Sua tese de doutorado na Sorbonne, foi publicada pela prestigiosa Editora Klincksieck, em 1969. Nela Deghaye apresenta por inteiro a pregação de Zinzendorf, o fundador de Herrnhut, o homem dividido entre as doutrinas recebidas e seu temperamento. Levanta a questão que possa ter levado para o domínio da ação religiosa todas as ambições que não pôde satisfazer no plano político. Ao mesmo tempo Deghaye reconhece a especificidade do fato espiritual, que responde negativamente à questão levantada.
Qual seria a doutrina de Zizendorf? A classificação dentro da corrente do Pietismo não parece suficiente, assim como não se aplica na integralidade para tantos outros nela enquadrados. Em Zizendorf, como em Gottfried Arnold ou Pierre Poiret, é a adesão a uma tradição, o fenômeno primário. O que é particular em Zizendorf são as dificuldades que experimentou, devido a seu temperamento, para se manter fiel a esta adesão.
A tradição à qual se associa Zizendorf é proveniente de fontes diversas, mas apresenta uma constante: o esoterismo. Daí o título da tese: A doutrina esotérica de Zinzendorf. Não se trata de um esoterismo institucional, como a Maçonaria, mas de um fundamentado em uma concepção puramente espiritual, desafiando, em sua intenção primeira, qualquer institucionalismo.
Apresentamos a seguir o índice do original em francês, a partir do qual faremos traduções e resumos para alguns dos tópicos:
PRIMEIRA PARTE O PRINCÍPIO DO ESOTERISMO E A AÇÃO PRÁTICA DE ZINZENDORF
I. — Introdução
II. — Recusa de uma regra institucional do segredo
A) Verdades naturalmente secretas
B) O problema na perspectiva das perseguições
C) O mesmo problema para uma comunidade não perseguida
III. — Proibição espiritual
IV. — O escudo das religiões
V. — A linguagem da teologia clássica
VI. — Zinzendorf julgado no terreno da teologia dogmática
A) O problema da unidade da doutrina
B) Zinzendorf e Lutero
VII. — Teologia luterana e theologia regenitorum
VIII. - Zinzendorf e a mística
IX. — Doutrina e prática
X. — As estruturas da comunidade
XI. — Zinzendorf evangelista
XII. — O apóstolo espiritual
XIII. — A linguagem do coração
XIV. — Ação e contemplação
XV. — O Senfkornorden
XVI. — Os dois aspectos do culto de Jesus
XVII. — Deus catholicus
SEGUNDA PARTE O PRINCÍPIO DO ESOTERISMO À LUZ DAS DIFERENTES TRADIÇÕES
I. — Introdução
II. — As fontes modernas
A) O tempo de cada revelação
B) O tempo como medida da existência individual
A) O conhecimento é desigual
B) A letra e o espírito: exoterismo e esoterismo
C) O templo do Espírito e a igreja feita pela mão do homem
D) O muro de separação
III. — Clemente de Alexandria
IV. — Orígenes
V. - Zinzendorf e a cabala: as fontes
A) A filosofia sagrada: Boehme e a Cabala
B) A Defesa do Gesangbuch
C) Parentesco entre duas doutrinas
D) Incompatibilidade de temperamento
A) A admiração pelo homem
B) O projeto de uma história das verdadeiras testemunhas
C) A Introdução à História da Filosofia dos Hebreus
D) Influência possível de Buddeus sobre Zinzendorf
E) Comenius restaurador da filosofia dos Hebreus
VI. — Zinzendorf e o espírito da Cabala: pontos comuns
VII. — Zinzendorf e o espírito da Cabala: as diferenças
VIII. — Zinzendorf e a Gnose
A) O diploma de filiação divina.
B) O batismo de água e o batismo no Espírito Santo.
C) O batismo de fogo: batismo de sangue
D) O batismo ordinário: a circuncisão. Necessidade do segundo nascimento
E) O batismo dos adultos. Diferenças com os Batistas e Anabatistas
F) O sacramento espiritual: o único verdadeiro
G) O batismo espiritual: símbolo da geração dos Perfeitos
H) Um mistério no limiar de toda vida espiritual. A unção de luz dos gnósticos
A) União mística
B) As emanações do corpo de Cristo
C) Adesão substancial ao Divino
D) O sangue do Cristo: materia prima. Presença real e participação mística
E) A Igreja mística: secreta, invisível
F) O sacramento das religiões: um rito, um simples sinal
G) Os fiéis ordinários afastados da comunhão de Cristo
H) Agar e Sara: Babilônia e a Jerusalém celeste
I) Eucaristia calviniana no plano das religiões, «luterana» para os espirituais
A) A fé determinada pela natureza
B) A fé infeliz da criatura
C) A fé que se prende aos prodígios
E) A fé histórica
F) A caridade infusa princípio da verdadeira fé
G) Regenerados e profetas
H) As graças especiais
I) Psicologia das pessoas e teologia dos planos do Divino
J) Felizes os que creem sem ter visto
K) Fé substancial
L) A felicidade espiritual
M) A visão espiritual
N) Contemplação habitual
O) As duas manifestações do Espírito. A efusão do Pentecostes e o batismo espiritual
P) A efusão do Espírito fatal aos não-regenerados
Q) O destino trágico de Moisés
R) A fiducia dos psíquicos: a fidelidade de Deus e a do crente
S) A fé nova: a fé dos ancestrais fundada em um milagre único?
T) A fé dos ancestrais em Paulo
U) A fiducia de Lutero: fundada na certeza do perdão
V) A fiducia dos espirituais: fundada na unção
X) O comércio particular dos espirituais com Deus
Y) A fé de Lutero e a fé dos luteranos
Z) Fé e gnose
A) A perfeição
B) Consciência única e consciência dividida
C) O amoralismo de Deus e dos espirituais
D) Fé e moral
E) O amor ao próximo
F) Amar os Irmãos
G) As obras dos espirituais e as obras dos psíquicos
H) O mistério do pecado
a) Impecabilidade do homem espiritual
b) Perfeitos e fariseus
c) A imperfeição dos Perfeitos
d) Os espirituais mártires do pecado
TERCEIRA PARTE DO DEUS ESCONDIDO AO DEUS REVELADO
I. — Introdução
II. — O deus escondido
A) O abismo divino: um inferno
B) O Deus absconditus de Lutero e a teoria do numen de R. Otto
C) Teologia da transcendência
III. — O deus revelado
A) O limite traçado pelo círculo
B) O problema do subordinacionismo
C) O primeiro abaixamento da Divindade
D) Limite e plenitude: o espaço místico e a materia prima
A) Deus tem um corpo? Orígenes contra Clemente
B) Zinzendorf: Deus corpo da Divindade
C) Oetinger: sua doutrina realista do corpo espiritual
D) O realismo de Zinzendorf
E) O sangue de Cristo: ens penelrabile
F) A peripécia do golpe de lança
G) Sístole e diástole
H) A altura: dimensão da expansão espiritual
I) Os dois Plérômes
J) Os plérômes individuais
K) A fé: materia prima
L) O corpo glorioso na vida terrena
M) A encarnação da vida espiritual
N) O homem interior escondido no fundo do coração
O) Manifestação das obras na glória
P) O coração novo
Q) A imortalidade do corpo
R) O sal celeste
A) Homem desde o princípio
B) O Deus de nossa espécie
C) A Divindade filantropa
D) Teosofia e mística do Homem
a) O Homem na Cabala
b) O Anthropos dos gnósticos
c) Antropomorfismo e exemplarismo invertido
d) Mística do homem encarnado
e) O Cristo de Zinzendorf: do Homem ao Filho do homem
f) O Homem: a totalidade primeira
g) O Filho do homem: a totalidade última
A) Pessoa e plenitude
B) Sabelianismo e arianismo
C) A pessoa do Filho
D) Emanuel
E) O Cristo coração de Deus
F) O Cristo-Sabedoria imagem da Divindade
G) A imaginação divina
H) A imagem de Deus na alma fiel
I) A contemplação transformadora
J) A perfeição da imagem na pessoa
A) O Reino de mil anos
B) A apocatástase
a) O Evangelho eterno
b) O Cristo nos infernos: a libertação dos condenados
c) A reconciliação universal
d) O Ano jubilar
e) A salvação pelo fogo
f) O limbo e o inferno. Purgatório
g) A «eternidade» das penas
h) Expiação e remissão
i) O problema da unidade de Deus na Cabala
j) A Graça e o Julgamento
k) A Justiça e o Mal
l) Zinzendorf e Dippel: duas concepções do restabelecimento de todas as coisas
m) Zinzendorf: O Cristo colérico e Jesus misericordioso
n) Esperança para os condenados e resignação ao Inferno
o) Mistério que não deve ser ensinado
p) Doutrina do Cristo Salvador do mundo
q) O abandono da Realeza ao Pai
r) Fim e recomeço
s) Deus tudo em todos
Conclusão