Cristianismo Etiópico Bibliografia

CRISTIANISMO ETIÓPICO — BIBLIOGRAFIA
Contribuição de Antonio Carneiro
Bibliografia
Em espanhol:
Kebra Nagast, Anónimo, Editorial: Corona Borealis. Málaga, 2010, 232 p.
Estamos diante da primeira edição e espanhol de um dos “apócrifos” mais estranhos que se conhece. Este livro sagrado etíope, escrito no tempo das grandes sagas griálicas europeias, narra as aventuras de Salomão e a Rainha de Sabá e é a pedra angular de certos cultos judeus-cristãos nascidos no coração da África.

Faz duas décadas teria dado minha mão esquerda para dispor da tradução para o espanhol do livro que nos ocupa. A culpa daquela prematura obsessão foi um ensaio de Graham Hancock (Más Alla, 139) intitulado “Símbolo y señal” (Planeta, 1992. Reeditado por MR Ediciones como “La búsqueda del Santo Grial”) onde se afirmava que o “Kebra Nagast” —— um texto sagrado etíope escrito em língua ge’ez e desconhecido na Europa até os anos vinte do século passado —— era a peça que faltava para desentranhar o quebra-cabeças da desaparição da Arca da Aliança bíblica. Em suas páginas do século XIII se descrevem em detalhe os amorios que tiveram Salomão e a Rainha de Sabá, assim como o filho que resultou daquela relação, um mestiço de nome Menelik cujo mérito para a história foi roubar a valiosa relíquia do Templo de Jerusalém, ocultando-a depois na África.

Tido sempre por um conto de escassa importância, Hancock decidiu, não obstante, levar a sério o “Kebra Nagast” ao descobrir que dava resposta a, pelo menos, dois grandes enigmas de nosso passado: a presença de uma importante comunidade judia na África desde o ano 950 a.C. e a crença de que a Arca se guarda desde então em uma pequena igreja hoje cristã, em Aksum (Etiópia), conhecida como Santa Maria de Sion.

Foi na catedral francesa de Chartres onde Hancock se percatou de que o “Kebra Nagast” deve ter exercido uma secreta influência sobre Europa muito antes do que os historiadores admitem. No lado direito de seu pórtico Sul, sobre um pedestal com forma de menino africano, se ergue majestosa la mesmíssima Rainha de Sabá. Junto à ela, Salomão1. E em frente a ambos, em uma coluna menor, um magnífico relevo com a Arca da Alianza abandonando a cidade santa dos judeus. A disposição dessas figuras foi, segundo Hancock, inspirada por um punhado de cavaleiros do Templo que se adentram em missão secreta mais além do Egito, en busca do mítico reino do Preste João. Lá, em terras do norte da Etiópia, inspiraram-se nas fabulosas igrejas esculpidas de Lalibela e tropeçaram com a tradição perdida do “Kebra Nagast” . Sua influência posterior no esoterismo europeu e nos construtores góticos foi tão tremenda como inadvertida.

Por isso creio que estamos de em boa hora ao receber esta edição. E ainda que não estejamos diante uma tradução tão erudita quanto a que sir E. A. Wallis Budge fez para o inglês, merece a pena tê-la como consulta. Lástima que o editorial tenha decidido apresentá-la como a “bíblia secreta do rastafari” porque isso desvaloriza o alcance do livro e lhe resta —oxalá me equivoque— o público que merece.

Por Javier Sierra — http://www.mcediciones.es/4952/la-biblia-perdida-de-etiopia/

Em francês:
1. Le Christ dans la tradition chrétienne, II-4; L’Église d’Alexandrie, la Nubie et l’Éthiopie après 451, Aloys Grillmeier en collaboration avec Theresia Hainthaler, Editions du Cerf, collection «Cogitatio Fidei» n° 192, Paris, 1996, 610 p., traduit de l’allemand par sœur Pascale-Dominique, publié avec le concours du Centre National du Livre. ISBN : 2-204-05227-2

2.Christianismes orientaux; Introduction à l’étude des langues et des littératures; Micheline Albert — Robert Beylot — René-Georges Coquin — Bernard Outtier — Charles Renoux, Editions du Cerf, collection «Initiations au christianisme ancien» , Paris, 1993 [2010] , 456 p., introduction par Antoine Guillaumont ISBN : 2-204-04301-X

Preenchendo um vazio na edição francesa, esta obra foi concebida por seus redatores como um guia de introdução ao estudo das línguas e das literaturas do Oriente Cristão. Suas seis partes consagradas ao árabe, ao armênio, ao copta, ao etiópico, ao georgiano e ao siríaco, tem por objetivo ajudar os iniciantes à se familiarizar com uma bibliografia do assunto. Uma introdução de conjunto permite perceber a unidade do pensamento religioso que se exprime nas línguas, tempos e lugares diferentes.

Colaboração : Antoine Guillaumont

3. Le Livre éthiopien des miracles de Marie (“Taamra Mâryâm”), ed. Du Cerf , collection “Patrimoines — Christianisme” , Paris, 2004, 560 p., traduction française par Gérard Colin. ISBN : 2-204-07647-3.

O terrível «mal dos ardentes» se abateu sobre Arras no século XII, uma intervenção milagrosa da Virgem Maria fez recuar a epidemia. Após este acontecimento, a intercessão da Mãe de Deus foi por toda parte solicitada, com sucesso, em França e sobre os caminhos de Compostela e de Roma. A relação desses prodígios, rapidamente redigidos em francês, a «lingua franca» dos cruzados, alcançaram com esses últimos a Terra santa. Traduzido em arabe, aumentado de relatos sírio-palestinos depois egípcios, encontrou sua ultima estada em Etiópia onde, enriquecida de numerosos elementos locais, foi traduzida na língua clássica do país e tomou lugar na liturgia. «O Livro Etíope dos Milagres de Maria» é o mais rico relato do gênero do Oriente Cristão. Atesta os laços estreitos que uniram as cristandades ocidental e oriental desde a época das cruzadas. Testemunha também o vigor literário que fundou em um todo harmonioso e original uma intervenção milagrosa de Maria no Monte-São-Miguel, aparições no Egito ou a devoção mariana dos «négus». A presente obra oferece, precedida de uma introdução sobre Maria em Etiópia, a primeira tradução francesa do essencial — cerca de tres quartos — desta composição maior. O leitor poderá imergir naquilo que faz a unidade encantadora do livro: a omnipresença e a omnipotência mediadora de Maria.

Colaboração : Gérard Colin

Le christianisme éthiopien: une religion liée à l’histoire d’un pays, Wilhelm BAUM, Religions & Histoire n° 17; novembre/décembre 2007; PP. 28-40 ; ISSN : 1772-7200

L’Église éthiopienne orthodoxe, aujourd’hui autocéphale, a su développer tout au long de son histoire une spiritualité, une théologie et des usages liturgiques qui lui sont propres. Issu à la fois de traditions arabo-chrétiennes et judaïques lui venant d’Égypte et de Syrie, son particularisme se renforce encore lorsque lepays se voit préservé de toute influence byzantine ou islamique marquée. Il en ressort un symbole fort d’unité, de stabilité et d’indépendance.

Ce pays connu comme le berceau de l’humanité, pourrait tout aussi bien prendre le titre de berceau de la chrétienté. Deuxième région à être christianisée au monde, elle a su préserver une forme originale de christianisme, que peu de réformes ou influences extérieures ne sont venues perturber malgré les conflits internes. Introduite à partir de l’Égypte, la nouvelle religion aurait d’abord trouvé la faveur des rois, ensuite du peuple, lesquels suivirent la doctrine des Églises d’Orient qui rejetèrent les conclusions du concile de Chalcédoine (451). Ils ne furent pourtant pas de fervents partisans du nouveau dogme et continuèrent à suivre certains préceptes du judaï sme tels la circoncision, les prescriptions alimentaires, le respect du sabbat ou encore les danses des prêtres au son du tambour. Se formèrent ainsi une spiritualité, une théologie et des pratiques liturgiques particulières, suspendues aux premiers siècles de la chrétienté. Sans doute l’Éthiopie y aurait-elle puisé sa forte identité. C’est ce que laisse penser en tout cas son histoire, son architecture et toutes ses formes d’expression artistique. L’empreinte du christianisme est indéniable : on sculpte des montagnes pour louer Dieu, on développe un art tout à sa gloire et la vie des individus est rythmée par les grands événements religieux. Au nom de la religion, toujours, on établit une hiérarchie sociale et économique ; les juifs éthiopiens furent considérés comme des falashas, des ? exilés ?, sans droit de propriété tandis que les chrétiens se regroupèrent en une classe dominante. La reconnaissance de l’Église orthodoxe éthiopienne comme institution autonome et indépendante par rapport à l’Église copte en 1959 ouvre une nouvelle ère. L’Église quitte son isolement relatif pour s’imposer à l’égal des autres religions. Un développement que l’on souhaite durable…


  1. In: Chartres y el nacimiento de la catedral, Titus Burckhardt, José J. de Olañeta, Editor, colección El Barquero n° 37; Palma de Mallorca: Barcelona, 1999 [ 2004], 201 p., traducción de Esteve Serra, ISBN 84-9716- 336-2.

    pag. 171 : “As representações da portada norte referem-se todas à Antiga Aliança e a preparação da vinda do Cristo; as da portada sul, à Nova Aliança. Assim seguem a mesma ordem litúrgica que as dos vitrais.”

    pag. 173 : “ Os personagens da porta da direita são as pré-figurações humanas de Jesus e Maria: o rei Salomão e a rainha de Sabá, voltados um em direção ao outro, são uma alusão a Cristo e à Igreja.”

    Vide também por este mesmo Editor e nesta mesma coleção “ El Barquero” n° 28 a obra intitulada “ Reina de Saba” por J.-C. Mardrus.