Henri Crouzel — Orígenes e Plotino
Excertos do livro Origène et Plotinus — comparaisons doctrinales, publicado pela editora Pierre Téqui, em 1991.
Capítulo II: O Filho origeneano e a inteligência plotiniana (CHAPITRE II : LE FILS ORIGÉNIEN ET L’INTELLIGENCE PLOTINIENNE)
Uma comparação entre a doutrina plotiniana da segunda hipóstase e o Filho segundo Orígenes só pode levar em consideração a natureza divina deste último. As reações de Plotino diante a Encarnação, da qual não se sabe nada diretamente, não deveriam ser muito diferentes daquelas de Celso relatadas e discutidas por Orígenes em seu Contra Celso. O Deus imutável não poderia intervir assim nos afazeres humanos. A vinda de um Deus ou de um Filho de Deus entre os homens, revestindo uma natureza humana, é inconcebível (Contra Celso). Eis porque o Cristo encarnado não intervirá a não ser passageiramente em nossa comparação. A ignorância, ou melhor a recusa, da Encarnação representa evidentemente a divergência fundamental entre Plotino e Orígenes: a ideia de um Deus voltado unicamente para ele mesmo ou voltado para o mundo lhe é estreitamente ligada.
1. A geração (La génération)
*Plotino
**A inteligência é engendrada pelo Uno, mas sem movimento de sua parte, pois permanece sempre voltada para ele mesmo. Trata-se de uma geração produzida de toda eternidade. Ela tem lugar sem inclinação do Uno para fora dele, sem ato de vontade, por uma radiância comparável à claridade que sai do sol, ao calor que emite o fogo, ao frio que vem da neve. Ela é também contínua, pois “tudo que é perfeito engendra; o que é sempre perfeito engendra sempre, e do eterno”. O Uno engendra assim o maior depois dele, o segundo, a Inteligência. Tudo que engendra em seguida a Inteligência é inteligência, mas ela é melhor que tudo o que vem após ela. Para ser Inteligência ela deve olhar em direção ao Uno: “Ela o vê não sendo dele separada, mas porque ela está com ele e que não há nada entre eles”. O princípio geral seguinte se aplica a fortiori a ela: “Todo ser deseja o que o engendrou e o ama: quando o genitor é o melhor, o engendrado é necessariamente com ele, separado somente pela alteridade”. ENÉADAS V,1
*Orígenes
**A questão da geração do Filho é tratada em diversas passagens do Tratado do Princípios e do Comentários sobre João. No primeiro destes escritos Orígenes distingue claramente esta geração de uma geração humana ou animal que comportaria uma separação de substância, uma probole, em latim “prolatio”, o que faria crer que Deus é corpo: a opinião combatida é aquela que atribui aos valentinianos (Valentino). A consequência é que, sendo distinto do Pai, o Filho dele não se separa, mesmo durante a Encarnação onde está ao mesmo tempo presente no Pai — e o Pai no Filho — e sobre a terra com sua alma humana (Comentários sobre João). Este ponto é confirmado pelo “Agradecimento à Orígenes” de Gregório o Taumaturgo: o Pai “por assim dizer, se envelopa do Filho”.
2. As etapas (da razão) na geração, da inteligência e da matéria inteligível (Les étapes (de raison) dans la génération, de l’Intelligence et la matière intelligible)
3. O Segundo, uno e múltiplo (Le Second, un et multiple)
4. O Segundo e o Belo (Le Second et le Beau)
5. O conhecimento de que desfruta o Segundo (La connaissance dont jouit le Second)
6. As características do Segundo (Les caractéristiques du Second)
7. O Segundo entre os dois outros (Le Second entre les deux autres)