Mesmo Meister Eckhart, na visão de Heidegger, não consegue entender que o homem é basicamente e fundamentalmente uma relação com o que é e que isso não é simplesmente algo “acrescentado” ao homem.
Acredito que Heidegger esteja equivocado quanto a isso. Para Eckhart, a “pequena centelha” ou “base” da alma refere-se à “fonte” e à “raiz” mais íntimas (Wurzel: Q, 318,17/Ev., 32) do ser da alma. Não é algo acrescentado à alma, mas aquilo de onde a alma tira sua vida. Essa é a força da própria palavra “Grund”. Além disso, a pequena centelha da alma não é, de forma alguma, uma “marca distintiva” da alma, porque ela significa o reino da alma onde não há “marcas distintivas” ou “nomes”. A base da alma não é nenhuma “coisa”; não pertence a nenhuma “classe” de coisas e não tem nada a ver com nenhum tipo de “diferença específica”. De fato, “não tem nada a ver com nada”, gênero, espécie ou diferença. A verdade simples é que, com sua noção da “pequena centelha da alma”, Eckhart concebeu o homem não como homem, mas como uma relação pura com o Ser, que, para ele, é Deus.