Certamente há traços comuns entre o Deus platônico, tal qual aparece de Platão ao Médio Platonismo, depois em Plotino, e o Deus cristão, mas também há diferenças importantes e irredutíveis. 1. Deus, princípio primeiro e supremo (Dieu, principe premier et suprême)
A característica primeira do Uno, denominado as vezes Deus, theos, de maneira absoluta, como aquela do Pai origeneano, é que ele é o princípio supremo de onde decorrem primeiramente a Inteligência e a Alma do Mundo, em seguida todos os seres do universo.
Uno como a Vida primeira, doadora de vida a tudo, “uma atividade que percorre as coisas”.
O Pai é do mesmo princípio de tudo o que é, o Criador: “Só há um Deus que tudo criou, que quando nada era, fez ser o universo”. ((Origenes Principiis)
2. Simplicidade, incorporalidade, pureza (Simplicité, incorporéité, pureté)
3. Anterior a tudo e acima de tudo, diferente de tudo e contendo tudo em potência (Antérieur à tout et au-dessus de tout, différent de tout et contenant tout en puissance)
4. O Primeiro na geração do Segundo (Le Premier dans la génération du Second)
5. Deus e o ser (Dieu et l'être)
6. O Bem (Le Bien)
7. Deus se transmite aos seres (Dieu se transmet aux êtres)
8. O Bem e o Belo (Le Bien et le Beau)
9. Deus e as características dos seres deste mundo (Dieu et les caractéristiques des êtres de ce monde)
10. A irradiação de Deus por fora dele (Le rayonnement de Dieu en dehors de lui)
11. O conhecimento do qual se delicia Deus (La connaissance dont jouit Dieu)
12. A vontade de Deus (La volonté de Dieu)
13. Deus é inefável (Dieu est ineffable)
14. A união mística (L'union mystique)
A expressão “conhecimento místico” (gnosis ou theoria mystike) é frequentemente empregada por Orígenes no sentido de “conhecimento dos mistérios”. Uma primeira razão, já mencionada, é sua concepção do ideal do conhecimento. Ele não se contenta em compará-la a uma visão ou a um contato direto, sem intermediário conceitual, discursivo ou sensível, uma prosbole ou uma epibole, por exemplo no grande tema origeneano dos cinco sentido espirituais.; nem de aí ver uma participação do conhecedor no conhecido; mas ele representa o conhecimento, pelo ato mesmo do amor humano, uma fusão, uma “mistura”, termo também utilizado por Plotino. Esta concepção se apoia de modo característico sobre o sentido hebraico da palavra conhecer que se encontre no Gen IV,1: “Adão conheceu Eva, sua esposa”. Plotino assinala também o fato que na união mística se produz uma fusão da alma humana com Deus tal que em um certo sentido não se distinguem mais.