Diálogos Anjo

Ascetismo e Misticismo — Diálogos com o Anjo

Excertos traduzidos de resenha feita por Henri Blanquart, publicada em Epignosis n. 17, 1987

Em 1943, quatro amigos, dos quais três, Hanna e seu marido Joseph, assim como Lili, são judeus, e a quarta, Gitta, cristã, se reúnem regularmente. Nenhuma destas quatro pessoas pratica sua religião. Todavia, estes quatro amigos eram autênticos «buscadores»: «Cada noite, diz Gitta em sua Introdução, depois do trabalho, tínhamos conversações apaixonadas no curso das quais Hanna nos aportava uma certa ajuda por sua intuição penetrante das coisas». No dia 25 de junho de 1943, Gitta, Hanna e Lili estavam juntas quando Hanna teve só tempo de prevenir: «Atenção, não é mais eu quem fala!» Gitta nota: «Entendo bem a voz de Hanna e ao mesmo tempo sei com certeza que neste momento ela só é um instrumento».

Ora Hanna não é médium. Não se trata de modo algum, ao longo destas «conversas», que vão prosseguir até 24 de novembro de 1944, de mediunidade, de espiritismo, de ocultismo ou do quer que seja deste gênero. Da maneira límpida, Hanna vai ser a «porta-voz», o «tubo» através do qual os «anjos» destas quatro pessoas vão se exprimir um de cada vez e dar um ensinamento da mais alta espiritualidade.

O que choca na leitura dos Diálogos, é o universalismo deste ensinamento. Algumas frases poderiam ser postas na boca de um Mestre do Vedanta, na de um Mestre Zen, etc. Certo é que algumas referências são por vezes feitas ao Cristianismo, de maneira explícita, mas sempre a título de exemplo conhecido, não como ensinamento desta religião. E quando um ou outro dos quatro amigos põe uma questão sobre o Yoga ou sobre o Karma, noções e práticas especificamente orientais, a resposta vem, imediatamente, como se estas noções não cristãs fossem evidentemente conhecidas por todo mundo. Quando Gitta demanda: «Quem fui eu antes de nascer?», a resposta foi: «Tu ainda não nasceu». Se creria entender Sri Ramana Maharshi, o grande Sábio hindu, representante eminente do ensinamento do Vedanta.

Sim, a essência do ensinamento dos Diálogos não pode se comparar a noções catequísticas: trata-se aqui não de um ensinamento religioso, mas a um ensinamento espiritual, do mais alto nível.

Ora, se pomos a questão: Quem são estes «Anjos»? Gitta Mallasz, graças a quem estes Diálogos puderam ser revelados ao público, não hesita a defini-los como «o Mestre Interior» de cada um de nós. Não se pode impedir, bem entendido, de fazer referência à noção cristã de «anjo da guarda». Mas este «anjo da guarda» é percebido pelos cristãos como uma entidade exterior a eles, carregada de guiá-los e de protegê-los. Uma melhor comparação é aquela, oriental ainda, de Atman, a «Centelha Divina» em nós, e nos lembramos igualmente do ensinamento do Bardo Thodol, o Livro dos Mortos tibetano, que expõe, de maneira explícita, o fato que nossa consciência se encontra atualmente mergulhada em nosso ego, enquanto seu lugar imutável e eterno se situa na Centelha Divina em nós («Cristo em nós» de São Paulo).