Klimov (1997) – Boehme, sapateiro

Klimov1997 Se eu pegar uma pedra ou um torrão de terra e olhar para ele, posso ver o que está acima e o que está abaixo, Posso até ver o mundo inteiro…

Mysterium Magnum, II, 6. Quod est inferius, est sicut quod est superius. Essa máxima, extraída aqui de A Tábua de Esmeralda 1), nunca deixou de iluminar todos aqueles que, em sua busca pelo absoluto, poderiam ter atribuído a si mesmos essas linhas de Hadewijch: Às vezes humilhado, às vezes exaltado, oculto agora, manifesto logo, para ser um dia preenchido pelo amor, deve-se arriscar muitas aventuras antes de chegar ao ponto onde se saboreia a pura essência do Amor 2). A verdade dessa máxima foi incorporada por um dos mais cativantes aventureiros místicos, o sapateiro Jacob Boehme. Como se seu destino tivesse se espelhado em parte no do patriarca Enoque, que, antes de ser levado e colocado por Deus, sob o nome de Metatron, entre os seres angélicos, tinha sido, segundo os hassidim alemães da Idade Média, também um sapateiro: “Em cada ponto do furador, ele (Enoque) não juntava o couro de cima com o de baixo, mas tudo o que estava em cima com o que estava embaixo …”.

1)
Tabula Smaragdina de Alchemia, Hermetis Trismeg. in Alchemia, Norimbergae (Nuremberg) apud Ioh. Petreium, 1541, p. 363. Em sua forma atual ou com pequenas variações, essa máxima é frequentemente encontrada em escritos espirituais em geral e em textos alquímicos em particular. Assim, no “Psalter of Hermophilus”: “O que está acima é semelhante ao que está abaixo”. (Em Traités de la Transmutation des Métaux, ms. anon. du xviiie siècle, strophe XXV; citado por Claude d'Ygé, Nouvelle Assemblée des Philosophes chymiques, Paris, Dervv, 1954, p. 54). Sobre esse tema, veja em particular: G. R. Monod-Herzen, L'Alchimie méditerranéenne, Paris, Adyar, 1963, 214 p.; J. Evola, La Tradition hermétique, Paris, Editions Traditionnelles, 1963, pp. 35 e segs.; R. Guénon, “Les Symboles de l'analogie”, em Symboles fondamentaux de la Science sacrée, Paris, Gallimard, 1962, pp. 319 e segs.
2)
Poèmes spirituels, em Ecrits mystiques des Béguines, traduzido do holandês médio pelo Pe. J.-B., Paris, Le Seuil, 1954, p. 68.