Categoria: Angelus Silesius
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, advertência a atitudes
BGFA Uma angústia, se quisermos, um desconcerto certamente, transparecem, e que estão ausentes dos sermões do dominicano da Idade Média. A fragmentação da pensamento em uma infinidade de fragmentos corresponde ao exercício que deve ser sempre repetido, o da renúncia, da abdicação. A fé de Mestre Eckhart está longe de nós, a de Johannes Scheffler…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, Tradição
BGFA A terceira objeção pode ser formulada como uma pergunta: por que se nega ao místico silesiano da segunda metade do século XVII o que se concede sem dificuldade ao dominicano do século XIV? Para este último, de fato, quase nenhum comentador nos pede para cometer o erro de João XXII em sua bula de…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, panteísmo e monismo
BGFA A segunda crítica diz respeito ao debate considerado fundamental entre panteísmo e monismo, cuja presença sinceramente duvidamos. Notemos, primeiramente, que Leszek Kolakowski tenta de boa-fé dar ao termo, cuja “nebulosidade” ele reconhece com razão, uma definição rigorosa: o panteísmo é “uma doutrina… que pressupõe a presença de uma dependência existencial necessária, ligando em dupla…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, estrutura antitética
BGFA O uso dessas fórmulas-limite, que é um dos maiores atrativos do Peregrino Querubínico, ganha toda a sua força graças à presença de uma estrutura original que tem sido objeto de estudos e que convém também recordar claramente: a estrutura antitética (34), à qual o poeta retorna incessantemente, que ele nunca abandona, mesmo no livro…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, alma e Deus
BGFA As duas estruturas que determinamos, o gosto pelas fórmulas-limite e a estrutura antitética, consagram a originalidade do Peregrino Querubínico. Nenhum autor espiritual certamente foi tão longe na expressão dessa constante da tomada de consciência mística, na definição do caráter eminentemente contraditório das relações da alma e de Deus. O paradoxo constitutivo revela-se em toda…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, desafios à interpretação
BGFA Essas teses, cujas fórmulas bem formuladas e tingidas de modernidade — Ichinnenraum, Eros escatológico, desdobramento primordial — não deixaram de seduzir, não devem, no fundo, ser descartadas tão rapidamente. Elas se apoiam, de fato, em textos importantes aos quais nos referimos, em particular nessas fórmulas-limite onde são definidas a grandeza, a divindade e até…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, tempo e eternidade
BGFA O esquema clássico das relações do tempo e da eternidade é desmantelado, depois de ter sido rapidamente exposto. Se em um primeiro momento, de fato, parece que Deus e o diabo se opõem no homem como eternidade e tempo, com a sutil distinção em V, 74 da eternidade e do tempo eterno, se o…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, mística complexa
BGFA A mística de Johannes Scheffler deve ser avaliada com cautela. Cautela à qual já nos convidam as flutuações e contradições que o balanço das pesquisas revela, no plano da biografia e da ergografia (conversão, redação, fontes). O silêncio em que a crítica manteve toda uma parte da especulação, que nos parece fundamental, a parte…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, Psique e Jesus
BGFA A permanência do tema único — as relações de Psique e de Jesus —, a riqueza da linguagem e a tensão interna que aparecem na temática do chamado, a utilização dos motivos dominantes da temática do lugar fechado e da ignição-imersão não devem nos permitir concluir muito rapidamente. O que nos surpreende igualmente é…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius, Fogo e Água
BGFA Dois motivos dominantes se impõem nesse erotismo místico, cujo mau gosto não deve ser excessivamente denunciado pelo século da pornografia. O primeiro é o que podemos chamar de temática do lugar fechado. Em todos os níveis da meditação, notamos que o chamado de Jesus pela alma é, antes de tudo, a aspiração a um…
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Gorceix (BGFA) – Angelus Silesius
BGFA Repetidamente destacamos o interesse que, ao longo do tempo — sobretudo desde o romantismo —, suscitaram a personalidade e a obra do místico silésio Johannes Scheffler, luterano de origem e formação que, ao se converter ao catolicismo em 12 de junho de 1653, em Breslau, adotou o nome de Johannes Silesius, tornando-se Johannes Angelus…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, Multiplicidade
LKCE Reduzida às suas categorias quase metafísicas, a visão de mundo de Scheffler concebe sumariamente o mundo visível como um conjunto homogêneo onde as quidditates qualitativas não têm importância, pois todas as coisas, como coisas, manifestam-se seja como a negação da deidade, seja como sua manifestação e, nesse aspecto — e essa é a única…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, Alquimia e Theosophia
LKCE Em resumo, discordamos da teoria da primazia do estilo sobre a doutrina na obra de Silesius; também não consideramos ilegítima uma análise autônoma do conteúdo religioso dessa obra. Dizer que não se “pode desvincular” o estilo da doutrina parece uma declaração vazia e sem valor, pois tudo, no mundo, é “verdadeiramente” interdependente, e não…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, Panteísmo
LKCE Ao tentarmos aplicar essa definição geral [de panteísmo] ao caso de Silesius, notamos imediatamente que a resposta à questão levantada no título desta parte do capítulo variará em função da diferença entre as duas estruturas místicas que tentamos descobrir nele. A estrutura dualista implica a presença de um mundo antidivino feito de indivíduos, que…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius e a Contra-reforma
LKCE Johann Scheffler era um homem fraco, buscando proteção, cedendo facilmente à influência de seu entorno. Ele deve aos jesuítas sua formação católica. Não conhecemos, é verdade, nenhum detalhe de sua jornada para a fé, mas os fatos citados permitem estimar que a conjunção da técnica jesuíta de conversão e do caráter do poeta explica…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius e os jesuítas
LKCE Essa orientação, que bem explica por que Silesius deixou o luteranismo, ainda não justifica sua conversão ao catolicismo. De fato, a Igreja Romana, embora visivelmente mais pluralista e tolerante (no sentido médico do termo) aos voos místicos, era, em última análise, abrangida por essa mesma negação doutrinária da confessionalidade, exposta de forma flagrante nos…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, caráter não-confessional
LKCE O caráter não confessional e não eclesiástico da mística de Silesius, na verdade, não necessita de interpretação particular; nada impede que se o decifre diretamente em suas fórmulas e alusões, e ele revela toda a indiferença do autor tanto pela piedade católica quanto luterana. O desdém total pelas “obras” religiosas em benefício da “essência”…
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Kolakowski (LKCE) – Luteranismo
LKCE A mística, como Albert Ritschl, sem dúvida, demonstrou de forma convincente, era estranha a Lutero e ao espírito do luteranismo. Este, ao proclamar a autonomia da fé diante das realidades terrenas, não visava de forma alguma a negá-las no plano moral, nem pregava a fuga da temporalidade. O prefácio elogioso de Lutero à “Teologia…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, além do eidos intemporal
LKCE Todas as nossas considerações, até agora, consistiram em uma tentativa de descrição puramente eidética que, conscientemente, se queria independente das circunstâncias históricas. É permitido interpretar a mística “em geral” dessa forma, mas não um místico em particular, apesar da notável tendência à repetição que é própria da literatura desse tipo ao longo de séculos.…
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Kolakowski (LKCE) – Angelus Silesius, Eros e Thanatos
LKCE O outro princípio do freudismo ao qual aludimos, o antagonismo entre a libido e o instinto de morte, nos parece difícil de conciliar com a “anatomia” do Eros. Certamente — concordamos sem entusiasmo — negar o instinto de morte ou um fenômeno análogo resultaria em deixar muitos fenômenos da cultura humana sem explicação. No…