Efrem — Endechas
Endechas, San Efrén, Apostolado Mariano, serie Los Santos Padres n° 14, Sevilla, España, sin fecha, 94 p., traducción y prólogo del P.A. Sebastián Ruiz, ISBN: 84-7770-182-2. Excertos
Prologo Tradução de Antonio Carneiro das páginas 3, 4 e 5.
Apresento este livro aos leitores de língua castelhana a tradução de Cinquenta Canções que a inspirada “Cítara do Espírito Santo”, Santo Efrem, diácono de Edesa, escreveu para quebrantar a “à terrível morte”. Oitenta e cinco cantos compõem toda a obra do santo doutor1), “o profeta dos sírios”. Os tradutores gregos e latinos entitularam com diversos nomes estes “Mâdrachê”. As oitenta e cinco nênias ou elegias, as “Necrosima” e Cânones fúnebres, versos fúnebres. Eu as chamo “Endechas”2).
Foram-no, na verdadeira acepção da palavra, para o povo sírio: composições breves, com estrofes de doze, dez, seis e quatro versos, terminados sempre por um estribilho; cantavam-nas o povo nas igrejas, nas ruas e na intimidade do lar, com saudades das pessoas queridas arrebatadas pela morte. Nelas S.Efrem, “a coluna da Igreja”, introduziu fórmulas de oração e expressões variadíssimas para inculcar entre o povo o dogma fundamental de nossa religião: a ressurreição da carne, impugnado pela heresia de Bardasanes, um dogmatizador da Síria, da Osroenia e outras províncias.
A leitura de uma destas endechas será o melhor sedante e consolo para todo aquele que perdeu um ser amado, um fiel amigo. A recordação de suas virtudes, de seu trato amável, de seus favores, a perda de uma ajuda valiosa, a separação, a tristura, o abandono e a corrupção do sepulcro, tudo isso é transitório. Cristo venceu a morte, Cristo é a primícia dos mortos e sua cruz nossa esperança de ressurreição. Os corpos humilhados que se desmoronam na tumba, desta morada de terra, na expressão litúrgica da Igreja tomada de “o profeta dos sírios” , que é necessário que se desfaça para levantar a habitação eterna nos céus ( Prefácio da Missa dos Defuntos); depois de ler uma endecha do doutor do Universo, São Efrem, já não causarão horror os cadáveres, nem repugnância seu odor, nem pavor o rezar junto à eles, porque ressuscitarão, quando lhes desperte a trompeta, para vestir-se de luminosidade, de imortalidade, de agilidade e de sutileza.
O tema triste da morte, na pluma e na cítara de um trovador do porte de São Efrém, se converte para o leitor em uma ação de graças, em uma explosão de amor e de esperança.
Eis aqui uma guia da obra.
Os Cantos fúnebres, obra poética das mais inspiradas de sua pluma, não são um poema com sua unidade de plano histórico ou didático, como lhes acreditou a poesia antiga de Grécia ou de Roma. A morte, inevitável depois do pecado de Adão para todo homem, é uma separação violenta da alma e do corpo e das pessoas amadas, e é um desamparo e abandono de tudo o que aqui possuímos. Este é o nó de todas as composições. Monótono em si, o tema varia, porque a morte colhe com seu alforge a toda classe de pessoas da sociedade. Não lhe entristece a morte dos bispos que foram bons pastores, castos, zelosos, praticantes de jejum e apóstolos da verdade. Oito panegíricos, as oito primeiras endechas (1-8), consolam à Igreja ao ficar viúva. Desde a 9 até a 13 exaltam a virtude dos sacerdotes e diáconos ; e para enaltecer a vida religiosa, seu desprendimento, mortificação, oração e obras de zelo escreveu quatorze endechas (14-27). O enterro dos príncipes e homens ricos lhe inspirou a 28, a mais cheia de ensinamentos morais e de um tom patético. A 29 consola os peregrinos, desde a 30 até a 33, com motivo da morte das mães de família, compôs verdadeiros tratados de teologia dogmática sobre o pecado e origem do mal, tema que trata também o santo em seus livros co0ntra os hereges. Terna é a linguagem e poéticas as expressões que emprega para encarecer aos jovens o aborrecimento do mundo e suas seduções, e consoladoras em extremo as frases em que canta a felicidade das crianças no céu (34-44).
Temas gerais são todos os tratados nas restantes composições (45-85): estragos da peste (castigo dos pecados dos povos); as mortes repentinas, a vanidade das coisas humanas consideradas a borda do sepulcro, etc.; o juízo particular e o juízo final, etc. Brilha com raios fulgentes a esperança da ressurreição, representada pela cruz, ganhada pelos méritos de Cristo, prometida aos que comem o Corpo e bebem o Sangue de Cristo.
São Efrém é o apaixonado pelo Cristo Rei, rei do Universo pela conquista das almas; o amante devoto da Cruz, a cruz salvadora, a cruz da esperança; mas é o doutor do dogma da ressurreição dos corpos o último dia do mundo.
Poeta e músico de um povo de poetas e cantores, São Efrém soube adaptar-se a seus leitores e ouvintes. A natureza, as flores, as aves, os rios e as montanhas lhe emprestaram as imagens; seu coração terno, as pregarias inflamadas e os áis de despedida das pessoas que vão se calar para sempre e a dormir-se entre os que não falam. Calar é morrer para um povo como o sírio, loquaz, alegre e cantor. No céu, depois da ressurreição, os santos tocarão a lira e cantarão salmos e louvações à Deus Ótimo Máximo. São Efrém não conhece mais livros que a Bíblia e nela busca sua inspiração. A linguagem simples do Santo Diácono de Edesa era preciso deixar-lhe em sua simplicidade e candor; para transcrever seu lirismo temos usado muitas vezes a forma estifoidal e traído menos seu pensamento, alargando a frase; o fizemos quando melhor lhe guardam seus tradutores latinos ou maronitas Assemani3), até hoje a melhor e a mais completa das edições de S. Efrém ( Roma 1743, em seis vol. in folio). Poucas vezes; três ou quatro, saltei estrofes para evitar repetições. As epígrafes das endechas são minhas e conservei a numeração romana de Assemani; assim terá mais cômoda a consulta do original da versão latina.
Notas: