Extratos traduzidos de Ruysbroeck, JRO
Os Sete Degraus da Escada do Amor Espiritual
O primeiro fruto da boa vontade é a pobreza voluntária, que constitui o segundo degrau pelo qual se sobe na escada da vida de amor.
O homem voluntariamente pobre, de fato, leva uma vida livre e despojada de preocupação por todos os bens terrestres, quaisquer que sejam suas necessidades. É um sábio mercador; deu a terra pelo céu, segundo a sentença de Nosso Senhor: “Não se pode servir a Deus e às riquezas do mundo.” Por isso, abandonando todo bem capaz de prendê-lo à terra, ele fez voluntariamente a escolha da pobreza. Tal é o campo onde se encontra o reino de Deus; pois bem-aventurado é o pobre voluntário, o reino de Deus é dele!
Esse reino de Deus é amor e caridade, ao mesmo tempo que aplicação a todas as boas obras. O homem deve ser pródigo de si mesmo, misericordioso, clemente e socorredor, verídico e bom conselheiro para quem quer que peça sua ajuda, de modo que, no julgamento de Deus, possa mostrar que com seus ricos dons operou as obras de misericórdia. Pois dos bens terrestres ele não guarda nada em próprio para si mesmo; tudo o que tem é comum a Deus e à família de Deus. Bem-aventurado é esse pobre voluntário que não possui nada do que passa, ele segue o Cristo e terá por recompensa o cêntuplo em virtudes, ele vive na expectativa da glória de Deus e da vida eterna.
O avarento, ao contrário, é verdadeiramente insensato: ele dá o céu pela terra, embora deva perdê-la.
O pobre de espírito sobe ao céu,
o miserável avarento cai no inferno.
Pode o camelo passar pelo buraco de uma agulha?
Então o miserável avarento pode entrar no céu.
E mesmo permanecendo pobre de bens terrestres, se não busca a Deus e morre em sua avareza, está para sempre perdido.
O avarento prefere a casca ao fruto e a carcaça ao ovo.
Quem possui o ouro e ama os bens terrestres
toma veneno que dá a morte
e bebe uma água de eterna tristeza:
quanto mais bebe, mais sede tem,
quanto mais tem, mais quer ter.
Possui muito, não está satisfeito;
pois lhe falta tudo o que vê,
e o que tem lhe parece nada.
Mal alguém o ama,
pois quem é avarento não é digno.
Ele é bem como as garras do diabo:
o que ele agarra, não solta:
precisa guardar até a morte
tudo o que pegou por astúcia.
E, no entanto, ele perde então:
depois é a desgraça eterna,
pois o avarento se assemelha ao inferno,
que quando pega nunca está satisfeito;
que tenha muito, não é melhor.
Tudo o que agarra, ele aperta,
e sua boca está sempre escancarada
para receber os hóspedes do inferno.
Cuidado, pois, com a avareza:
ela é a raiz de todo pecado e de todo mal.