Aqui estão as três notas que caracterizam nosso gnóstico: primeiro a contemplação, depois o cumprimento dos preceitos e, finalmente, a instrução dos homens de bem. Quando essas qualidades estão presentes em um homem, ele é um gnóstico completo. Mas se faltar uma delas, sua Gnose é coxa (Stromates, 2, 10, 46).
Já estabelecido pelo amor nos bens que possuirá, tendo antecipado a esperança por meio da gnose, ele não tende a nada, tendo tudo para o qual poderia tender. Portanto, ele permanece na única atitude imutável, amando à maneira gnóstica, e não tem necessidade de desejar ser feito como a beleza, pois ele já possui a beleza através do amor. Que necessidade ainda há de coragem e desejo para esse homem que conquistou a intimidade amorosa com o Deus sem paixão e que se inscreveu entre seus amigos por meio do amor? No que nos diz respeito, o gnóstico perfeito deve estar afastado de qualquer paixão da alma. Pois a gnose traz o exercício, o exercício traz o hábito ou a habituação, e esse apaziguamento leva à apatheia…. (Stromates, 4, 9, 73-74)
Ele sempre ama a Deus, para quem está totalmente voltado e, por isso, não odeia nenhuma das criaturas de Deus. Ele não inveja nada, pois não lhe falta nada que possa ser comparado àquele que é bom e belo. Não ama nada nem ninguém com amor comum, mas estima seu Criador através das criaturas; não está exposto ao desejo ou ao apetite, não lhe falta nenhum dos bens da alma, estando já unido pelo amor ao Amigo a quem pertence segundo sua livre escolha e aproximando-se cada vez mais dele pelo hábito da ascese, sendo feliz na posse de seus bens, não pode deixar de ser como o Mestre na apatheia. (Stromates, 6,9,71-72)
Fazendo crescer dessa forma as sementes nele depositadas, segundo a cultura que o Senhor ordenou, ele permanece sem pecado; é senhor de si mesmo e vive pelo espírito com seus iguais nos coros dos santos, mesmo que ainda esteja detido na terra. Tal homem, que age e fala assim dia e noite, de acordo com os mandamentos do Senhor, alcança perfeita alegria, não apenas ao amanhecer, quando se levanta, e no meio do dia, mas também quando caminha, quando se deita, quando se veste e se despe. Ele instrui seu filho, se um filho lhe nascer; ele não pode se separar do mandamento e da esperança; ele sempre dá graças a Deus, como as criaturas vivas que glorificam o Senhor na alegoria de Isaías; ele é paciente em toda adversidade. (Stromates, 7,12,80)