Jean Tourniac — Os Traçados de Luz
Tema inspirado da iconografia medieval: escultura das catedrais ou ilustração de manuscritos. Serviu de base a uma abundante exegese judaica e cristã. Na patrística, simboliza a mediação do Cristo e aquela da Virgem, a gradação das virtudes, o percurso da ascese, a “alta montanha”, o acesso à porta do Céu ou a queda para aporta dos Infernos — segundo percurso e a cor dos graus da escada (vide Marie Madeleine Davy).
Na Maçonaria, a descrição da escada de Jacó é função de uma representação geométrica do universo: espacial pela orientação, temporal com os solstícios. A representação estende assim as dimensões da Loja aos limites planos dos pontos cardeais, e as duas extremidades verticais denominadas “Centro da Terra e Céus”. Segue-se um extrato das “Emulation lectures” confirmando a interpretação.
René Guénon por seu lado desenvolveu o tema das dimensões, medidas, direções ou middoth do Universo revelando sua amplitude metafísica em sua obra fundamental “O Simbolismo da Cruz”, capítulo As Direções do Espaço.
No simbolismo da escada de Jacó é de suma importância as noções de Bethel, Pedra estabelecida, Bethel-Bethlehem, escada angélica, eixo dos estados superiores do ser, enfim de Louz, ossos da ressurreição na tradição judaica, lugar da “Kundalini” na tradição hindu e base do eixo vertebral em 33 vértebras (vide Bethel).
No Esoterismo de Dante, Guénon, referenciando Aroux, apresenta as equivalências abaixo e observa, “assim às setes esferas planetárias que são os sete primeiros céus de Dante, correspondiam respectivamente as artes liberais, precisamente as mesmas que vemos também os nomes figurar nos sete degraus do montante da esquerda da escada de Kaddosch — 30º grau da Maçonaria Escocesa —. A ordem ascendente, neste caso, só difere pela intervenção de uma parte da Retórica e da Lógica (substituída aqui pela Dialética), e por outro lado, da geometria, da música e também da ciência que correspondia ao Sol, a Aritmética, ocupa o nível que normalmente remete a este astro na ordem astrológica dos planetas, quer dizer o quarto no meio, enquanto os Cátaros o colocavam no mais alto degrau de sua escada mística, como Dante o fez para sua correspondente do montante da direita, a Fé (Emounah), quer dizer esta misteriosa Fede Santa da qual ele mesmo era Kaddosch” :
Na patrologia cristã o simbolismo da escada de Jacó teve grande uso. Basílio comparava em uma homília sobre os salmos, a subida na escada de Jacó à ascese e sob outra forma Gregório de Nissa retomava esta ideia em seu Comentário sobre o Cântico dos Cânticos”: o esposo celeste que introduz a esposa pelos graus das virtudes como na ascensão de uma escada.
Adicionemos para completar as fontes ocidentais cristãs, que Guigues le Chartreux dotou sua escada de quatro degraus: leitura, oração, meditação e contemplação, enquanto Ruysbroeck, nos Sete graus da escada do Amor espiritual se refere também à escada de Jacó e dá sete etapas à vida espiritual ascendente: Boa vontade, Pobreza voluntária, Pureza, Humildade, Zelo ao serviço de Deus, os dois últimos degraus mergulham nas nuvens “da pureza da inteligência” e do “repouso de eternidade”.