Sédir (JBEG)
A palavra Graça aparece no Novo Testamento com dois significados principais: característica da obra realizada por Cristo (nesse sentido, a graça se opõe à lei mosaica) e, sobretudo, benevolência de Deus para com os homens, que se manifesta por meio de um dom gratuito. Assim, a graça é todo dom sobrenatural concedido por Deus a uma criatura para sua salvação. A revelação divina, a encarnação do Verbo, o ensinamento de Jesus, os efeitos produzidos na alma dos crentes pela atividade de Cristo: a fé, a perfeição, eis as graças. A graça é necessária para conhecer a verdade, para realizar o bem. A teologia católica ensina que os justos recebem graças suficientes para que possam observar os mandamentos de Deus; quanto aos pecadores que têm fé, mesmo que persistam no mal, Deus lhes concede ajuda suficiente para que possam se converter; mesmo aos infiéis que nunca conheceram a revelação cristã, Deus dá ajuda suficiente para que possam se salvar.
A graça é, portanto, ao mesmo tempo uma força que permite ao homem cumprir seus deveres e um princípio de sobrenaturalização.
Deixaremos de lado as distinções estabelecidas pelos teólogos entre a graça incriada e a graça criada, a graça de Deus e a graça de Cristo redentor, a graça externa e a graça interna, a graça que une o homem a Deus (graça santificante) e a graça concedida ao homem para a salvação dos outros: a graça atual, socorro transitório, e a graça habitual, dom permanente, a graça operante e a graça cooperante, a graça preveniente e a graça subsequente, a graça excitante e a graça adjuvante, a graça suficiente e a graça eficaz.
A redenção é uma graça de Deus, mas se realiza pelo homem: tal é a doutrina evangélica em oposição à doutrina fatalista dos fariseus.
O pensamento de São Paulo é dominado pelo sentimento da graça incondicional de Deus, que o deteve no caminho de Damasco, em pleno judaísmo, para fazer dele um cristão e um apóstolo. Seu apostolado lhe aparece, portanto, como o resultado de uma espécie de constrangimento interior que é o constrangimento do Amor transbordante com que Deus o fulminou. Não se trata certamente de uma decisão escrita em algum rolo celeste, mas de um dinamismo divino que opera no coração do homem, que o toma e o impele à ação. Essa experiência permite compreender que, em duas passagens da Epístola aos Romanos (ix, 10-13 e 20-24), o apóstolo dos gentios ensina a predestinação de uns para a salvação e de outros para a perdição. Mas essa doutrina não tem nenhuma influência sobre a Igreja primitiva. Até Santo Agostinho, os doutores limitam-se a destacar os dois fatores da salvação: Deus e o homem, mas sem determinar com rigor o vínculo que os une: a salvação vem da graça e a aceitação da salvação vem do livre arbítrio. No entanto, Clemente de Alexandria e Orígenes afirmam com precisão a parte da liberdade e da responsabilidade do homem na obra da sua salvação: Deus ajuda o homem, mas não o obriga.