Cristianismo Medieval

Cristologia – Cristianismo Medieval

[…] toda a história da filosofia na Idade Média pressupõe a decisão de abstrair essa filosofia do meio teológico em que nasceu e de que não a podemos separar sem violentar a realidade histórica. Ver-se-á que não admitimos nenhuma linha de demarcação rigorosa entre a história da filosofia e a história da teologia, não só na época patrística, mas inclusive na Idade Média. Não decorre daí que não se possa falar com razão de uma história da filosofia medieval. Nada é mais legítimo, do ponto de vista da história geral da filosofia, do que se perguntar o que sucedeu com os problemas filosóficos colocados pelos gregos no decorrer dos catorze primeiros séculos da era cristã. No entanto, se se quiser estudar e compreender a filosofia dessa época, será preciso procurá-la onde ela se encontra, isto é, nos escritos de homens que se apresentavam abertamente como teólogos, ou que aspiravam a sê-lo. A história da filosofia da Idade Média é uma abstração extraída dessa realidade, mais vasta e mais abrangente, que foi a teologia católica na Idade Média. Portanto, ninguém se deve surpreender com as incessantes referências feitas a problemas propriamente teológicos no curso esta obra; elas recordarão, ao contrário, com proveito, a simbiose entre essas duas disciplinas intelectuais durante a longa série dos séculos que deveremos percorrer. (Etienne Gilson)

Muitos problemas “metafísicos” foram tratados pela Idade Média antes de qualquer difusão efetiva da Metafísica aristotélica; reciprocamente, a questão da possibilidade da metafísica, a de sua acessibilidade a um espírito adulto, a questão, enfim, da definição do projeto metafísico, a partir da determinação de um objeto específico, colaboraram para a recepção e a interpretação de três textos fundadores: a Philosophia prima de Avicena, a Metafísica de Aristóteles, o Grande Comentário de Averróis sobre a Metafísica. O problema da delimitação da essência da metafísica como tal, entendida como “teiologia” (Heidegger) isto é, como a entre-implicação originária de uma ontologia e de uma teologia, solicitando a formulação de um conceito geral do ser em termos de univocidade ou de analogia, supõe a utilização da integridade do corpus metafísico grego-árabe. Assim, a história da metafísica medieval se distribui, pelo menos, em duas fases: uma fase “greco-latina”, e outra “aristotélica”, ou mais exatamente “peripatética”. Em fins do século XIII e no século XIV aparece uma corrente neoplatonizante que subordina a metafísica à henologia. (Alain de Libera)
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