Cipriano de Cartago — A Oração do Senhor
Tradução do Abade Timóteo Amoroso Anastácio
A verdadeira oração
1 Os preceitos evangélicos, caríssimos irmãos, não são outra coisa, senão ensinamentos divinos, bases para a edificação da esperança, fundamentos para fortalecimento da fé, alimento para animar os corações, guia para indicar o caminho, amparo para obter a salvação. Por eles, as almas dóceis dos fiéis são instruídas, na terra, e assim conduzidas ao Reino celeste. Deus quis que, por meio dos seus servos, os profetas, muitas coisas fossem ditas e ouvidas. São, porém, incomparavelmente maiores as que nos diz o próprio Filho. É o Verbo de Deus, que estivera nos profetas, que fala agora com sua própria voz. Não se trata mais de mandar que se prepare o caminho para Aquele que há de vir, mas é Ele próprio que vem, abrindo e mostrando o caminho, a fim de que os que errávamos cegos e hesitantes nas trevas da morte, tomássemos o caminho da vida, iluminados pela luz da graça, guiados e conduzidos pelo Senhor.
2 Entre outros salutares ensinamentos e preceitos com que o Senhor encaminhou o seu povo para a salvação, deu-nos Ele também a forma de orar; aconselhou e ensinou Ele próprio o que devemos rogar. Aquele que nos fez viver ensinou-nos também a orar e com essa mesma benignidade dignou-se dar-nos e conferir-nos outros bens, porque dirigindo-nos ao Pai com a oração ensinada pelo Filho, mais facilmente seremos ouvidos. Já anunciara que viria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam em espírito e verdade e cumpriu o que antes prometera. Assim os que recebemos pela sua santificação o Espírito e a Verdade, oremos também, graças a sua tradição, em espírito e verdade. E que oração poderá ser mais espiritual que esta, que nos legou o Cristo, pelo qual o Espírito Santo nos foi enviado? Que prece poderá ser mais verdadeira diante do Pai que esta, recebida da boca do Filho, que é a própria Verdade? Portanto, orar de maneira diversa da que nos ensinou não é somente ignorância, mas culpa, pois Ele mesmo preceituou dizendo: “Desprezais o mandamento de Deus, para observar a vossa tradição”. (Mc 7,9),
3 Oremos, pois, irmãos caríssimos, conforme o Mestre nos ensinou. Fazer oração agradável e familiar é rogar a Deus com o que é seu, é elevar aos seus ouvidos a oração do Cristo. Que o Pai reconheça a palavra do seu Filho quando oramos; que esteja em nossa palavra Aquele que habita dentro de nós. E uma vez que é Ele o advogado pelos nossos pecados diante do Pai, peçamos com as palavras do advogado, quando pedimos, como pecadores, pelas nossas faltas. Pois se Ele disse que obteremos tudo que pedirmos ao Pai em seu nome, com eficácia muito maior conseguiremos o que pedimos em nome do Cristo, se o fizermos com a sua oração.