====== Jean Daniélou — Símbolos Cristãos Primitivos ====== === //Jean Daniélou — Símbolos Cristãos Primitivos (JDSC) // === Introdução Contribuição e tradução de Antonio Carneiro das páginas 7 e 8 Antes de estender-se pelo mundo grego e romeno, e de tomar deles língua e imagens, o cristianismo conheceu uma primeira etapa em um meio judeu em que se falava arameu. Este judeu-cristianismo não teve futuro e sua pegadas forma desaparecendo pouco a pouco. Apesar disso, umas quantas obras raras, transmitidas em traduções feitas em línguas orientais, armênio, siríaco, copto e etíope, permitiram refazer pouco a pouco esta herança literária: tratam-se das Odes de Salomão, a Ascenção de Isaías, os Testamentos dos XII patriarcas e algumas mais. Em outro livro ] tratei de reconstruir sua mentalidade, cujas características procedem da apocalíptica judaica. É uma teologia da historia que se expressa por meio de símbolos. Deste modo cheguei a perguntar-me se algumas das imagens que nos legaram o cristianismo antigo não remontavam a este período primitivo e não era donde havia que buscar seu verdadeiro significado. A partir de 1954 fui publicando em várias revistas o resultado destas pesquisas. Este livro é um compêndio desses estudos, revisados e completados. Pude constatar a singularidade do símbolo da cruz, e sobretudo, o do arado. Creio ter reconhecido a importância da coroa na simbologia sacramental. Surpreendeu-me ver como se compara o batismo com um carro em que o homem se eleva ao céu. Inclusive cheguei a pensar que os símbolos mais conhecidos, sobretudo o do peixe, podiam ter uma significação diferente da que se lhe atribui de comum. Em todo caso, a singularidade destas conclusões deixava-me perplexo diante a mim mesmo. Nem preciso dizer o interesse com que li, em um número do “Osservatore Romano” de 06 de agosto de 1960, em um artigo de R.P. Bagatti, um dos melhores arqueólogos de Palestina, em que dava conta dos extraordinários descobrimentos feitos em Hebron, Nazareth e Jerusalém, e que permitiram trazer à luz um certo número de ossários e estelas funerárias, cujo caráter judeu-cristão é certo nos que se encontram, precisamente, a maior parte dos símbolos que havia reconhecido por minha parte como judeu-cristãos nos monumentos literários. Voltamos a encontrar o arado e a palma, a estrela e a vinha, a cruz e o peixe. Esses ossários pertenceram à uma comunidade judia-cristã que viveu em Palestina em fins do século I e durante o II. Os símbolos que aparecem neles tem sido estudados por R.P. Testa em uma tese apresentada no Instituto Bíblico de Roma, ainda não publicada e da que somente sei o que menciona o P. Bagatti, em seu artigo já citado, e o próprio autor no do “Osservatore Romano” de 25 de setembro de 1960 ]. Assim pois, temos diante nós a possibilidade de escrever nova página da história do Cristianismo. Até agora não havia nada mais obscuro para nós que o espaço que separa os primeiros começos da Igreja, descritos nas epístolas de São Paulo e nos Atos dos Apóstolos, de seu desenvolvimento no meio grego e latino, em Alexandria, Catargo e Roma. Este período obscuro começa a iluminar-se. E o que nos é revelado é precisamente a importância que teve nesse momento este cristianismo de estrutura semítica, do qual não tínhamos ideia, e alguns de cujos caracteres dão-nos a conhecer mediante o estudo da simbologia judaica-cristã.