ATOS DE JESUS — CEIA DO SENHOR (Mt XXVI, 26-30; Mc XIV, 22-26; Lc XII, 14-20)
EVANGELHO DE JESUS: CEIA; COMER MINHA CARNE E BEBER MEU SANGUE; EUCARISTIA; CORPO DE CRISTO; TRANSUBSTANCIAÇÃO; Mt 26:26-30; Mc 14:22-26; Lc 22:14-20
Roberto Pla: Evangelho de Tomé - Logion 60
A expressão mais profunda da ação salvífica do Cordeiro de Deus a proporcionou Jesus durante sua última ceia pascal, habitualmente designada pela orbe cristã como a Ceia do Senhor. Do relato deste convite messiânico dispomos de quatro narrações; as três dos sinópticos e o documento paulino da primeira epístola aos coríntios; mas só o terceiro evangelho distingue no marco da ceia pascal o íntimo alimento de despedida e a instituição eucarística como primeiro convite no reino celestial.
Segundo o evangelho lucano, depois de confessar Jesus sua forte ânsia de comer essa Páscoa de despedida antes de sua Paixão,1) e após ter repartido, bendito e compartilhado o pão e o vinho com todos, assegurou quanto ao pão — o pão de vida eterna —: “já não o comerei mais até que ache seu cumprimento no Reino de Deus” (Lc 22,16) 2)
Com isto conclui a refeição de despedida de Jesus (Cristo manifesto) e o que Lucas relata em continuação é o primeiro convite celeste no reino messiânico consumado, e pertence ao Cristo oculto espiritual, no qual se efetua, durante o convite, a imolação do Cordeiro de Deus. Por isso, nenhuma carne nem o sangue dos quais Jesus fala a partir de agora, na ceia, depois da ceia, são símbolo ou figura da carne e sangue de Jesus, senão sua carne e sangue verdadeiras segundo seu espírito.
Toda interpretação figurada ou simbólica a respeito da carne ou ao sangue de Cristo fica excluída em qualquer dos quatro relatos, posto que Jesus diz: “Este é meu corpo, este é meu sangue”, e não diz: este “pão” é meu corpo, este “vinho” é meu sangue. Mas há que descartar qualquer olhar unilateral que somente estime como protagonista ao Cristo “manifesto”. Quem reparte o pão e o vinho no banquete sacrificial que Lucas menciona (o cálice o oferece “depois de cear”), é o Cristo “oculto”, espiritual, “só” espiritual, quer dizer, o Cordeiro de Deus, cuja carne e sangue são, com efeito, seu corpo e sangue verdadeiros, enquanto o pão e o vinho do começo da refeição pascal são figura representativa manifesta, visível, do alimento real, invisível, que de si mesmo reparte logo “em espírito”, o Cordeiro de Deus.
René Guénon
De fato, o Santo Graal é o cálice que contém o precioso Sangue de Cristo, e duplamente, visto que serviu primeiro para a Santa Ceia e depois, com ele, José de Arimateia recolheu o sangue e a água que escorriam do ferimento aberto pela lança do centurião no costado do Redentor. Esse cálice, portanto, substitui de algum modo o Coração de Cristo, como receptáculo de seu sangue; toma, por assim dizer, seu lugar e torna-se um equivalente simbólico. Nessas condições, não fica ainda mais notável que o vaso tenha sido anteriormente um emblema do coração? Além disso, o cálice, sob uma ou outra forma (taça, copa), do mesmo modo que o coração, desempenha um papel bastante importante em muitas tradições antigas.