Observe os templos do Egito: bosques sagrados, pórticos longos e vestíbulos espaçosos levam você até lá; ao redor, inúmeras colunas sustentam a cumeeira; as paredes, cobertas com pedras estrangeiras e pinturas ricas, lançam um brilho deslumbrante de todos os ângulos. Nada está faltando nessa magnificência. Ouro, prata e marfim estão por toda parte. A Índia e a Etiópia esbanjaram suas joias na nave. Quanto ao santuário, ele está oculto sob longos véus bordados em ouro. Se, pleno desse espetáculo, você procurar um maior e, depois de atravessar o recinto, pedir para ver a imagem do Deus que habita o templo; se então, digo, algum sacerdote ou sacrificador, um homem velho com uma aparência grave e venerável, enquanto canta os hinos sagrados do Egito, levantar o véu do santuário, como se fosse lhe mostrar o deus, você vai cair na gargalhada quando vir o objeto de tal adoração. O Deus que você estava procurando, o Deus que você estava ansioso para ver, é um gato, ou um crocodilo, ou uma cobra do campo, ou qualquer outro animal desse tipo, indigno de habitar um templo, e cuja única morada adequada seria uma caverna, uma gruta ou um pântano. O deus dos egípcios é um monstro que rola sobre lápis-púrpura. Não é essa a imagem daquelas mulheres que, todas cobertas de ouro, não se cansam de puxar para baixo e levantar a formação de seus cabelos, mulheres cujas bochechas brilham com blush, cujas sobrancelhas estão impregnadas de cores falsas? Se você levantasse o véu desse novo templo e olhasse através das teias, dos tecidos, do ouro, do blush, das tinturas, de todo o tecido artificial, na esperança de encontrar a verdadeira beleza em seu interior, o que você veria, eu sei, o faria recuar de horror. Esse templo está impuro: a imagem de Deus, que era seu prêmio, não habita mais ali; uma cortesã, uma adúltera invadiu o santuário da alma, um verdadeiro animal feroz, um macaco manchado de cerúleo”. (Pedagogus III, 2)