O Diálogo do Salvador também emprega ditos de Jesus que podem derivar do Evangelho de Tomé, e incorpora esses ditos em um diálogo de Jesus com seus discípulos. A forma dialógica do texto permite mais liberdade de expressão e mais expansão sobre os temas, à medida que os ditos de Jesus e outros materiais são trabalhados no texto. Em sua análise do Diálogo do Salvador, Helmut Koester e Elaine Pagels identificam até cinco fontes que podem ter sido consultadas na composição do presente texto e sugerem que fontes cosmológicas, apocalípticas e outras foram usadas além das palavras de Jesus.
O texto do Diálogo do Salvador começa com Jesus dizendo a seus discípulos: “Agora chegou a hora, irmãos e irmãs, de deixarmos nosso trabalho para trás e descansarmos, pois quem descansa, descansa para sempre” (120). Jesus prossegue ensinando aos discípulos uma oração — outra Oração do Senhor — e continua, pelo que podemos perceber no texto fragmentado, a ensinar sobre o fim de todas as coisas. Ele diz palavras de conforto e tranquilidade aos discípulos e, como no Evangelho de Tomé Logion 22, aconselha: “Faça com que o que está [dentro] de você e o que está [fora de você sejam um só]” (123). Segue-se um diálogo, e Jesus e seus discípulos discutem a vida interior, o espírito, o corpo, a luz, as trevas, a criação, a palavra, o fogo, a água, o mundo, os governantes do mundo, a plenitude, a deficiência, a vida e a morte — temas típicos dos textos gnósticos. No meio do diálogo, Jesus reitera o que diz no Evangelho de Tomé: “E eu lhes digo: aquele que [tem] poder renuncie [a ele e] se arrependa, e aquele que [sabe] busque, encontre e se alegre” (129). A própria Maria de Magdala profere três palavras de sabedoria que geralmente são pronunciadas por Jesus:
A maldade de cada dia [é suficiente].
Os trabalhadores merecem seu alimento.
Os discípulos se assemelham a seus mestres.
Por sua perspicácia, Maria é elogiada no texto, e é dito: “Ela fez essa declaração como uma mulher que entendia tudo” (139).23
De acordo com Jesus no Diálogo do Salvador, o objetivo dessa investigação sobre conhecimento e compreensão — essa busca e descoberta — é a salvação. Jesus diz, mais uma vez em termos que lembram o Evangelho de Tomé, que o que deve ser buscado está dentro, e é do espírito: “Eu lhe digo [a verdade], veja, o que você busca e pergunta [está] dentro de você, e [tem] o poder e o mistério [do] espírito, pois [vem] do [espírito]” (128).