====== Friedrich Oetinger ====== //« Encyclopédie des mystiques », org. Marie-Madeleine Davy// Pai da teosofia cristã na Suábia de seu tempo. De temperamento impressionável – mantém contatos pessoais no reino dos espíritos –, desde muito cedo piedoso e místico, alimentou-se primeiro de Malebranche, depois, por meio de Fende, descobriu a //Cabbala denudata// de Knorr von Rosenroth. Em Tübingen, um artesão lhe deu a conhecer as obras de Böhme; imediatamente, Oetinger abandonou Malebranche, assim como o arianismo que mais ou menos adotara como doutrina. Em Frankfurt, o judeu Cappel Hecht o iniciou na cabala judaica. Também conheceu Zinzendorf, mas pouco se entendeu com ele. Em Halle, um cabalista o interessou pela filosofia de Isaac Luria, que exerceu sobre ele uma influência decisiva, mesclada às de Böhme e Swedenborg. Para Oetinger, as //sephiroth// não são criaturas de Deus, mas formas da manifestação divina, emanação (//Ausstrahlung//) do ser divino no mundo das criaturas. Cabalista cristão, ele quer mostrar que as tradições esotéricas judaicas já continham as verdades da fé cristã, estabelece uma aproximação entre Böhme e Luria, e dá a conhecer ao pietismo alemão – através de Luria – o chassidismo, espiritualmente tão próximo do pietismo. Oetinger, o //Mago do Sul//, sempre se considerou um teólogo luterano e membro da Igreja Evangélica. Contra a teoria da mônada, opõe-se a Leibniz e a Wolff. Segundo ele, a dualidade surge do caos originário; fala frequentemente de "princípios opostos": tudo consiste em fogo e água, atração e repulsão. Oetinger substitui assim a concepção leibniziana, matemática e mecânica da natureza, por uma concepção orgânica segundo a qual um princípio espiritual faz a vida agir no mundo dos corpos; esse princípio, ele o chama, com Jakob Böhme, de //Tinktur// (tintura), e, como o //Filósofo Teutônico//, Oetinger descreve estados de combate e contradição onde Leibniz via, ao contrário, "passagens suaves". Oetinger, que assim se opõe à lei da continuidade, aproxima-se bastante do empirismo e do sensualismo; ele enfatiza a experiência e a percepção, em detrimento da matemática, um pouco como fazem Hamann, Matthias Claudius ou Franz von Baader. Reconhece-se aí a influência de Bacon. Isso porque Oetinger faz parte desses protestantes que, desde o século XVIII, em oposição à ortodoxia, ao //Aufklärung// e ao pietismo, desenvolvem uma compreensão particular e viva da história, concebida como o próprio lugar da revelação divina. É muito característico que, a esse respeito, Oetinger se oponha até mesmo a Lavater, a quem Jung-Stilling qualificava, no entanto, de //"Sinnlichkeitschrist"// (cristão sensual); pois Lavater, segundo Oetinger, não acredita suficientemente no corpo material, suas //Visões sobre a Eternidade// (1773) são ainda muito espiritualistas, apresentam um mundo transfigurado futuro, não se apegam suficientemente à letra do Evangelho. Para Oetinger, ainda desfrutamos no céu de alegrias corpóreas. Essa maneira de inserir a natureza na teologia é um dos traços de seu pensamento monista; tal apego à natureza, à realidade, está aliás em conformidade com um dos aspectos duradouros do pensamento protestante: Deus e o mundo se interpenetram. Oetinger, em busca de um vínculo entre a física terrestre e a física celeste, mostra como a natureza é uma "grande academia" e que a menor coisa, nas criaturas, testemunha as "invisibilidades" de Deus; ele vê em //Romanos 1:20// a confirmação de uma analogia completa entre o visível e o invisível, e essa analogia em si lhe prova que tudo, no além, //"deve ter figura"// (//"Leiblichkeit des Geistigen"// – corporalidade do espiritual). Toda a Escritura não representa os objetos espirituais como dotados de corporalidade (//Leiblichkeit ist das Ende der Werke Gottes// – "A corporalidade é o fim das obras de Deus"). Portanto, a magia, que busca o //nexus invisibilium cum invisibilibus// (o elo entre os invisíveis e os invisíveis), é a mais elevada das ciências. Oetinger dedica-se muito à alquimia. A revelação escatológica será uma inversão, //ut tandem exterius sit sicut interius// ("para que finalmente o exterior seja como o interior"). Ele desenvolve amplamente o tema do andrógino primitivo. Oetinger influencia muito os círculos pietistas do sul da Alemanha, em particular o de Michael Hahn, e a comunidade nazarena de Johann Jacob Wirz. Suas obras, frequentemente traduzidas para o russo, encontram muitos ecos, mais tarde, nos círculos maçônicos do Império de Alexandre I. Oetinger interessa-se muito por Swedenborg e contribui para difundir sua influência; é ele quem, pela primeira vez, traduz e publica em alemão um escrito desse visionário sueco. Por fim, os dois filósofos que mais tarde redescobrirão Böhme, isto é, Franz von Baader e Schelling, conhecem primeiro Böhme pela interpretação que Oetinger faz dele, utilizando o boehmismo como o próprio critério de uma crítica da ciência contemporânea. No entanto, Schelling também conhece Böhme através de Tieck, que o faz conhecer igualmente a Novalis.