Faivre (FETC) – Eckartshausen, Deus e Trindade

ECKARTSHAUSEN E A TEOSOFIA CRISTÃ (FETC) — DEUS

Mas o próprio Deus não poderia ser separado da ideia de Trindade, que é um de Seus atributos. Eckartshausen admite muito bem esse dogma, e não discute se o ternário divino deve ser substituído por um quaternário. Deus, como energia original, fonte de todos os seres pensantes, não poderia pensar outra perfeição senão a si mesmo. Esse pensamento de Sua própria perfeição foi o ideal no qual mergulhou todo o Seu ser, para produzir o terceiro termo a partir de seu segundo Eu. Assim, o poeta contempla a ideia de sua potência criadora, mergulha por inteiro nela, e cria o poema. A divindade se refletiu em si mesma, em sua própria essência e esse reflexo infinito produziu infinitas essências. A influência de Jacob Böhme é sensível nesta última frase, tirada de um texto publicado em 1819, dezesseis anos após a morte do autor e provavelmente redigido nos últimos meses de sua vida. Essa é uma das passagens de inspiração böhmista em Eckartshausen. Mas a imagem do espelho aparece já nos Eclaircissements sur la Magie. Em uma de suas primeiras obras teosóficas, Eckartshausen também escrevia que a Sabedoria, a Verdade e o Bem constituem a tríplice energia divina; o Pai é, portanto, a Sabedoria perfeita, o Filho a Bondade perfeita, o Espírito o Amor perfeito; esse ternário, que preenche tudo, constitui apenas uma única Unidade. Ele escreve ainda: a vontade eterna se chama o Pai, a Vontade manifestada o Filho — primeiro no Ungrund da profundidade divina —, a vida dessa vontade o Espírito. Esse ser triplo, na contemplação de si mesmo e Sua Sabedoria, existiu por toda a eternidade; não há nada na terra que não seja seu tipo, sua marca. A língua da divindade é tríplice também, como sua escrita. Esse ternário está inscrito no coração do homem: o Pai — a Força; o Filho — a Sabedoria; o Espírito — o Amor; ele é encontrado em toda parte. O Espírito Santo é emanação (Ausgehen) e manifestação permanente do Pai e do Filho. Cristo, antes de Sua encarnação, era o centro do mundo de Luz. Sua Luz, que penetrava tudo, sustentava tudo, é capaz de tornar tudo imortal, perfeito e infinitamente feliz. Adão, criado livre, podia assim desfrutar de sua felicidade paradisíaca. A ideia de “Cristo” em Eckartshausen deverá ser objeto de um capítulo particular; consideremos primeiramente certas formas religiosas de sua teologia, inseparáveis da noção de Divindade; trata-se da Sophia.