====== Saint-Martin (SMTN, VI) – Ser ====== Mas, sem discutir as diferentes opiniões que prevaleceram sobre esse assunto, podemos acreditar que o crime do homem foi ter abusado do conhecimento que tinha da união do princípio do Universo com o Universo. Não podemos duvidar, sequer, que a privação desse conhecimento seja a verdadeira pena por seu crime; já que todos nós sofremos essa punição irrevogável, pela ignorância em que nos encontramos sobre os laços que ligam nosso **Ser** intelectual à matéria. Quadro natural...: VI Considerando-a apenas nos seus efeitos relativos aos três reinos terrestres, notaremos que os minerais, ente enterrados na terra, são totalmente privados dessa luz; que os vegetais não são privados dela, mas a recebem sem a ver e sem desfrutar dela; que os animais a veem e desfrutam dela, mas não podem contemplá-la nem penetrar no conhecimento de suas leis; finalmente, que este último privilégio é reservado apenas ao homem ou a qualquer **Ser** dotado, como ele, das faculdades da inteligência. Quadro natural...: VI Se somente Deus conhece as cadeias que ligam nosso **Ser** intelectual à região temporal, somente Ele, sem dúvida, tem o poder de romper essas cadeias: mas não temamos dizer que Ele não tem a vontade de fazê-lo, visto que, se assim fosse, Ele agiria contra a sua justiça. Quadro natural...: VI E, de fato, os homens impuros podem ser separados de seus corpos, sem por isso serem separados de sua alma sensível; pois, segundo os princípios anteriores, se o seu corpo, embora real para os outros corpos, é apenas aparente para o seu **Ser** intelectual, eles devem ser, depois de se libertarem desse corpo, o que eram enquanto estavam encerrados nele. Quadro natural...: VI Além disso, como o homem pode manchar-se com vários crimes durante a sua vida e identificar-se com uma multidão de objetos contrários ao seu ser, ele deve, após a morte, experimentar sucessivamente todas as impressões relativas a esses objetos; ele deve alimentar-se ainda das afeições e dos gostos que lhe pareceram mais inocentes durante a sua vida, mas que, não tendo nada a oferecer-lhe como objetivo sólido e verdadeiro, deixam seu **Ser** na inação e no nada. Quadro natural...: VI São todas essas substâncias estranhas que então atormentam o suicida, como qualquer outro culpado privado da vida: “e talvez encontrássemos aqui alguma explicação para o sistema da metempsicose, no qual os homens, após a morte, continuam ligados a diferentes objetos elementares e até mesmo são transformados em plantas e animais vis; expressões que não são senão a representação dos gostos, dos vícios e dos objetos que o homem fez seus ídolos na Terra”. pois quem são aqueles cujo **Ser**, após a morte, será assaltado pelos tormentos e ilusões de sua alma sensível? Finalmente, quem serão aqueles cujo **Ser** viverá sensivelmente, embora separado de seu corpo? **Ser**ão aqueles que aqui na Terra viveram separados de seu **Ser**? Quadro natural...: VI De acordo com esses Princípios, já podemos reconhecer a sabedoria e a bondade do **Ser** divino, cujos decretos têm o caráter do amor. Ele só ordena aos homens o que pode aproximá-los dele, só lhes proíbe o que os afasta dele: e se todas as leis da Natureza e da razão proíbem o suicídio, é porque ele engana o homem, em vez de torná-lo mais feliz. Quadro natural...: VI Na verdade, o tempo não é mais do que o intervalo entre duas ações: é apenas uma contração, uma suspensão na ação das faculdades de um **Ser**. Assim, a cada ano, a cada mês, a cada semana, a cada dia, a cada hora, a cada momento, o princípio superior retira e devolve os poderes aos Seres, e é essa alternância que forma o tempo. Posso acrescentar, de passagem, que a extensão também experimenta essa alternativa, que está sujeita às mesmas progressões que o tempo: o que faz com que o tempo e o espaço sejam proporcionais. Quadro natural...: VI Finalmente, consideremos o tempo como o espaço contido entre duas linhas que formam um ângulo. Quanto mais os Seres estão distantes do vértice do ângulo, mais são obrigados a subdividir sua ação, para completá-la ou para percorrer o espaço de uma linha à outra; ao contrário, quanto mais estão próximos desse vértice, mais sua ação se simplifica: julguemos por isso qual deve ser a simplicidade da ação no **Ser** Princípio, que é ele mesmo o vértice do ângulo. Este **Ser**, não tendo que percorrer senão a unidade de sua própria essência para alcançar a plenitude de todos os seus atos e de todos os seus poderes, o tempo é absolutamente nulo para ele. Quadro natural...: VI Ao contrário, todo o peso do tempo se faz sentir por aquele que, tendo nascido para a unidade de ação, é colocado na extremidade das duas linhas. É por isso que, de todos os seres sensíveis, o homem é aquele que mais se aborrece; pois, sendo aquele cuja ação natural é hoje a mais distante daquela do seu Princípio; sendo o único **Ser** cuja ação é estranha a esta região terrestre, essa ação está perpetuamente suspensa e dividida nele. Quadro natural...: VI Seu **Ser** intelectual chegaria ao último termo de sua carreira temporal, com a mesma pureza que tinha ao iniciar seu curso. Veríamos na velhice unir os frutos da experiência com a inocência de sua primeira idade. Todos os passos de sua vida teriam feito descobrir nele a luz, a ciência, a simplicidade, a candura, porque todas essas coisas estão em sua essência. Finalmente, o germe que o animava teria se espalhado, sem se alterar; e ele voltaria, com a calma da virtude, para a mão que o formou, porque, ao representá-lo sem qualquer alteração, com o mesmo caráter e o mesmo selo que ele havia recebido, ela ainda reconheceria nele sua marca e sempre veria nele sua imagem. Quadro natural...: VI É isso que torna nossos julgamentos tão incertos sobre o destino dos homens, após a separação de seu **Ser** intelectual do corpo; já que não poderíamos justificar tais julgamentos, a não ser apoiando-os em uma base fixa e determinada, e nós só possuímos bases aparentes e relativas: “pois é dessa classe intelectual e invisível como do simples físico elementar; toda a Natureza é volátil e tende apenas a evaporar-se; ela o faria mesmo em um instante, se o fixo que a contém lhe pertencesse; mas esse fixo não é dela, está fora dela, embora agindo violentamente sobre ela; e ela nunca forma aliança com ele, a não ser que comece por uma dissolução; há também vários graus de alianças e amalgamas.” Quadro natural...: VI