Jesus disse: Adão saiu de um grande poder e de uma grande riqueza, e ele não foi digno de vós; pois se houvesse sido digno, não teria provado a morte.
85. Jésus a dit : Adam est issu d’une grande puissance et d’une grande richesse, et il n’a pas été digne de vous; car s’il avait été digne, pas de la mort.
1 Jésus a dit : 2 Adam est issu d’une grande puissance 3 et d’une grande richesse 4 et il n’a pas été digne de vous ; 5 car eût-il été digne 6 qu’il n’aurait pas goûté de la mort.
85 (1) Jesus said, “Adam came from great power and great wealth, but he was not worthy of you. (2) For had he been worthy, not death.”
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.. Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. (Rom 5,12-17)
Comentários
Ao dizer “Adão”, refere-se o logion a toda geração humana, cujo protótipo, Adão, o Homem, foi “feito” em espírito, à “imagem” de Deus (v. Imagem e Semelhança) e “formado” (plasis), logo vestido, de alma dotada com um sopro temporal de vida (v. o estudo de Antonio Orbe, “ANTROPOLOGÍA DE SAN IRENEO”).
O “grande poder” que aqui se fala é o Filho do homem, Cristo interior, constituído em lâmpada oculta, colocada em Sião — o coração imaterial — como pedra eleita, preciosa, angular e fundamental, ou seja, como Espírito e força de Deus.
Quanto à “grande riqueza”, não é outra coisa que a alma, que quando toma posse dos “elementos do mundo” recobre com um véu de opacidade a luz do espírito que ela mesma veste. Os desaventurados ricos desta espécie são “pobres” em transparência e por tal desconhecem a bem-aventurança do Reino, a pedra eleita que mora em seu coração, e que está reservada aos “pobres” de espírito .
Se no logion não se menciona o corpo material de Adão, a “túnica de pele e carne” confeccionada por Deus e que sem dúvida deve figurar na descrição antropológica do homem completo, é porque Jesus só se refere aqui ao espírito e à alma enquanto estes são os dois centros de consciência que desde o ponto de vista dinâmico do evangelho são possíveis ao homem. De pele e carne me vestiste, e de ossos e nervos me teceste. (Jó 10,11) Esses dois centros mencionados no logion, espírito e alma, são o “natural”, o que está ativo em todo homem “nascido de mulher” e cujo destino é “diminuir” até alcançar a humildade, a cessação absoluta; e a consciência do renascido em Espírito, que deverá “crescer” até lograr a assimilação perfeita com Cristo. Destas duas formas de consciência do homem falou João Batista, o que foi qualificado como “o maior ente os nascidos de mulher”, quando disse: “É preciso que ele cresça e que eu diminua”.
Ao dizer isto João, explicava o que correspondia cumprir segundo o plano de Deus, posto que a “míngua” da alma vem sempre em testemunho da luz do espírito, e precisamente para dar este testemunho e que todos creram na luz, em Cristo, se diz no quarto evangelho que foi João enviado por Deus.
Na linguagem evangélica, a “diminuição”, a atenuação dos elementos do mundo na alma, é chamada “pobreza”, e quando esta “diminuição” é total, até o ponto de extinção, então se fala da morte, uma morte gloriosa da alma que leva à ressurreição em Cristo, segundo se diz naquele formoso apoftegma: “Se o grão de trigo não cai em terra e morre, fica ele só , mas se morre dá muito fruto”. Ficar “só” o grão é manter-se enraizado no consciente separado, em um eu adversário de Deus que Jesus anelava destruir, e o fruto da morte dessa insularidade é concluir a unidade no seio do Pai.
Roberto Pla estuda o simbolismo da Figueira a partir da ida de Jesus à casa de Zaqueu.
Quando se diz no logion que Adão “não tinha provado a morte”, não se diz do corpo, que o logion não menciona, nem do espírito que é imortal, senão da alma. O consciente de Adão não soube desprender-se de sua “grande riqueza”, não foi capaz de entregar-se por inteiro à morte para viver em Cristo.
A causa dos Adãos que morrem em sua alma é sempre a falta de fé no Cristo morador neles como sua própria essência, e por isto não alcançam a dizer à figueira: “arranca-te e joga-te ao mar”, ou ao sicômoro estéril: “arranca-te e planta-te no mar”. Se esta viagem e esta translação psíquica se explicou no evangelho é porque por devoção ao Jesus manifesto, ou por conhecimento do Cristo oculto como ser verdadeiro de um mesmo, é possível “diminuir” na alma até o ponto de morrer nela. E somente assim é possível transferir o consciente de vida mortal, já feito puro como o ouro e uma vez purgado como a prata, ao consciente de Cristo constituído em “poder e sabedoria de Deus”.
Roberto Pla conclui com uma reflexão sobre o Morrer.