Orígenes — Contra Celso
Deus, um novo rico?
Se desejas ter minha resposta a questões ainda mais ridículas de Celso, ouve mais esta: “Deus, sendo desconhecido pelos homens, e julgando-se assim diminuído, terá talvez querido fazer-se reconhecido, para deixar-se comprovado aos crentes e incrédulos, da mesma forma como os intrusos ávidos de ostentação? Que ambição excessiva e humana se iria atribuir a Deus!”
Minha resposta é que ele, desconhecido por causa da malícia dos homens, quis ser reconhecido, não por julgar-se diminuído, mas porque seu conhecimento (gnosis) liberta da infelicidade quem o conhece. Nem é para comprovar-se a si mesmo, humilhando crentes e incrédulos, que habita em alguns por sua misteriosa e divina potência ou lhes envia seu Cristo; é para afastar de toda infelicidade os crentes que acolhem sua divindade e para tirar aos incrédulos ocasião de excusa pela falta de fé, a pretexto de não terem ouvido seu ensinamento.
Sendo assim, que argumento extrairia de nessa doutrina essa ideia de um Deus assemelhado a intrusos ávidos de ostentação? Ele está longe de ser ávido de ostentação para conosco quando deseja fazer-nos conhecer e compreender sua excelência. Deus quer implantar em nós a felicidade que nasce nas almas pelo fato de ser conhecido por nós; seu anseio é fazer-nos entrar em sua intimidade, por meio do Cristo e da incessante vinda do Verbo. A doutrina cristã não atribui a Deus, portanto, nenhuma ambição humana.