====== Evangelho de Tomé - Logion 104 ====== ==== Pla ==== Eles lhe disseram: Vem, oremos hoje e jejuemos. Jesus disse: Qual é o pecado que cometi, ou em que fui vencido? Quando o esposo tiver saído da câmara nupcial, então, que jejuem e orem! ==== Puech ==== Ils dirent ==== Roberto Pla ==== Pela terceira vez no Evangelho de Tomé encontram-se referências ao jejum e à oração: Logion 6; Logion 14 Os discípulos convidam Jesus a cumprir duas das três principais práticas de justiça (oração, jejum e esmola), segundo a Lei; mas os discípulos falam destas práticas em sentido manifesto e Jesus os responde segundo a vertente oculta que implica numa interpretação em espírito. Esta diferença proporciona o contraste conveniente para que o logion se expresse no habitual estilo paradoxal. * Para os judeus, a oração e o jejum eram, com a esmola, as três principais “práticas de justiça”. O jejum que Jesus fala é a privação do alimento de Vida, o qual na linguagem de Jesus equivale ao pecado, posto que significa permanecer na deficiência, em ignorância da plenitude. Em seu sentido oculto o pecado se opõe à justiça, como as trevas à luz (vide Jejum). Da oração diz Jesus que equivale à declaração de ter sido vencido e no Logion 14 havia dito: “Se orais os condenareis”. Isto se explica porque a oração entendida em seu sentido oculto, significa condenação da palha da alma e derrota do grão, do Ser; este é o duplo sentido, positivo e negativo, da oração, que convém entender (vide Pla - Oração). Tanto esse jejum como essa oração de Sentido manifesto - ordem manifesta que “eles” pedem, é coisa indicada para os que vivem em alguma das formas de dualidade. Por isso, não no sentido pejorativo, senão como o mais solidário de seus sentimentos, pede Jesus que “eles” pratiquem esse jejum e essa oração. ==== Leloup ==== * Se Deus está realmente presente, não há mais nada a orar nem a jejuar. Sua presença tudo preenche... * A câmara nupcial está plena de seu perfume... * Mas acontece que o Esposo sai da câmara, quer dizer que deixamos este estado de União entre o criado e o Incriado, então é necessário orar e jejuar para aí retornar... * Retornar do "exílio da Shekinah", dizem os rabinos, não mais ser exilados da Presença, nos repousar na Sua câmara alta... ==== Gillabert ==== * Mais uma vez os discípulos o convidam a orar e a jejuar com eles. * Confirma a hipótese de que a companhia de Jesus muda com o lugar e o tempo. * Na câmara nupcial, sou sem passado e sem futuro; não conheço nem Deus nem Lei. Se saio recaio sob o mando da lei. * O gnóstico não pode mais mudar de estado. Não pode conceber de se encontrar no plano psíquico. Para ele, o dois se tornou Um, não pela fusão de dois seres no amor, mas pela descoberta "de outro que Ele não é" e logo que ele não é outro que Ele.