CRISTIANISMO ETIÓPICO
Rouleaux magiques ethiopiens de Jacques Mercier
Querubim
Este desenho deriva do apresentado em ESTRELA DE OITO PONTAS. As espirais desenhas às vezes nas extremidades das oito pontas se tornaram partes integrantes do motivo, e olhos foram adicionados nos espaços formados que elas delimitam.
Esta pintura é frequentemente interpretada como figurando um querubim. O texto do qelementos (Apócrifos clementinos) diz: “Há anjos que têm muitos olhos e muitas faces…” E seguindo o livro esotérico dos Mistérios do Céu e da Terra, os anjos de oito asas: “Com duas asas, eles cobram sua face; com duas outras, cobrem seus pés; com duas outras cobrem sua mãos; e com duas outras ocultam seu pênis.
Adiante o qalementos diz: “ Todos cantam e glorificam com uma voz que não se cala. Eles são graduados de degraus em degraus de anjos, quase como entre o céu e a terra que tu vês”. Os etiópicos têm glosado muito deste gênero de hierarquia, e esta reflexão animou sua pintura. Assim, segundo alguns, a face central, um dos anjos voadores malditos, transmite sua palavra a seus oito servidores que o cercam e o cobrem com suas asas. Em seguida estes se dispersam no mundo, semeando a destruição. Neste caso, as bandas superior e inferior podem ser interpretadas como os lugares (flores, campos, etc.) da encarnação e da vigilância destes espíritos impuros.
Segundo uma outra interpretação, este desenho seria a rede com a qual Salomão apreendeu os demônios como os peixes do mar. A face central é um demônio, identificável pelos textos do rolo; os olhos são os anjos que o guardam; os arcos negros são os selos que fecham a prisão.
Chama-se também este talismã “tesouras” em razão dos Xs situados segundo as quatro direções: estas tesouras cortam os espíritos agressores. Entre as interpretações construídas segundo o esquema 1 + 4, encontra-se por vezes o Tetramorfo. Existe de fato uma grande similitude entre a figuração religiosa do Ancião dos Dias ou do Cristo cercado dos quatro animais celestes e o motivo talismânico da face cercada de quatro ou oito olhos, tanto mais quanto as asas dos animais estão cobertas de olhos. O motivo é de origem não figurativa, mas esta interpretação apoiou o prevalecimento dela.
Numerosas são as interpretações simbólicas e as maneiras de fundamentá-las. Por vezes, os dabtaras1 dizem simplesmente que um tal talismã é destinado a caçar os demônios: independente de toda interpretação, os olhos têm uma função protetora.
Clérigo não ordenado padre e que seguiu longos estudos de canto, de poesia e de literatura; praticante também da medicina tradicional sob seus aspectos mais variados ↩