DIVINODEUSES


Christophe Andruzac, comenta em citando Platão:
Existe em nosso país, lançados por escrito, sobre o tema dos Deuses, dissertações que, a respeito do que tenciono contar, não existem em teu país por causa da excelência de teu regime político, umas em versos de diversas espécies, outras em prosa, das quais as mais antigas expõem como se produziu a geração original do céu e de todo o resto, em seguida, sem que seu progresso tenha demandado muito tempo, como teve lugar a geração dos Deuses e quais relações, uma vez nascidos, eles tiveram uns com os outros. Que efeito, em bem ou em mal, estas exposições tiveram sobre a mente daqueles que delas foram os ouvintes? Eis aí o que não é fácil de apreciar, dado que se trata de obras muito antigas; sempre é que ( … ) de minha parte ( … ) não poderia dizer ( … ) sob que relação elas respondem a uma realidade» (Leis X). Se recusando e escrutar estes textos por razões proveniente evidentemente da consciência religiosa, Platão pôde transpôr ao nível poético certos temas que não conhecia então só por ouvir dizer. Ora Platão teria uma lucidez filosófica suficiente para se premunir eficazmente contra este risco? Sabe-se que a resposta de Aristóteles foi negativa, e isto sem equívoco.

Pierre Gordon: A REVELAÇÃO PRIMITIVA — A TEOCRACIA ANTIGA
Identidade original de deuses e demônios. Sua diferenciação, em certos povos, foi muito lenta (v. Demônios). Quanto aos deuses, os principais se modelaram na Ilha Santa e na Montanha, em seguida sobre o ritual de criação, em terceiro lugar sobre os personagens dirigentes das iniciações. Se adicionamos a esta lista a Mãe Divina, devido à conformação espiritual do matriarcado pela teocracia, obtemos todos os grandes deuses dos panteões antigos. Esta elite divina não resulta, como o admitem as teorias correntes, de um exame e de uma seleção operadas lentamente sobre uma multitude de divindades inferiores. Ela se afirmou desde o início do politeísmo e do polidemonismo, porque ela era a simples transposição, em linguagem degradada, das visões primordiais da teocracia sobre a organização terrestre do sagrado.

Ananda Coomaraswamy: O SACRIFICADO; OS NOMES DOS DEUSES

Ou Filhos de Deus. Veja Boehme em Signatura Rerum XIV.5: “Cada príncipe angelical é uma propriedade da voz de Deus e leva o grande nome de Deus”. É com relação a essas forças que se diz que “todas essas coisas estão em mim” ([wiki base=”en”]Jaiminiya Upanixade Brahmana[/wiki] 1.14.2), que “todas as coisas estão cheias de deuses” (Tales, mencionado por Platão em Leis, 899b) e “quando os deuses fizeram do Homem (purusha) a sua casa mortal, foram habitá-lo” ([wiki base=”en”]Atharva Veda Samhita[/wiki] XI.8.18); também “iniciado de fato é aquele cujos ‘deuses interiores’ são iniciados, a mente pela Mente, a voz pela Voz” etc. ([wiki base=”en”]Kausitaki Brahmana[/wiki] VII.4). Não é necessário dizer que essa multiplicidade de deuses (dezenas e milhares) não é um politeísmo, pois todos os súditos angelicais da Divindade Suprema da qual se originam e em quem, como sempre ouvimos falar, “se tornam de novo um único”. Sua operação é uma epifania1): “Em verdade este Brahma brilha quando o vemos com os olhos e do mesmo modo morre quando não o vemos”. Esses “deuses” são Anjos ou, como disse Fílon, são as ideias, isto é, razões eternas.

Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 30

No curso de acusações de blasfêmia e para rechaçá-las , recorre Jesus a um texto do saltério: “Eu disse: sois deuses” (Jo 10,34; Sl 82,6). Esta locução serve a Jesus de argumento, porque é uma afirmação que vem de Deus segundo o salmo e se aqueles aos quais foi dirigida a Palavra são, por ela, qualificados de “deuses”, quanto mais Jesus, que é a Palavra mesma, tem autoridade para reivindicar em justiça sua fidelidade com respeito a Deus.

O argumento evangélico foi qualificado por alguns como a fortiori. Mas há de se entender bem o sentido do salmo, pois ocorre que o importante para o evangelista não é, seguramente, o cenário daquela festa de Dedicação em Jerusalém, nem os termos da acusação dos judeus e a defesa de Jesus, pois essas coisas parecem mais um pretexto para a menção do salmo 82, pela relação que ali se aponta, e que convém que seja objeto de estudo, entre os deuses julgadores da assembleia divina, filhos todos do Altíssimo e o Filho de Deus ao qual, segundo explicou Jesus a seus discípulos: (o Pai), “lhe deu poder para julgar, porque é Filho do homem” (Jo 5,26).

Se entendeu tradicionalmente que sob a denominação de “deuses” se dirige Deus, segundo o texto do salmo, a uns juízes terrenos que se comportaram inicialmente em seus juízos; mas esta não é a interpretação que sugere o evangelho. Jesus confirma decididamente — e alega que ”a Escritura não pode falhar” — a condição de “deuses”, quer dizer de seres celestiais, ou “anjos”, e não de juízes terrenos chamados metaforicamente “deuses”, de todos aqueles que instituídos em “filhos de Deus Altíssimo” são partícipes da Palavra de Deus e, em consequência, são “perfeitamente uno” com ele, com a Palavra, qual “gotas” da luz verdadeira.


  1. (Kausitaki_Brahmana|Kaus II. 12.3