LOGIA JESUS — A CANDEIA DO CORPO (Lc XI, 34-36)
VIDE: CANDEIA ACESA
EVANGELHO DE JESUS: Lc 11:34-36
34 A lâmpada de teu corpo é o olho.
Se teu olho está intacto,
todo teu corpo também está luminoso.
Mas se está faltoso, teu corpo também está em trevas.
35 Acautela-te para que em ti a luz não se torne trevas!
36 Se, portanto, todo teu corpo está luminoso sem nenhuma parte de treva,
então está todo luminoso,
como se uma luz te iluminasse com sua claridade.» [Chouraqui]
Citações dos Padres — nosso site francês
Orígenes: HOMILIAS SOBRE SÃO LUCAS
Fragmento 78
Eis o que me parece significar a frase: “A lâmpada do corpo é o olho”. Para a alma inteira, para o homem inteiro, a inteligência é a faculdade da visão. A fim de que a cuidemos, Jesus adiciona: “Que vossas lâmpadas estejam acesas”; acendemos por assim dizer lâmpada que está em nós cuidando de nossa faculdade de compreensão. No mesmo sentido diz: “Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la sob o alqueire, mas para pô-la no candelabro”; acende-se uma lâmpada preocupando-se com a sabedoria e a razão, se exercitando a compreender as realidades divinas, para se tornar perfeito; a perfeição só se obtém com efeito exercendo os sentidos divinos e inteligíveis, o que Paulo Apostolo exprimia claramente por estas palavras: “Aos perfeitos convém o alimento sólido, àqueles que por hábito têm os sentidos exercitados no discernimento do bem e do mal” (Hb 5,14). Pode-se lhes revelar a sabedoria da qual se fala aos perfeitos, segundo as palavras do Apóstolo: “Falamos da sabedoria entre os perfeitos” (1Cor 2,6), O olho designa muito exatamente a inteligência que está em nós: é nela que se encontra no homem virtuoso o princípio de sua simplicidade, pois não tem em si nem duplicidade, nem rusa, nem falha, nem divisão, nem separação, mas, para o homem mau, ela é o princípio da perversidade e de toda sorte de faltas.
Não se poderia, como se fez para o “olho”, dar “ao corpo” uma significação alegórica e ver nele a alma inteira, embora ela não seja corporal, pois Deus colocou a inteligência na alma do homem, Ou melhor o corpo designaria o resto do homem, fora da inteligência, quer dizer o composto formado pelo resto da alma e do corpo. Pois a alma inteira é verdadeiramente iluminada pela inteligência e se poderia dizer que o corpo se ressente da simplicidade da inteligência, quando ele é movido por ela, ou de sua perversidade, quando ela se serve dele como instrumento de pecado. Nada de surpreendente em ver alegoricamente a alma no corpo, a respeito da frase: “O olho é a lâmpada do corpo”, embora a alma seja de natureza invisível e incorporal, posto que ela foi criada à imagem do Deus invisível: com efeito as faculdades da alma são designadas alegoricamente pelos mesmos nomes que os membros do corpo, enquanto elas não são corporais. Na frase: “Ilumine meus olhos” (Sl 13,12), não se trata de olhos corporais; nesta outra: “Me deu uma orelha” (Is 50,4), não é questão de corpo, e também não quando é dito: “Quem tem orelhas para ouvir que ouça” (Mt 11,15 e outros). No Cântico, os membros do corpo da Esposa, quer se trate da alma humana em comunhão com o Esposo, o Cristo, ou da Igreja (Cant. 4,1), são louvados um após o outro pelo Esposo: seus cabelos, seus dentes, seus lábios, seu queixo, seu colo, seus seios; se os relaciona-se à alma, deve-se entendê-los como suas faculdades. “Que meu pé nada fira” (Sl 91,12) deve-se interpretar com a faculdade da alma de ir de objeto em objeto. Refletindo, pode-se encontrar nas Escrituras muitas passagens similares e elas permitem compreender sem se enganar em que sentido o corpo é designado pela frase: “A lâmpada do corpo é o olho”, e pelos textos análogos. Os Provérbios prometem uma “sensibilidade divina” (Prv. 2,5), distinta daquela que não é divina. A sensibilidade que não é divina nos é comum com os animais sem razão, que desfrutam da visão, da audição, do gosto, do odor e do tato; quanto aos sentidos divinos, todos os homens aí não participam, é preciso, para isso, fazer o que é requerido para “encontrar uma sensibilidade divina”. Não há portanto nada de surpreendente, posto que os nomes das partes do corpo estão relacionados aos poderes da alma, vide a palavra corpo tomada por alma inteira no texto “a lâmpada do corpo é o olho”. Não queremos dizer por isso que se deve por toda parte alegorizar a apelação de corpo: pois sabemos que ela se aplica também a outras realidades. Assim: “Não temais aqueles que matam o corpo” e “Sois o Corpo do Cristo” (1Cor 12,27).
Fragmento 79
Eis a meu ver o sentido da expressão que vem em seguida: “Posto que teu corpo se tornou luminoso”, iluminado que estais pela lâmpada do corpo, nada há mais em ti de obscuro, porque tu não pecas mais. A maneira pela qual o corpo inteiro luminoso permite comparar seus raios a uma lâmpada no meio da claridade que irradia: mesmo se ela clareia, ela não destrói as trevas. Com efeito, a iluminação que vem da inteligência se assemelha a uma claridade muito brilhante; quanto à luz que brilha no corpo — é trevas por natureza — ela é semelhante à lâmpada posta no meio da claridade que irradia quando o corpo é conduzido onde a inteligência o quer. Logo se entre os seres ignorantes e incultos o espírito, que é por natureza luz, se acha ser trevas, certamente seu corpo inteiro — entenda-se por isso a parte passível da alma, quer dizer a irascível e a concupiscível — será ainda bem mais trevas.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 26
Vide mais referências em Candeia Acesa
Mario Satz
“A lâmpada do corpo é o olho; se teu olho for simples — prossegue Lucas — também todo teu corpo será luz”. A cabeça, ósseo cofre de luz, é o lugar onde o Zohar coloca, além disso, o Sétimo Palácio. “No Sétimo Palácio se encontra também a Arca da Aliança — diz no citado texto Simeón Bar Yohai — porque todas as almas saem por ela, e em seu mais íntimo retiro se encontra o ponto oculto”. Este ponto, que a Cabala denomina o “espírito supremo”, é a fonte de vida. Deveríamos acrescentar, porém, que não somente os dois olhos são as lâmpadas do corpo: também o são os ouvidos, as fossas nasais e a boca. Sete orifícios como os sete planetas. Na Índia são os sete Chakras ou flores energéticas que, como é natural, culminam no sahasrara-padma, o cocuruto, onde se encontram todas as letras do alfabeto sânscrito. Sobre o ajna, o intercílio, a mente, está o lótus das mil pétalas com o Verbo alcançando seu máximo poder luminoso em torno do hindu Parashiva, outra vez o ponto supremo!
“Assim que — nos lembra Lucas na citada passagem —, sendo todo teu corpo resplandecente, sem mistura de trevas, ele será inteiramente luminoso”. Este somá photeinón deve começar pela abordagem do olho simples, o ain tmimá, que a versão grega denomina ophthalmos aplous considerando-o singelo, honesto, preciso, enquanto que a conotação da palavra hebraica supõe, além do que foi dito, um “estar de acordo”.