Crouzel Apocatástase

Henri CrouzelOrígenes, um teólogo controvertido

ORÍGENES, Un teólogo controvertido, Henri CROUZEL. Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1998, 379 p. ISBN: 84-7914-363-0, traducción española de la edición original en frances: Origène por las Monjas Benedictinas de la Abadía Santa Escolástica de Victoria, Buenos Aires (Argentina). Tradução de Antonio Carneiro das paginas 362 até 374

A apocatástase

Este vocábulo, que significa restauração, restabelecimento, e cujo equivalente latino é restitutio, designa habitualmente a doutrina da restauração de todas as coisas no final dos tempos, é atribuído à Orígenes e Gregório de Nissa. O substantivo apokatastasis e o verbo apokathistèmi são empregados por Orígenes com bastante moderação, em diversos sentidos, alguns dos quais podem ser considerados como simbolizando alegoricamente a apocatástase final, como o retorno dos israelitas à seu país depois do exílio. No primeiro livro do Comentário à João menciona-se “o que se chama a apocatástase” definida pela situação indicada por Paulo em 1 Cor 15, 25. Essa expressão: “o que se chama” mostra que Orígenes não é o inventor dessa apocatástase que ele já havia encontrado [em alguém que usou] antes que ele, em relação ao versículo paulino. No Tratado dos Princípios os dois empregos de apokatastasis nos textos da Filocalia não se referem à nossa apocatástase, mas na versão de Rufino se fala por três vezes de restitutio omnium ou de perfecta universae creaturae restitutio e às vezes no mesmo sentido do verbo restituere.

O texto principal em que se baseia a apocatástase origeneana é 1 Cor 15, 23 — 28, que se refere à ressurreição dos mortos: “Cada qual (ressuscitará) em sua própria categoria: Cristo como primícia, logo os que são de Cristo em sua Vinda, depois o fim, quando entregue o reino à Deus seu Pai, depois de ter destruído toda Dominação, Principado e Potestade. Porque ele deve reinar até que ponha todos os seus inimigos baixo seus pés. O último inimigo destruído será a morte. Porque (Deus) submeteu tudo sob seus pés. Quando se diz que tudo lhe foi submetido, está claro que se excetua aquele que lhe submeteu todas as coisas. Quando tudo lhe esteja submetido, então o Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas para que Deus seja tudo em todos.”

Nada do que possuímos da obra de Orígenes permite atribuir-lhe a opinião que lhe designa Teófilo de que esta transmissão de poder do Filho ao Pai signifique a cessação do reinado do Filho, como afirma Teófilo do princípio ao fim de sua Carta Pascoal de 401. A submissão do Filho ao Pai é interpretada por Orígenes como o submetimento ao Pai de toda a criação racional, mais adiante submetida ao Filho; não quer dizer, como pretendem os hereges, que o Filho não esteja submetido ao Pai antes desta submissão final que coincide com o dom que faz o Pai da perfeição da bem-aventurança.

Acerca do uso que faz Orígenes destes versículos paulinos se apresentam diversas perguntas às quais devemos responder, não partindo de textos isolados, mas sim do conjunto da obra. 1) Orígenes apresenta esta restauração como incorpórea ? 2) Como panteísta ? É para ele absolutamente universal, supondo a volta ao estado de graça dos demônios e dos condenados, e ele atribui à esta universalidade, se é que existe universalidade, um valor de afirmação dogmática, ou simplesmente é o objeto de uma grande esperança ? 4) De onde provem a insistência de Orígenes neste texto paulino e na “restauração” de todas as coisas?

SEGUE: I; II; III; IV