresenta, e tentar aplicar a si os frutos. Outros, destinados a espalhar esses socorros, devem ter forças maiores e dons mais amplos. Quadro Natural…: VIII
Assim, não se poderia saber por que certos homens têm tais ou tais tipos a manifestar por preferência a outros homens, sem conhecer antes a lei numérica à qual a Sabedoria suprema submeteu sua origem: ou melhor, seria preciso saber por que as faculdades divinas são elas mesmas diversas, embora intimamente unidas e para sempre inseparáveis; por que enfim o pensamento não é a vontade, a vontade não é a ação, a ação não é nem o pensamento, nem a vontade. Quadro Natural…: VIII
É preciso portanto, segundo a ordem da imutabilidade divina, que a Sabedoria suprema tenha apresentado a esses Eleitos privilegiados sinais ativos, marcantes e diretos dessas virtudes e faculdades pelas quais o homem deve começar o curso de sua regeneração. Quadro Natural…: VIII
Embora os socorros que a Sabedoria suprema concede ao homem sejam uma consequência necessária do amor que a constitui, ele deve ainda lhe pedir a força mesma de fazer uso deles, deve empregar todas as Potências de seu Ser, para que seus socorros não lhe sejam dados em vão. Pois essa Sabedoria exigindo sempre do homem um trabalho, põe por isso uma condição a suas graças, cabendo à vontade do homem depois determinar sua eficácia; enfim, semelhantes a esses traços de luz colorida, que se prolongam quando encontram meios demasiado divididos e fracos para poder se apoiar e se refletir, os raios supremos batem inutilmente sobre o homem e o deixam longe atrás de si, quando ele não tem em si nenhuma base para fixá-los. Quadro Natural…: VIII
À medida que a posteridade do homem se multiplicou e que os tempos se escoaram, a grandeza e a bondade da Sabedoria suprema tiveram que se manifestar cada vez mais, colocando perto dele Imagens vivas de si mesma, ou Agentes suficientemente virtuosos para levá-lo a recuperar a semelhança. Quadro Natural…: VIII
Maomé, que foi e teve origem entre os descendentes dos Hebreus, imita seus Livros nesta parte. No Alcorão, a doutrina e os fatos históricos aparecem alternadamente: e embora esse Livro, a alguns traços de luz excetuados, não seja senão uma coletânea informe, cheia de preceitos impotentes embora não reconduza os homens à sua verdadeira natureza, e avilte os meios pelos quais a Sabedoria suprema prepara sua regeneração, deixa bastante ver que é o filho natural do filho natural do Judaísmo. Quadro Natural…: XII
Não é menos verdade que nesse sétimo dia a Sabedoria suprema apresentou ao homem objetos mais relativos a seu Ser, do que o haviam sido todas as virtudes senárias; pois é bom observar que o homem recebeu a nascença temporal, depois de todos os Seres da Criação, e que assim estava mais próximo dessas Virtudes santas e septenárias, que deviam consolidar sua existência. Quadro Natural…: XII
O primeiro exemplo que as Tradições hebraicas nos oferecem dessas verdades, é o relato das prevaricações antigas, onde as Nações inteiras dos primeiros tempos são apresentadas como entregues ao império dos sentidos materiais, a ponto de ter corrompido todas as vias da natureza, e de ter merecido ser punidas pelo elemento da água. É ao mesmo tempo o quadro dos meios que a Sabedoria suprema empregou então para conservar na terra um asilo às virtudes do homem justo, e às de todos os seres da criação. Quadro Natural…: XIV
Se o Povo Judeu teve o depósito de semelhantes instruções; se possuiu um templo que parece ser o hieróglifo universal; se aqueles que ali cumpriam as funções, nos são anunciados como depositários das leis do culto, e operando mesmo todos os fatos de que demonstrei que a fonte estava no homem, é provável que o Povo Judeu seja de fato o Povo escolhido pela Sabedoria suprema para servir de sinal à posteridade do homem. Quadro Natural…: XIV
Esse tipo foi repetido durante a servidão, pela evasão de várias Tribos, que subtraindo-se ao jugo de seus Tiranos na Babilônia, foram longe, e por caminhos ocultos, habitar um país desconhecido sobre a Terra; ali exercem ainda em sua pureza, o Culto do Eterno, segundo a Lei dos Hebreus; ali expiam no luto e na tristeza, as Prevaricações de seus Antepassados, e representam esse órgão vivo e puro de nossos pensamentos, que se afasta quando somos covardes, e que geme por nós sobre nossos desvarios voluntários, para que todas essas lágrimas possam ser oferecidas como um tributo à Justiça da Sabedoria suprema, que esquece os crimes dos culpados para só atentar às dores do inocente. Quadro Natural…: XVI
Aliás, o que deveria abafar todo murmúrio, é essa incerteza em que estamos se a Sabedoria suprema não paga os serviços que exige de nós; se, depois que exerceu seus poderes sobre os objetos de sua justiça para assustar o olho do culpado, ela não os indeniza dos trabalhos que suportaram; se, enfim, mais nobre e mais fecunda que todos os Soberanos da Terra, ela não pode derramar na alma dos homens alguns raios de sua glória, que coloquem a seus olhos as recompensas acima de toda proporção com as penas e os serviços. Considerando sob esse ponto de vista a marcha dessa Sabedoria, o que temos a dizer, quando ela nos emprega? A injustiça não está em fazer trabalhar o operário, mas em fazê-lo trabalhar e reter seu salário. Quadro Natural…: XVI
É verdade que em geral os males naturais que afligem as Nações, operando-se sem o concurso da mão do homem, estão fora da comparação com os fatos relatados nos Livros dos Hebreus, onde a justiça divina contra os culpados se exerce quase sempre por homens. Mas se a Sabedoria suprema pôde fazer a escolha de um Povo entre todos os outros Povos, para o cumprimento de seus desígnios; se ela realmente fez essa escolha para retraçar ao homem o lugar privilegiado que lhe havia outorgado outrora entre todas as outras potências; seja qual for esse Povo escolhido, é preciso que vejamos reunidas nele todas as ações diversas que constituiriam uma ordem de Seres, se estivessem em seu estado de perfeição. Quadro Natural…: XVI
A maioria dos Observadores se choca com o fato de que os Livros hebreus, apresentando um Povo eleito pela Sabedoria suprema, para ser como o espelho de suas virtudes e de suas leis, esse Povo tenha se tornado o mais grosseiro, o mais bárbaro e o mais ignorante da Terra; com o fato de que longe de combater pela mão que o havia escolhido, ele se arma a todo momento contra ela; com o fato de que não observando senão a letra dos Preceitos dessa Sabedoria, ele foi como inútil a seus desígnios. Quadro Natural…: XVI
Mas, embora a suprema Sabedoria tenha podido e devido fazer temporalmente a escolha de que falamos; embora ela tenha eleito um Ser justo para lhe confiar o tesouro de seus benefícios, pois nenhum ímpio pode participar deles; se na sequência a posteridade desse Justo vier a se afastar de sua lei, que se torne por consequência um receptáculo de ignomínia, e o objeto do desprezo de todos os Povos, dir-se-á por isso que a escolha dessa Sabedoria tenha sido indigna dela? E a primeira escolha que ela teria feito, teria sido menos pura, embora tivesse se tornado a impureza mesma? Seria preciso então dizer que o homem, emanado da Sabedoria suprema, foi sem glória e corrompido em sua origem, porque hoje o vemos rastejar no crime e no opróbrio. Quadro Natural…: XVI
Reconheçamos portanto que esse Povo, apesar de ter tão pouco secundado a mão que o havia escolhido, não era menos, no momento de sua eleição, o archote vivo que devia brilhar em nossas trevas, e nos retraçar quadros temporais dos quais o homem invisível é o modelo. Enfim, reconheçamos que ele devia ser a prova falante do princípio que foi exposto sobre a necessidade da comunicação das virtudes subdivididas da Sabedoria suprema entre os homens. Quadro Natural…: XVI
Ora, o número quatro se encontrando colocado entre a unidade e o número dez, não parece ter a função de fazer comunicar a unidade até a circunferência universal, ou o zero? Ou para melhor dizer, não parece ser o intermediário colocado entre a Sabedoria suprema, representada pela unidade, e o Universo representado pelo zero? Eis aqui sua figura natural: Quadro Natural…: XVII
Os mesmos princípios que foram expostos, nos ajudarão a descobrir qual deve ter sido a época conveniente à manifestação desse Agente. Pois se ele é preposto pela Sabedoria suprema, para a cura dos males ligados à esfera estranha e tenebrosa que habitamos, deve ter seguido todas as suas leis. Quadro Natural…: XVII
À falta de fazer essa importante distinção, eles imputam à Sabedoria suprema um concurso universal com nossas obras, que ela tem talvez para alguns de nós em nosso estado atual, onde estamos ligados às ações variadas dos Seres não livres, mas que não se poderia lhe imputar em nosso estado primitivo, sem injuriá-la e sem desnaturar todas as suas Leis. Quadro Natural…: XIX
Os remédios da Sabedoria suprema se proporcionalizando sempre a nossos males, deviam portanto tomar a via mais favorável para nós, que era de multiplicar os dons das línguas naqueles que ela encarregaria de anunciar essas virtudes e de manifestá-las sobre a terra. Quadro Natural…: XX
Quando o exercício dessa virtude começou a se aperfeiçoar, ela ensinou sempre ao homem os mesmos deveres, mas lhe ensinou também a prestar a seus semelhantes outros serviços. Ela lhe fez compreender que ele é responsável perante eles por todas as virtudes que estão nele, pois elas só lhe foram dadas pela Sabedoria suprema, como uma via de reação, para fazer sair por sua vez as virtudes que estão neles; que assim, para uma obra tão sublime, a tarefa do homem lhe apresenta deveres muito rigorosos, pois não pode ficar abaixo de si mesmo sem prejudicar seus semelhantes, pois enfim uma só de suas fraquezas deve custar aos outros uma virtude. Quadro Natural…: XX
Bastava-lhe portanto dar-lhes uma ideia justa da ciência Divina, e ensinar-lhes que essa ciência não é outra coisa senão a das leis empregadas pela Sabedoria suprema, para proporcionar aos Seres livres, os meios de retornar a sua luz e a sua unidade. Essa consciência uma vez dada aos homens, os tempos lhes foram concedidos, não para esquecê-la e profaná-la, mas para meditá-la e aproveitá-la. Quadro Natural…: XXI
O Grande Sacerdote da Lei anterior ao tempo, o mesmo que presidiu invisivelmente aos cultos de todos os Povos da terra, pois não há um que não anuncie traços da verdade, o mesmo que deve se apresentar aos homens, no meio dos tempos, o quadro de seu Ser e a reunião de todas as virtudes Divinas que o crime havia subdividido para nós será também aquele que presidirá a esse culto futuro e posterior ao tempo pois sendo o único Agente universal da Sabedoria suprema, ele só pode distribuir a universalidade das graças que ela destina a todos seus filhos. Quadro Natural…: XXI