JEAN TOURNIAC
Objetivo: esclarecer o papel da Virgem Maria nos estados póstumos próprios à tradição cristã.
A Mão do Cristo se apresenta como um escudo nos primeiros ataques da travessia póstuma, como uma “proteção”, o que é um alívio quando nos lembramos dos “terrores”, ilusórios a princípio, que atacam a “alma” isolada sem o corpo grosseiro. A viagem no desconhecido descrita no Bardo-Thodol e Livro do mortos egípcios os destaca com muitos detalhes.
Litanias: Virgem poderosa, arca da aliança, porta do Céu, refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos… permita-nos ser liberados das tristezas do tempo presente e de saborear as alegrias da eternidade. Pelo Cristo…
Missa de Nossa Senhora Auxiliadora: “… fatos … que depois de ter sido sustentado por tão poderosa proteção nos combates da vida, alcançamos na morte a vitória sobre o espírito maligno, por Nosso Senhor…” (oração) “que pelo socorro de vossa Muito santa Mãe, seja liberados de todo mal e de todo perigo…”
Prática da piedade: “Jesus, Maria, José, faça que eu expire em paz em vossa santa companhia” (todas as três são “provenientes da nobre camada de Jessé para a salvação do mundo” — Hino da festa da santa família).
A proteção, defensiva e “contra-defensiva” no mundo dos ataques sutis. É a Virgem refúgio, guarda e selo, a casca protegendo o germe.
Natureza
Definição
Fase
Meta
I Salvação
Prolongamento em longevidade sutil da individualidade humana
Espera da Ressurreição
Realização do centro do estado do ser humano. Centro invariável do plano horizontal deste estado.Dimensão do Homem integral. Paraíso “Terrestre” e Tradição primordial. Fim dos “pequenos mistérios” e imortalidade efetiva.
II Liberação
Vida eterna e Estado incondicionado ou divino
Ressurreição dos corpos gloriosos
Sobre a base do centro dos estado humano pré-citado: ascensão vertical ao longo dos estados informais do ser, ou estados informais do ser, ou estados angélicos, até o ápice da cúpula espiritual do estado divino. Dimensão do Homem Universal. Paraíso “celeste”. Fim dos “grandes Mistérios” e Eternidade, Vida eterna e corpo-glorioso.
Entre I e II: a escada vertical angélica de Jacó a Luz-Bethel.
Sabe-se que a Virgem Maria é representada frequentemente em uma espécie de amêndoa, como o Cristo, nas catedrais; amêndoa denominada “mandorla”. é o Cristo “em glória” pois tradicionalmente “a amêndoa é o mistério da luz”.
A amêndoa, ou a amendoeira, se diz “Luz” em hebraico, palavra cuja raiz está ligada às ideias de coberto, oculto, envelopado, secreto.; contém assim os sentidos de inviolabilidade, selo e de claustro.
Luz na mística judaica designa a partícula corporal indestrutível “representada simbolicamente como um osso muito duro, e ao qual a alam permaneceria ligada após a morte e até a ressurreição, como o núcleo contém o germe e como o osso contém a moela.
“Esta Luz contém os elementos virtuais necessários à restauração do ser”, segundo René Guénon (vide “LUZ” OU A MORADA DA IMORTALIDADE)
Luz designa o lugar dito Bethel onde Jacó teve justamente o sonho da escada onde subiam e desciam os anjos, entre Terra e Céu, quer dizer, para empregar a linguagem de Guénon, o eixo vertical partindo do centro de todo estado humano e incluindo todos os “estados superiores do ser” até o ápice da Divindade. O eixo que conduz da Imortalidade à Vida Eterna e à Ressurreição do Corpo glorioso. O eixo vertical da “mulher vestida do sol”.
O judaísmo legendário coloca próximo de Luz uma amendoeira situada acima de um “buraco” ele mesmo acessível por um subterrâneo. É a “caverna secreta” que aproximaremos da matriz virginal às últimas linhas desta obra; uma caverna situada na ortogonal do polo Celeste e sobre uma linha de sizígia vivificante entre terra e céu, o que alguns hermetistas denominam “fecundação da caverna” ou “nascimento eterno”. Sabe-se que o sentido latino do uterus não é este estritamente fisiológico corporal tomado nos dias atuais, mas o de seio maternal e de buraco ou cavidade (letra hebraica “Beth”: “dentro”, que se pronuncia como a “casa”: Beith ou Beth).
o Gênesis nos dá de Luz a seguinte descrição: “Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus. Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por pilar (símbolo do eixo vertical, partindo de um centro sagrado do plano horizontal humano e unindo Terra ao Céu), e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém daquela cidade antes era Luz. (Gen 28:16-19)”
As doutrinas tradicionais do hermetismo ensinam portanto que na morte corporal o núcleo indestrutível, o Luz, situado simbolicamente na base do eixo vertical humano ou “sede da kundalini” nos hindus, e em baixo do eixo vertical angélico, desce ao “interior” da terra, donde a divisa: “VITROLIUM”: “Visita interiora terrae, rectificando invenies occultum lapidem, veram medicinam” que se encontra na caverna sombria ou câmara de reflexão onde está alojado o candidato à iniciação maçônica.
Em alguns casos o “sono da paz” não se aplica ao defunto. Sem mesmo evocar o caso das almas do purgatório donde só o “osso da ressurreição” está ainda em sono, e que continuam uma ascese, há também o caso dos eleitos e dos santos para os quais o “sono da paz” é inútil pois eles ainda têm funções a preencher: seus “corpos de ressurreição sobem ou saem dos túmulos.
Na Ressurreição, se dá de outro modo pois há absorção do corpo, da alma e do espírito na carne do Ressuscitado. A ressurreição implica a unidade do “pneuma”, da “psyche” e do “soma”, no corpo (sarx).