Henri Crouzel — Orígenes e Plotino
Excertos do livro Origène et Plotinus — comparaisons doctrinales, publicado pela editora Pierre Téqui, em 1991.
Capítulo III: A Alma do Mundo segundo Plotino e suas correspondência origeneanas (CHAPITRE III : L’ÂME DU MONDE SELON PLOTIN ET SES CORRESPONDANCES ORIGENIENNES)
Exposição da doutrina plotiniana da Alma do Mundo, fazendo algumas notas secundárias concernentes a Orígenes. A última parte trata das correspondências origeneanas, Um apêndice se ocupa dos demônios plotinianos e de seus correspondentes origeneanos, anjos e demônios.
1. A Alma do Mundo segundo Plotino (L’Âme du Monde selon Plotinus)
Enquanto o Uno, embora tudo dele derive, não sai dele mesmo e não se volta em direção ao que ele engendra, enquanto a Inteligência, na qual se encontram os princípios dos seres, a saber todo inteligível, não deixa o mundo do Alto, o ekei, a Alma do Mundo é o intermediário entre o mundo superior e o mundo sensível. Este último compreende por um lado seu mais alto grau, o céu astral, e por outro o mundo de baixo onde vivemos. Ela, a Alma do Mundo, olha portanto ao mesmo tempo para o Alto donde procede e para baixo que ela anima, por intermédio das almas particulares, ao mesmo tempo unidas a ela e tendo sua individualidade. Mas ela não deixa o mundo superior.
A. Natureza da alma (Nature de l’âme)
*Plotino
**O que se vai dizer aplica-se ao mesmo tempo, mutatis mutandis, à Alma do Mundo e às almas particulares. A alma é aparentada à natureza mais divina e eterna. Ela não tem corpo (Tratado 26), logo não tem figura exterior (schema), nem de cor, e não se pode tocá-la. A alma que não está unida a um corpo contém nela os bens melhores que são as virtudes. Ela pertence ao universo divino e eterno, ela é parente do divino e unida a ele por sua natureza: ela é portanto completamente imortal. Mas tudo o que é aditado à alma, o corpo por exemplo para as almas descidas aqui, a diminui: a inteligência em seu estado de pureza não vê nada do que é mortal, mas ela se vê no que é inteligível e puro; com aquilo que nela é imortal ela considera o imortal, todo o inteligível, o mundo luminoso, esclarecido pela verdade que vem do Bem. Ela é semelhante ao divino. É preciso portanto que a alma (humana) se purifique para chegar a conhecer tudo isso (Tratado 2). Se toda alma fosse corruptível ela teria perecido há muito tempo. Com efeito para Plotino o mundo não teve começo. Não se pode dizer que se a Alma do universo é imortal a nossa não é e não se poderia dar razões de tal afirmação. Cada uma é princípio de movimento, cada uma vive por ela mesma e sua inteligência as põe em contato com as mesmas realidades, aquelas do céu astral, aquelas que são além do céu, a saber o mundo do Alto, quando elas buscam tudo aquilo que tem o ser e que elas sobem até o princípio primeiro. A alma é una e simples e não pode se decompor pois ela não tem elementos: ela é indestrutível (Tratado 4). Embira não admitindo qualquer divisão ela é veiculada por todos os seres porque estes últimos não podem ser sem ela: ela está como no círculo o centro de onde partem os raios. A alma é ao mesmo tempo una e múltipla, una por ela mesma, múltipla pelos corpos que ela anima e que são compostos de partes: mas ela é inteiramente em cada parte. Esta multiplicidade coexistindo com a simplicidade poderia também ser constituída pelas razões do que é produzido: “a alma é razão e a soma das razões: as razões são seu ato quando ela age segundo sua essência”. (Tratado 4; Tratado 43).
B. Processão e conversão da Alma do Mundo (Procession et conversion de l’Âme du Monde)
C. A Alma do Mundo e o Mundo (L’Âme du Monde et le Monde)
D. A Alma do Mundo e a providência (L’Âme du Monde et la providence)
E. A Alma do Mundo e o tempo (L’Âme du Monde et le temps)
F. A Alma e as ideias, razões ou formas (L’Ame et les idées, raisons ou formes)
G. A Alma do Mundo e as almas individuais (L’Âme du Monde et les âmes individuelles)
2. Correspondências origeneanas da Alma do Mundo (Correspondances origeniennes de l’Âme du Monde)
A. O Espírito Santo (Le Saint-Esprit)
B. O Pai e o Filho, Alma do Mundo (Le Père et le Fils, Âme du Monde)
C. A alma humana do Cristo, esposo da Igreja e das almas (L’âme humaine du Christ, époux de l’Église et des âmes)