Catarina de Siena — Tratado da Oração
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro
LXXII.- A alma que se conhece evita as insídias do demônio.
1.- Não quero te esconder, minha filha bem-amada, o erro onde tombam comumente os homens que se comprazem no pouco de bem que foram no tempo da consolação, e esse de meus servidores que se agarram de tal forma às doçuras espirituais, que não podem mais conhecer a verdade de meu amor e discernir onde se acha o pecado. Falei-te da armadilha onde o demônio os toma pela sua falta se não seguirem o meio que te ensinei. Assim tu e meus outros servidores, deveis seguir a virtude pelo amor por mim, e não por um outro motivo.
2.- Esses erros e perigos são para aqueles cujo amor é imperfeito, quer dizer para aqueles que amam mais minhas benfeitorias que eu-mesmo. Mas a alma que entrou no conhecimento dela mesma se exercendo na oração perfeita, rejeitando a imperfeição do amor e da oração, como t’ expliquei, esta alma me recebe pelo amor; se esforça para atrair para si o leite de minha doçura sobre o seio da doutrina de Jesus crucificado.
3.- Chegou ao terceiro estágio, quer dizer ao amor terno e filial; não tem um amor mercenário, mas age comigo como um amigo age com seu amigo que lhe faz um presente: não olhe para o presente, mas para o coração daquele que dá, e ele não ama o presente senão por amor ao seu amigo. Assim faz a alma que alcançou o amor perfeito. Quando recebe minhas benfeitorias e minhas graças, não pára no presente, mas sua inteligência contempla a grandeza da minha caridade que concede.
4.- Para que a alma não possa se excusar de não fazer assim, quis unir a benfeitoria ao benfeitor, unindo a natureza humana à natureza divina, quando vos dei o Vebo, meu Filho único, que é uma mesma coisa comigo como eu com ele. Por esta união me podeis ver o presente sem ver aquele que o fez. Compreendeis então com qual amor deveis amar o dom e o doador. Se fizerdes isto, tereis um amor não mercenário, mas puro e generoso, como os que se recolhem no conhecimento de si-mesmos.