====== Cura do leproso (Mc 1,40-45; Mt 8,2-4; Lc 5,12-15) ====== MILAGRES DE JESUS — CURA DO LEPROSO (Mc 1,40-45; Mt 8,2-4; Lc 5,12-15) EVANGELHO DE JESUS: Mc 1,40-45; Mt 8,2-4; Lc 5,12-15 //12 E assim, quando ele está em uma das cidades, eis, um homem cheio de sarna; ele vê Iéshoua‘, cai sobre suas faces e lhe implora, dizendo: «Adôn, se quiseres, podes purificar-me!»// //13 Ele estende a mão, toca-o e diz:// //«Eu quero, sê puro!»// //Logo a sarna vai para longe dele.// //14 Ele lhe ordena que não o diga a ninguém:// //«Mas vai-te embora, mostra-te ao ministrante, e oferece por tua purificação// //o que Moshè impôs, em testemunho para eles.»// //15 Cada vez mais a palavra se espalha à sua volta. Numerosas multidões reúnem-se// //para ouvi-lo e serem curadas por ele de suas enfermidades. // Marc-Alain Ouaknin: CONCERTO PARA QUATRO CONSOANTES SEM VOGAIS A cerimônia de purificação do leproso (Levítico 14) faz uso de dois pássaros; um é « sacrificado », o segundo, depois de molhado no sangue o primeiro, é enviado livre a superfície do campo. O Midrach diz: « Porque a purificação do leproso depende de dois pássaros puros? a Voz vem para expiar a voz ». Para a tradição do Midrach e do Talmude, a lepra, tsaraat, uma afecção do corpo consequente ao lachon hara, não « maledicência » como se traduz popularmente mas literalmente: « má língua », má relação à linguagem, distorção de nossa inscrição nas palavras. O Midrach conserva esta ideia fazendo derivar a palavra metsora (leproso) de uma contração da expressão motsi chem ra, quer dizer « aquele que faz sair um nome mal »... Esta expressão designa aquele que guarda o outro em um nome ou uma categoria não viável (ra) que lhe atribui de pronto uma identidade definitiva para melhor dominá-lo, apreendê-lo e compreendê-lo. Violência que consiste em crer que o homem é uma categoria entre outras, um objeto manipulável e apreensível à vontade. Violência que se exerce contra os outros, mas também contra si mesmo quando se perdeu a capacidade ética da invenção de si. O Midrach dá ainda uma segunda explicação: o leproso é aquele que perdeu a noção de culpabilidade e de responsabilidade. O pássaro, em hebreu tsipor, por seu canto, vem reparar esta situação. A palavra tsipor se lê também tserouf, que significa: combinação de letras de uma palavra para produzir outras palavras, e assim liberar e ouvir os elementos de uma estrutura a fim de gerir a possibilidade de existência a outras modalidades de formas. Mas tsipor, o pássaro, tem uma significação ainda mais essencial; ele é a metáfora da relação da linguagem e do real, o fato de conseguir introduzir na matéria do mundo uma palavra que a faça viver e a ponha em movimento. A palavra tsipor se compõe com efeito da palavra tsour, « o rochedo », e pe, « a boca »: literalmente, um pássaro « hebraico » é uma « boca » no interior de um « rochedo » ... (v. caverna) Ideia fundamental de todo pensamento cabalista: inscrever a linguagem no real do mundo, até a aliança primordial, marcar as palavras no corpo; é precisamente o sentido de circuncisão, mila, em hebreu, que significa a « palavra », sinônima de teva.