====== Saint-Martin (SMTN, V) – Ser ====== De fato, sendo esse **Ser** a fonte primeira de todos os poderes, como se poderia conceber um poder que não fosse ele? Por onde, por quem, como poderia ele ser derrotado ou alterado, se todos os Seres surgiram do seu seio, mediata ou imediatamente, e se eles não têm outras faculdades e poderes reais além daqueles que ele lhes deu? Pois seria necessário supor, então, que ele poderia atacar a si mesmo. Quadro natural...: V Outras provas nos demonstram que nenhum **Ser** pode, nem jamais poderá, fazer nada contra Deus; pois se há aqueles que se declaram seus inimigos, ele não precisa vencê-los, basta deixá-los em suas próprias trevas; aqueles que querem atacá-lo ficam cegos pelo simples fato de quererem atacá-lo. Assim, pelo próprio fato, todos os seus esforços são infrutíferos, e todas as forças se tornam nulas e impotentes, uma vez que não veem mais para onde direcioná-las. Quadro natural...: V Sem isso, como poderia ele ter representado com exatidão o menor traço; e se o tivesse representado imperfeitamente, como aqueles que perderam de vista o **Ser** supremo poderiam ser culpados de continuar a desconhecê-lo? Quadro natural...: V Mas se é possível que o homem, na qualidade de **Ser** livre, tenha deixado de se apresentar no Templo com a humildade do Levita; que tenha querido colocar a Vítima no lugar do Sacerdote, e o Sacerdote no lugar do Deus que servia, a entrada do Templo teve que se fechar para ele; já que ele levava consigo e vinha buscar ali outra luz que não aquela que preenche sozinha toda a imensidão. Não foi preciso mais nada para que ele perdesse ao mesmo tempo o conhecimento e a visão das belezas do Templo, já que ele só podia vê-las em seu próprio lugar e ele mesmo se proibira de entrar. Quadro natural...: V Ele se iludiu em encontrar a luz em outro lugar que não fosse o **Ser** que é seu santuário e seu lar, e que só Ele poderia fazê-lo penetrar nela: ele acreditou poder obtê-la por outro caminho que não fosse ela mesma: ele acreditou, em uma palavra, que faculdades reais, fixas e positivas, poderiam se encontrar em dois Seres ao mesmo tempo. Ele deixou de se apegar à visão daquele em quem elas viviam com toda a sua força e esplendor, para voltar-se para outro **Ser**, do qual ousou acreditar que receberia a mesma ajuda. Quadro natural...: V Esse erro, ou melhor, esse crime insensato, em vez de garantir ao homem a permanência na paz e na luz, precipitou-o no abismo da confusão e das trevas: e isso sem que fosse necessário que o Princípio eterno da vida fizesse o menor uso de seus poderes para aumentar esse desastre. Sendo a felicidade por essência e a única fonte de felicidade de todos os Seres, ele agiria contra sua própria lei se os afastasse de um estado próprio para torná-los felizes. Finalmente, não podendo ser, por sua natureza, senão bem, paz e prazer, se Ele mesmo enviasse os males, a desordem e as privações, produziria coisas que o **Ser** perfeito não deve conhecer: o que demonstra que Ele não é e não pode ser o autor de nossos sofrimentos. Quadro natural...: V Veremos qual é a diferença entre esse **Ser** e nós, já que, quando fazemos o mal, somos nós os autores, e às vezes temos a injustiça de imputar-lhe a culpa; ao passo que, quando fazemos o bem, é ele quem o faz em nós e por nós e, depois de o ter feito em nós e por nós, ainda nos recompensa, como se tivéssemos sido nós mesmos que o tivéssemos feito. Quadro natural...: V Uma vez que o **Ser** divino é o único Princípio da luz e da verdade: uma vez que só Ele possui as faculdades fixas e positivas, nas quais reside exclusivamente a vida real e por essência: assim que o homem procurou essas faculdades em outro **Ser**, teve necessariamente que perdê-las de vista e encontrar apenas a simulação de todas essas virtudes. Quadro natural...: V Assim, tendo o homem deixado de ler na verdade, ele não pôde encontrar ao seu redor senão incerteza e erro. Tendo abandonado o único lugar onde reside o que é fixo e real, ele teve que entrar em uma região nova que, por suas ilusões e seu nada, era totalmente oposta àquela que acabara de deixar. Era necessário que essa região nova, pela multiplicidade de suas leis e ações, lhe mostrasse, em aparência, outra unidade que não a do **Ser** simples e outras verdades que não as suas. Por fim, foi necessário que o novo apoio em que ele se apoiava lhe apresentasse um quadro fictício de todas as faculdades, de todas as propriedades desse **Ser** simples, e, no entanto, ele não tivesse nenhuma. Quadro natural...: V No entanto, essas coisas sensíveis, que são apenas aparentes e nulas para a mente do homem, têm uma realidade análoga ao seu **Ser** sensível e material. A sabedoria é tão fecunda que estabelece proporções nas virtudes e nas realidades, em relação a cada classe de suas produções. Quadro natural...: V Sendo as coisas corporais e sensíveis nada para o **Ser** intelectual do homem, vemos como se deve apreciar o que se chama morte e que impressão ela pode produzir no homem sensato, que não se identificou com as ilusões dessas substâncias corruptíveis. Pois o corpo do homem, embora verdadeiro para os outros corpos, não tem, como eles, nenhuma realidade para a inteligência, e esta mal deve perceber que se separa dele: na verdade, quando o deixa, ela deixa apenas uma aparência, ou melhor, não deixa nada. Quadro natural...: V Se o prestígio das coisas temporais ainda não bastasse para nos demonstrar a diferença entre o estado atual do homem e seu estado primitivo, seria necessário lançar os olhos sobre o próprio homem; pois, tanto quanto é verdade que o estudo do homem nos fez descobrir em nós relações com o Primeiro de todos os Princípios e vestígios de uma origem gloriosa, tanto ele nos permite perceber uma terrível degradação. Para nos convencer disso, basta nos compararmos com o Princípio, cujas Faculdades e virtudes deveríamos, por nossa natureza, representar; é preciso ver quem de nós poderá justificar seus Títulos; é preciso ver se somos conformes ao **Ser** de quem descendemos, e que expressou em nós a imagem de sua sabedoria e ciência apenas para que o honrássemos. Quadro natural...: V Pois quando, repetindo o primeiro crime, o homem usurpa tão frequentemente os direitos da Divindade na Terra, é apenas para profanar o Seu Nome e degradá-lo com uma nova prostituição. Sob esse Nome sagrado, ele decide, ele desvia, ele engana, ele tiraniza, ele degola, ele massacra. Ei! Para com quem esse Deus tão estranho exerce direitos ainda mais estranhos? É para com o homem, para com o seu semelhante, para com um **Ser** da sua espécie e que, consequentemente, tem o mesmo direito que ele ao título de Deus. Quadro natural...: V Assim, colocando suas ações em contradição com seu orgulho, o homem apaga em si mesmo esse título glorioso, ao mesmo tempo em que quer revestir-se dele. Assim, ele toma o caminho mais seguro para destruir ao seu redor toda ideia de um Deus verdadeiro, apresentando-se apenas como um ser de mentira, fúria e devastação; um **Ser** que age apenas para desvirtuar tudo, para corromper tudo: e que demonstra a superioridade de seu poder apenas pela superioridade de suas injustiças loucas, de seus crimes e de suas atrocidades. Quadro natural...: V Poderia-se, portanto, exclamar com razão: Homens, era por meio de vocês que os ímpios deveriam conhecer a justiça, e mal conseguem responder quando lhes perguntam o que é a justiça; era por meio de vocês que eles deveriam ser trazidos de volta aos caminhos da luz, e vocês corrompem os caminhos. Era por meio de vocês que a verdade deveria aparecer, e vocês só oferecem mentiras. Como a justiça, a luz e a verdade serão conhecidas, se o **Ser** encarregado de expressá-las, não só não conservou a ideia delas, mas se esforça até mesmo para destruir os traços que estavam escritos nele e em toda a Natureza? Como se saberá que o princípio necessário é Santo e Eterno, se vocês professam o culto e a doutrina da matéria? Como saberão que ele só se ocupa de perdoar e que arde de amor pelos homens, se vocês só respiram ódio e pagam seus benefícios com blasfêmias? Enfim, como acreditarão na ordem e na vida, se vocês mostram em vocês mesmos apenas confusão e morte? Quadro natural...: V Embora não possamos comparar nossos títulos com a ignomínia que nos cobre, sem nos inclinarmos para a terra e sem procurarmos nos enterrar em seus abismos, no entanto, quiseram nos persuadir de que éramos felizes; como se fosse possível aniquilar essa verdade universal, de que não há felicidade para um **Ser** a não ser na medida em que ele está em sua lei. Quadro natural...: V Elas enfraquecem no homem o princípio da vida; corrompem-no até na sua essência; fazem com que aquele que diria a verdade, e que tinha apenas um passo a dar para obtê-la, veja extinguir-se em si esse impulso precioso, esse instinto virgem e sagrado, que o levava a buscá-la naturalmente como seu único apoio: enfim, o próprio Sábio sendo abalado, o Universo corre o risco de não mais conter um único homem virtuoso em seu seio: e eis os males deploráveis produzidos por essas falsas doutrinas que endurecem o homem em relação à lei de seu **Ser** e à privação em que se encontra de sua verdadeira morada. Quadro natural...: V Voltemos os olhos para o homem invisível. Incertezas sobre os tempos que precederam nosso **Ser**, sobre aqueles que se seguirão e sobre o próprio **Ser**, enquanto não sentimos suas relações, vagamos no meio de um número deserto, cuja entrada e saída parecem igualmente fugir diante de nós. Se relâmpagos brilhantes e passageiros cruzam às vezes nossas trevas, eles apenas as tornam mais assustadoras, ou nos degradam ainda mais, deixando-nos vislumbrar o que perdemos; e ainda, se penetram nelas, é apenas rodeados de vapores nebulosos e incertos, porque nossos sentidos não poderiam suportar seu brilho se se mostrassem a descoberto. Afinal, o homem é, em relação às impressões da vida superior, como o verme que não consegue suportar o ar da nossa atmosfera. Quadro natural...: V Seria então este o verdadeiro lugar do homem, deste **Ser** que corresponde ao centro de todas as ciências e de todas as felicidades? Aquele que, pelos seus pensamentos, pelos atos sublimes que emanam dele e pelas proporções de sua forma corporal, se anuncia como o representante do Deus vivo, estaria ele em seu lugar em um lugar coberto apenas de leprosos e cadáveres, em um lugar onde apenas a ignorância e a noite podem habitar; enfim, em um lugar onde esse homem infeliz não encontra nem mesmo onde descansar a cabeça? Quadro natural...: V Bem, entre esses Seres que estão sempre no gozo e na vida, um **Ser** incomparavelmente mais nobre, o homem, o pensamento do homem, sua inteligência, estão sujeitos a intervalos, a repousos, a suspensões, isto é, à inação e ao nada. Quadro natural...: V