Crouzel Apokatastasis IV

Henri CrouzelOrígenes, um teólogo controvertido

ORÍGENES, Un teólogo controvertido, Henri CROUZEL. Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1998, 379 p. ISBN: 84-7914-363-0, traducción española de la edición original en frances: Origène por las Monjas Benedictinas de la Abadía Santa Escolástica de Victoria, Buenos Aires (Argentina). Tradução de Antonio Carneiro das paginas 362 até 374

APOCATÁSTASE

Certamente, os que buscam em Orígenes um “sistema”, com risco de prescindir das três quartas partes do que fica de seu pensamento e ainda no Tratado dos Princípios , para sistematizar as poucas afirmações que retém, não ficarão satisfeitos com nossa exposição sobre os últimos dias segundo o Alexandrino, pois ela destaca as numerosas matizes, vacilações, posições discordantes, sobretudo no referente à ressurreição e à apocatástase. Partirão do princípio de que esta última deva ser tão universal quanto a queda na pré-existência, de que se havia livrado unicamente a alma unida ao Verbo. Mas de fato, segundo várias passagens do Tratado dos Princípios , elas não levam em conta, tem outras almas, além da de Cristo, que não participaram da queda. então, para ser razoável como eles, porque seria absolutamente universal a apocatástase se a queda não o é ?

Entre os partidários de um “sistema” de Orígenes e nós a oposição depende do conceito de ciência histórica. Estudar uma doutrina é acaso projetar sobre ela uma espécie de marco geométrico em grandes traços que acentuem algumas características deixando outras à sombra, como lamentavelmente obriga a fazê-lo às vezes o ensino escolar ? Ou então, é tentar, em quanto o permitem as possibilidades humanas, jamais perfeitamente adequadas à tarefa, mostrar o melhor possível os diferentes pontos desta doutrina segundo o valor que lhes dá seu autor, sem descuidar dos matizes, dos titubeios, das antíteses, das tensões, e até — porque não — das contradições, se as tem ? Um pensamento humano vivo é mais interessante que um sistema. E quando se trata de Deus e das realidades divinas,incognoscíveis pela natureza, todo sistema se revela gravemente deficiente, e com frequência herético, porque não capta a antítese que expressa o real, é o resultado de certa estreiteza do espírito.

Um homem tão apaixonado por Deus e pelo conhecimento do divino como o é Orígenes não chega a Deus mediante um sistema, mas sim por todos os meios, intelectuais ou místicos, que estão à sua disposição, ainda que no caso de que estes meios não constituam um sistema regido por uma lógica racionalista e na obscuridade da fé, que é a nossa, não se envergonha de andar às apalpadelas. Mas, estes tateios são muito mais comovedores e interessantes que os sistemas melhor construídos.