Richard Rolle — Fogo do Amor (VI)
Aquele só conhece verdadeiramente a Deus que o reconhece incompreensível e incognoscível ]. Nada, de fato, é perfeitamente conhecido senão aquilo de que se conhece perfeitamente a causa, de que se sabe de onde é e o que é. Nesta vida, conhecemos apenas em parte, e é preciso esperar a vida futura para conhecer plenamente. Assim, aquele que deseja conhecer a incompreensibilidade de nosso Criador mais do que lhe é útil não poderá alcançar essa ciência perfeita e perderá a razão. Perguntas o que é Deus, responderei em poucas palavras: “Deus é tal e tão grande que nenhum outro é ou pode ser igual a ele.” E se queres uma definição mais exata, direi que a pergunta não pode ter resposta. Não sei, os anjos ignoram, os arcanjos não o aprenderam. Como queres conhecer o que não pode ser conhecido nem ensinado? O próprio Deus em sua onipotência não pode ensinar-te o que ele é, pois então serias tão sábio quanto Deus, o que é impossível a uma criatura.
Permanece, pois, no grau em que Deus te colocou e não busques o que te ultrapassa (Eclo. 3,22). Só Deus se conhece e pode se conhecer; não é impotência da sua parte se não pode se dar a conhecer a ti tal como é, mas é por causa de sua grandeza infinita, e porque ninguém pode ser semelhante a ele. Se pudesse ser plenamente conhecido, já não seria incompreensível.
E não te admires se digo que deves conhecer a Deus perfeitamente, depois de ter dito que ele é incognoscível, pois o Salmista não temeu dizer: “Derramai, Senhor, vossa misericórdia sobre os que vos conhecem” (Sl. 35,11). Pois, para evitar o erro, explicarás este texto assim: “Os que vos conhecem são os que sabem que é preciso amar-vos, a vós, único Criador de todas as coisas, louvar-vos, adorar-vos, glorificar-vos acima de todas as coisas, por todas as coisas e em todas as coisas, vós que sois bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.”