PARÁBOLAS DE JESUS — OS CONVIDADOS (Lc XIV, 7-15)
EVANGELHO DE JESUS: Lc 14:7-15
VIDE: BODAS REAIS; GRANDE CEIA
A parábola é dada em sequência à entrada de Jesus Cristo na casa de um superior entre os Fariseus, convidado a comer pão no dia de Sabá. Notando que os convidados (vide Jonas Chamada) buscavam os lugares preeminentes (protoklisia), Jesus Cristo enuncia a parábola, onde fala de convidados a bodas, a uma união. Esta é uma figuração de uma dito dos Provérbios: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; Porque melhor é que te digam: Sobe aqui; do que seres humilhado diante do príncipe que os teus olhos já viram.” (Prov 25,6-7). Na parábola Jesus fala em “vergonha” e não em humilhação, mas com sentidos similares. A nossos ouvidos modernos soa estranho “vergonha”. Jesus alertando para que não se venha a sentir vergonha, parece descabido. Nos termos antigos da parábola, esta “vergonha” se chama “aischune” e se entende como uma desgraça, ou “perda da graça”. E se explica em seguida pela orientação de procurar um lugar mais humilde esperando que se seja elevado pelo senhor que convida a um lugar mais preeminente. A graça não é tomada mas recebida, ou se faz desgraça. A justificativa se faz também por uma redita dos Provérbios, no caso o que afirma: “A soberba do homem o abaterá; mas o humilde de espírito obterá honra”.
A parábola também orienta aquele que convida, para que dirija seu convite aos “pobres, aleijados, mancos e cegos”, e certamente não a pessoas fisicamente nesta condição, mas a nossas partes interiores que se encontram nesta condição de pobreza, de deficiência, de cegueira. Convidar àquelas partes que gozam de alguma relação com o que convida, não traz qualquer recompensa, a não ser a manutenção da disposição de nossa alma, e não sua regeneração e ressurreição no Reino de Deus, sua metanoia.
Tendo ido comer pão na casa de um Fariseu, a parábola encerra com uma bem-aventurança: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus”. De um movimento adentrando a casa para comer pão com o que é mais aviltado no evangelho, se é conduzido a movimento mais interior, que de fato, com a devida humildade, pode vir a ser a verdadeira bem-aventurança.
Antonio Orbe
Clemente de Alexandria nota que Lucas fala em ceia (deipnon) e não de “agape”; onde deipnon provem “das gargantas e da loucura, hóspede habitual da ceia”; expressão abusiva de comilança; diferente portanto de “agape, um verdadeiro alimento celeste, festim do Logos”; o festim daqui (terreno) e o celeste se unem pela caridade.
Apesar da pejoração que recai sobre a “ceia” vulgar, o reino de Deus, festim do Logos, conhece a ceia da caridade (agape). Uma e outra — o festim terreno e o celeste, a ceia daqui e a do reino — estão unidas mediate a caridade. A ceia obedece entre cristãos à caridade, mas não é a caridade.
O alexandrino justifica assim de forma implícita a parábola lucana, como figura do festim celeste do Logos.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 64