Caminho Verdade Vida (Jo XIV, 5-7)

EU SOU — CAMINHO VERDADE VIDA (Jo XIV, 5-7)

EVANGELHO DE JESUS: Jo 14:5-7

5 Toma lhe diz:
«Adôn, não sabemos aonde vais.
Como conheceríamos o caminho?»
6 Iéshoua’ lhe diz:
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao pai, senão por mim.
7 Se me conhecêsseis, conheceríeis também meu pai.
Agora, vós o conheceis, já o viste.» [Chouraqui]


Joaquim Carreira das Neves: ESCRITOS DE SÃO JOÃO

O fato de no cap. 14 surgirem dúvidas a Tomé (vv. 5ss), a Filipe (vv. 8ss) e a Judas (vv. 22ss) é um artifício literário retórico que leva o autor a aprofundar as dúvidas das comunidades joanicas sobre a partida de Jesus e o seu lugar pós-ressurreccional. Pergunta Tomé (Jo 14,5-7): “Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?” (v. 5) ; pergunta Filipe: « Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!”; pergunta Judas: “Por que te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?” O Jesus joanico responde às perguntas, transformando a catequese de simples monólogo em diálogo vivo, bem à maneira socrática.

A Tomé, Jesus dá-lhe uma resposta de sentido absoluto: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim” (v. 6). Esta afirmação tem a ver com a natureza da soteriologia: não há salvação-vida se não passar por Jesus. Não basta acreditar no Pai. De agora em diante não há Pai sem o Filho. Só ele é a Lei final do sentido do divino: Caminho, Verdade e Vida. Estes três predicativos reduzem-se a um único porque os dois kai (e), depois de “Caminho”, são epexegéticos, isto é, explicitam Jesus como único “Caminho” de vida, sentido e salvação. Tal asserção, nos dias de hoje, coloca problemas sérios ao diálogo inter-religioso por causa da verdade das religiões, o qual só se resolve se tivermos em consideração o texto no seu contexto. Os cristãos joanicos são catequizados sobre o “mais” de Jesus e sua relação com o Pai. O “mais” absorve o menos, mas não lhe retira a sua verdade. Os judeus podem continuar a acreditar no único Deus, sem acreditarem no Filho, porque só Deus — e não esta ou aquela Igreja e religião — conhece o fundo dos corações das pessoas. O “mais” dos cristãos não serve para discriminar e condenar. E um dom, uma graça, uma “revelação”. O mesmo se diga da afirmação pelo absoluto: “Ninguém pode ir ao Pai senão por mim”. Sem dúvida que o Jesus joanico está a pensar, por oposição, na Lei de Moisés: não é pela Lei, mas por mim, que se vai ao Pai. O v. 7 reforça a mesma ideia com incidências de sobreposição e confirmação: “Se me tivésseis conhecido (ei egnôkate me, no mais que perfeito) também conheceríeis o meu Pai; a partir de agora (kai ap’ artí) conhecei-lo e vede-lo.”


René Guénon: O EIXO VERTICAL

Observemos todavía de pasada, y simplemente para indicar, como lo hacemos cada vez que se presenta la ocasión para ello, la concordancia que existe entre todas las tradiciones, que, según lo que acabamos de exponer sobre la significación del eje vertical, se podría dar una interpretación metafísica de la palabra bien conocida del Evangelio según la cual el Verbo ( o la “Voluntad del Cielo” en acción ) es ( en relación a nosotros ) “La Vía, la Verdad y la Vida”1. Si retomamos por un instante nuestra representación “microcósmica” del comienzo, y si consideramos sus tres ejes de coordenadas, la “Vía” ( especificada al respecto del ser considerado ) será representada, como aquí, por el eje vertical; de los dos ejes horizontales, uno representará entonces la “Verdad”, y el otro la “Vida”. Mientras que la “Vía” se refiere al “Hombre Universal”, al cual se identifica el “Sí mismo”, la “Verdad” se refiere aquí al hombre intelectual, y la “Vida” al hombre corporal ( aunque este último término sea también susceptible de una cierta transposición )2; de estos dos últimos, que pertenecen uno y otro al dominio de un mismo estado particular, es decir, a un mismo Existencia universal, el primero debe ser asimilado aquí a la individualidad integral, de la cual el segundo no es más que una modalidad. Por consiguiente, la “Vida” será representada por el eje paralelo a la dirección según la cual se desarrolla cada modalidad, y la “Verdad” lo será por el eje que reúne todas las modalidades atravesándolas perpendicularmente a esta misma dirección ( eje que, aunque igualmente horizontal, podrá considerarse como relativamente vertical en relación al otro, según lo que hemos indicado precedentemente ). Esto supone por lo demás que el trazado de la cruz de tres dimensiones se refiere a la individualidad humana terrestre, ya que es en relación a ésta solamente como acabamos de considerar aquí la “Vida” e incluso la “Verdad”; este trazado figura la acción del Verbo en la realización del ser total y su identificación con el “Hombre Universal”.


Michel Henry: EU SOU A VERDADE [MHSV]

Em que sentido, como o Cristo dá a Vida ? Nisto que nenhum vivente não estaria na medida de adquirir a Vida se esta não lhe tivesse sido transmitida como Vida tendo já recebido em si a forma da Ipseidade, marcada do selo indelével desta. Pois é somente uma Vida desta espécie, uma Vida originariamente ipseizada que é da natureza a tornar viventes os viventes que somos — viventes que são eus transcendentais capazes de crescer em sua própria carne, de se acrescer a cada instante de seu ser, e isto neste Si que receberam ao mesmo tempo que a Vida. Só aquele que passou sob o Arco triunfal da Arque-Ipseidade pode ir e vir e encontrar pasto, ser uma destas ovelhas que pastam no redil (Pastor e Ovelhas).

O nascimento transcendental do vivente recebe aqui de maneira certamente explícita sua determinação precisa: de ser um Vivente na Vida sem dúvida e por ela somente. A vida dá lugar a todo vivente concebível. Assim contem ela a priori em sua essência a multidão indefinida de todos aqueles que ela pode chamar à vida. “Na casa de meu Pai, há moradas em grande número”. Mas cada uma destas moradas é semelhante ao redil onde pastam as ovelhas. A cada uma não há entrada senão o Arco da Arque-Ipseidade. A Vida ipseizada na Arque-Ipseidade do Arque-Filho prepara o lugar de tal maneira que um lugar está pronto para todo o vivente concebível enquanto eu vivente — enquanto chegando nele mesmo na Ipseidade deste eu; e isto porque vivento de uma Vida alcançada em si na Ipseidade original do Primeiro Vivente. “Daqui me vou preparar o lugar. E quando… vos tiver preparado o lugar, voltarei e vos tomarei junto de mim a fim que lá onde estarei vocês também estejam”. Assim não há lugar para um vivente na vida senão se esta se edificou previamente em si como uma Ipseidade na qual somente o vivente que vive desta vida ipseizada é doravante possível como um eu vivente. No final das contas, não há lugar onde quer que seja senão para um tal eu.

A parábola conduz aqui além dela mesma. Ela permite entender a palavra que fala sem parábola, antes de toda parábola, aquela que tem e reúne nela as tautologias decisivas do cristianismo: “Sou Eu o Caminho, a Verdade e a Vida”. A identidade dos quatro termos é aqui posta: Eu = Caminho = Verdade = Vida. Quanto à última identidade, Verdade = Vida, já estabelecemos longamente. É a tese fundamental de uma fenomenologia da vida. Segundo esta fenomenologia, a fenomenalidade se fenomenaliza originariamente em uma auto-afeção patética que define a única auto-revelação concebível, auto-revelação na qual consiste a essência da vida. A Vida logo — e não em seguida a abertura de um mundo na ek-stase do “do lado de fora” — constitui a Verdade original, a fenomenalidade original. A Verdade = a Vida.


  1. A fin de prevenir todo error posible, dadas las confusiones habituales en el occidente moderno, tenemos que especificar que aquí se trata exclusivamente de una interpretación metafísica, y de ningún modo de una interpretación religiosa; entre estos dos puntos de vista, hay toda la diferencia que existe, en el islamismo, entre la haqîqah ( metafísica y esotérica ) y la shariyah ( social y exotérica ). 

  2. Estos tres aspectos del hombre ( de los que, hablando propiamente, solo los dos últimos son “humanos” ) son designados respectivamente en la tradición hebraica por los términos de Adam, de Aish y de Enôsh.