CRISTOLOGIA

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====== Bunge – Acédia e Pensar, em Evágrio ======

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Como já foi dito, a akedia é primeiro, de forma geral, um 'pensamento', um dos 'oito pensamentos genéricos', cuja lista clássica remonta ao próprio Evagrio. No uso linguístico do monaquismo primitivo, o conceito de 'pensamento' (logismos) é tão ambivalente quanto o conceito de 'mundo' no Novo Testamento, e de fato pelas mesmas razões. Em si mesmo, um pensamento é uma manifestação natural e boa da nossa vida da alma, das nossas impressões e percepções, da nossa compreensão das coisas no mundo. De uma forma sutil, no entanto, os pensamentos podem se tornar um veículo para fixar o objetivo de alguém não de acordo com a criação. Então eles ganham a conotação de 'mau pensamento', no sentido de um incentivo ao mal. Como tal, eles são revelações da condição do nosso 'coração', e tornam visível a sua malícia, o seu desinteresse em Deus e a sua auto-ruína.

Os pensamentos entendidos num sentido positivo e também negativo têm origens distintas. Aos que vêm dos sentidos, da memória e do temperamento, juntam-se aqueles que os anjos e os demônios nos incitam. Se o ser humano dá o seu consentimento aos últimos – pois tudo depende do consentimento – o mal cria raízes em nós, e torna-se um 'habitus' (hábito) e depois uma paixão (pathos) da alma. A alma verdadeiramente sofre então como de uma doença, como Evagrio observa numa das suas cartas:

No entanto, sobre as paixões que ainda vos dominam, penso que a percepção é esta: dos pensamentos que nos perturbam, alguns vêm de fato da natureza, e outros da fraqueza da nossa vontade. Também da natureza são aqueles que nos acontecem por causa da raiva e do desejo. Os que provêm da natureza nos perturbam por uma longa duração, porque o intelecto os imprime em si mesmo ao pensar e é abraçado por eles, sobre os quais a Escritura diz: 'Passai rapidamente. Não vos demoreis neste lugar!' No entanto, aqueles que vêm da vontade incomodam o intelecto quando ele consente neles. Mas está escrito: 'Não desejeis estar com eles.' Portanto,  nos perturbam por causa da longevidade e da ação do pecado.

Pensamentos naturais são, sem dúvida, capazes de criar até mesmo raiva e desejo  na medida em que dispersam o intelecto através das vossas muitas ocupações; que ele  então faça todo o esforço para tomar os remédios apropriados, nomeadamente fome, sede, vigílias, retirada do mundo habitado e oração . . . .

À primeira vista, esta passagem poderia criar a impressão de que Evagrio considera os pensamentos como o que nós chamamos de 'doença hereditária'. No entanto, com 'natureza', 'sangue' e 'os pais', algo inteiramente diferente é significado, como aprendemos do resto da carta e dos textos relacionados. Lembre-se que para Evagrio nenhum mal pode vir da natureza, uma vez que isto de fato significa a realidade original da criação. Um 'pensamento que vem da natureza humana' é, por exemplo, um 'pelo qual, mesmo os pagãos, quando movidos por ele, amam os seus filhos e honram os seus pais.' Também, o que se entende são aquelas 'sementes de virtude', da indestrutibilidade das quais Evagrio está convencido, que são, portanto, comuns a todos os seres humanos, mesmo os piores pecadores.

No entanto, os demônios são capazes de usar 'pensamentos' que são bons em si mesmos, por exemplo, quando eles distorcem o amor natural dos pais e filhos, e o usam contra o amor de Deus. Evagrio observa que Cristo fala disto, que ninguém pode segui-lo se não 'odiar' pai, mãe, irmão, e assim por diante. Evagrio observa com precisão que estes pensamentos são extraordinariamente duradouros, uma vez que os laços de sangue são de fato os mais fortes. Mas Evagrio não é um fatalista. O ser humano não é entregue nem a estes pensamentos naturais, nem àqueles que provêm da sua fraqueza de vontade, nem mais aos incitamentos demoníacos.

Três pensamentos se opõem ao pensamento demoníaco, e eles o cortam, se ele persiste no nosso pensamento. O primeiro é o que vem dos anjos sagrados que se agitam em nós de uma forma oculta. O segundo é o que provém da inclinação da nossa própria vontade para o que lhe é próprio. O terceiro é o que provém da natureza humana, ao cujo incitamento mesmo os pagãos amam os seus filhos e honram os seus pais.

Os nossos 'pensamentos' são estruturas muito complexas. É fundamental que para Evagrio a 'natureza' é boa; no entanto, este bem pode ser distorcido de várias formas. Os demônios são capazes de distorcer não apenas os nossos sentimentos naturais, mas até mesmo a nossa memória, assim como eles podem influenciar a nossa condição física.