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A “Praktike” é o método espiritual que visa purificar a parte passionada da alma (cap. 78). É o lento trabalho de purificação do coração consciente e inconsciente para que este recupere sua beleza original, sua saúde ou sua salvação (é a mesma palavra em grego: “soteria”).
Pode-se dizer assim que a Praktike de Evágrio é um tratado de terapêutica do século IV cujo objetivo é permitir ao homem conhecer sua verdadeira natureza “à imagem e semelhança de Deus”, livre de todas as suas deformações ou patologias. É nesse sentido que se poderia traduzir a palavra “apatheia”, usada por Evágrio e pela tradição monástica do Deserto, não por “impassibilidade”, mas por “estado não patológico” do ser humano, se é verdade que a conversão “é retornar daquilo que é contrário à natureza para aquilo que lhe é próprio” (São João Damasceno).
A Praktike é uma forma de psicanálise no sentido próprio do termo: análise dos movimentos da alma e do corpo, dos impulsos, das paixões, dos pensamentos que agitam o ser humano e que estão na base de comportamentos mais ou menos aberrantes. Assim, o elemento essencial da Praktike no Deserto consistirá em uma análise e luta contra o que Evágrio chama de “logismoi”, que deve ser traduzido literalmente por “os pensamentos”.
Na tradição cristã posterior, falar-se-á de demônios ou de “diabolos” (literalmente: o que “divide” (dia) o homem em si mesmo, o dilacera; é também a etimologia da palavra hebraica “shatan”, “o obstáculo”: o que se opõe à unidade do homem, à união com os outros, à união com Deus). Trata-se sempre de discernir no homem aquilo que impede a realização de seu ser verdadeiro, o que bloqueia o florescimento da vida do Espírito (Pneuma) em seu ser, seu pensamento e seu agir.
Evágrio distingue oito “logismoi” na raiz de nossos comportamentos, que são oito sintomas de uma doença do espírito ou doença do ser que fazem com que o homem esteja “vicioso”, fora de si mesmo, em estado de “hamartia”:
1. Gastrimargia. (João Cassiano transporá diretamente do grego para o latim: de spiritu gastrimargiae). Não se trata apenas de gula, mas de todas as formas de patologia oral.
2. Philarguria. (Cassiano: de spiritu philarguriae), não apenas “avareza”, mas todas as formas de “constipação” do ser e de patologia anal.
3. Porneia. (Cassiano: de spiritu fornicationis), não apenas fornicação, masturbação, mas todas as formas de obsessões sexuais, desvios ou compensações da pulsão genital.
4. Orge. (Cassiano: de spiritu irae), a ira, patologia do irascível.
5. Lype. (Cassiano: de spiritu tristiae), depressão, tristeza, melancolia.
6. Acedia. (Cassiano: de spiritu acediae), acédia, depressão com tendência suicida, desespero, pulsão de morte.
7. Kenodoxia. (Cassiano: de spiritu cenodoxiae), vanglória, inflação do ego.
8. Hyperephania. (Cassiano: de spiritu superbia), orgulho, paranoia, delírio esquizofrênico.
Esses oito sintomas terão uma longa história — desde São João Cassiano até Gregório Magno, que nos Moralia suprime a acédia, mas introduz a invidia (a inveja) e declara a superbia “fora de jogo” como rainha dos vícios, o que reduz o número a sete. Assim, os “oito sintomas” tornar-se-ão os “sete pecados capitais”, cuja lista foi difundida pela Contrarreforma. O moralismo fará com que se esqueça pouco a pouco o caráter médico de sua análise, pois, em sua origem, trata-se realmente da análise de uma espécie de câncer psico-espiritual ou câncer do livre-arbítrio, que corrói a alma e o corpo humano e destrói sua integridade. Trata-se, de fato, de analisar as influências nefastas que atuam sobre a liberdade, “desorientam” o homem e o fazem perder o sentido de sua finalidade teândrica.